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Artigos-->De palavra em palavra -- 08/12/2003 - 10:33 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No sexto dia, “Deus criou o homem à sua imagem” (Gênesis 1. 27). Depois, “Javé Deus formou do solo todas as feras e todas as aves do céu. E as apresentou ao homem para ver com que nome ele as chamaria: cada ser vivo levaria o nome que o homem lhe desse. O homem deu então nome a todos os animais, às aves do céu e a todas as feras” (Gênesis 2, 19-20). Eis a versão bíblica do surgimento das palavras humanas – “humanas”, pois palavras divinas já existiam, já que, antes mesmo de criar o homem, no primeiro dia, segundo Gênesis 1, 3, Deus disse: “‘Que exista a luz!’ e a luz começou a existir”. Esta é a concepção com maior número de adeptos no mundo ocidental sobre a origem da comunicação oral. Outras explicações existem, de outras crenças.

Os antropólogos, contudo, prescindem de mitos para sua versão: Os humanos formaram, desde o seu surgimento, diferentes línguas. O vocabulário se expandiu e palavras foram mudando de sentido, expressões foram cunhadas para atender às necessidades do desenvolvimento social e econômico dos vários grupamentos. Foram criados os símbolos gráficos.

A história escrita ainda não conta 8 mil anos de existência. É pouco: grande número de espécies de hominídeos, como o Australopithecus, surgiu, na África, há coisa de 5,5 milhões de anos. Cerca de 3 milhões de anos depois existiram o Homo habilis ("homem habilidoso") e o Homo erectus ("homem ereto"), que desenvolveram a linguagem falada complexa, a construção de ferramentas, as vestimentas, o fogo, a cocção dos alimentos etc. Seus sucessores, o Homo sapiens neandertalensis, surgiram há 300 mil anos, e o Homo sapiens sapiens (homem sábio sábio, como modestamente nos denominamos) existimos há 120 mil anos.

Desenvolvemos as representações simbólicas, como a arte pictórica, a escultura e a música, os adornos corporais, as armas de guerra, a medicina, a domesticação de animais, a agricultura e as crenças espirituais (superstições mágicas, ritos funerais, religiões). Estamos desenvolvendo, a duras penas e sem muita credibilidade junto à maioria de nossos iguais (embora com inigualáveis resultados práticos para a sobrevivência e longevidade da espécie), a ciência – a tentativa de encontrar e compreender as regularidades, as leis naturais que nos permitam atuar de modo eficaz no mundo em que vivemos.

A língua, falada e escrita, é obra de toda a sociedade, resultado do esforço de milhares de gerações. Questões lingüísticas foram abordadas pelos gregos Protágoras (cerca de 492 - 422 aC), Demócrito (cerca de 460-370 aC), Platão (cerca de 428/7-348/7 aC) há mais de 2 mil anos. Muitas das interrogações que faziam esses pensadores são ainda repisadas nos dias de hoje. No seu diálogo Crátilo, por exemplo, Platão discorre sobre a relação entre as coisas e os nomes que lhes são dados: são eles inatos ou dependem da convenção?

Um rio é chamado “rio” por um acordo qualquer entre os humanos ou algo na sua natureza impõe esse nome? As onomatopéias, por exemplo, são espécimes de palavras com relações objetivas com aquilo que significam (blém-blém; bibi-fonfom, tiquetaque, atchim). Masaru Emoto, atualmente o principal divulgador da crença na “memória da água”, diz que o cristal de água reage a palavras como “alma”, “demônio” e “obrigado”, pois elas são “um fenômeno vivo. Eu acho que os sons revelam vibrações da natureza. Foi assim que surgiram as palavras: elas evoluíram dessas vibrações”.

Mesmo em assunto tão específico, as concepções de mundo idealista e materialista se contrapõem e apresentam diferentes versões. Para os antropólogos, a língua é produto do desenvolvimento histórico e vai se desenvolvendo e aprimorando. Vai também se cristalizando: palavras como “água”, “montanha”, “cantar”, “trabalhar”, nos vários idiomas em que são utilizadas, têm correspondido bem, milenarmente, à aplicação que lhes são dadas. Por isso são mantidas em uso – e não por revelarem “vibrações da natureza”.

A língua está ligada a todas as esferas da atividade humana. É um produto social e a defesa de suas características nacionais se insere, também, na defesa de valores próprios de cada povo e cultura. Quando cultores da “globalização” se levantam contra a defesa da língua portuguesa no Brasil, por exemplo, esquecem-se de que, no século terceiro antes de Cristo, os próprios gregos trataram de preservar sua língua natal, helenística, frente às influências de povos de diferentes etnias e línguas com as quais estavam tendo contato, o que os levou a estipular normas para sua pronúncia e escrita. Foi em defesa da língua grega, contra influências indesejáveis, que Dionísio Trácio — que viveu entre os séculos II e I antes de Cristo — escreveu a primeira gramática, traduzida pelos romanos como ars grammatica – obra que se tornou patrimônio de gregos e troianos, ingleses e chineses, brasileiros e hindus, patrimônio da humanidade.



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