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Contos-->Luisa e Miguel -- 17/04/2000 - 23:00 (Marilene Caon pieruccini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LUÍZA E MIGUEL

Quando Luísa chegou, Miguel já a esperava...
Era verão. Os sinos da Matriz de São Pelegrino tocavam, anunciando as doze horas.
O calor daquele dia não era nem tão modorrento, nem tão intenso; havia muitos resquícios de umidade no ar. Pequenas gotas da chuva caída na madrugada anterior, teimavam em escorrer, devagar, pelos vidros, engrossando-se umas as outras... Pareciam pingos de prata liqüefeita, brilhando nas vidraças, onde o Sol, ao tocar com seus raios fortes, provocava reflexos multicores, ensaiando um número incontável de arco-íris.
Havia muito brilho e muito suor, desenhando retalhos de cetim por entre as faces, braços e peitos daqueles que passavam, preocupados, apressados, viajantes da vida e da morte, vencedores do tempo.
Quando Luísa chegou, Miguel já a esperava...
Fora através de um “Fax”, que ela anunciara sua vinda, lá pelos meados daquele Janeiro, porém não precisara a data certa... Apenas afirmara que chegaria, estivessem todos, ou não, a sua espera.
Bastava-lhe que Miguel a esperasse; com os outros, ainda não se importava muito. Aliás, aprendera desde muito cedo a não confiar demais em alguém, que não fosse nele, sempre nele. Ele não a conhecia. Contudo, sabia dela pelas notícias recebidas, pelos beijos, abraços e carinhos que trocavam, através dos meios de comunicação acessados... Mas alguma coisa, em seu íntimo, estranhamente, lhe dizia como ela deveria ser: imensos olhos azuis, irisados de dourado, confundindo-se com tons de verde, talvez um pouco mais profundos do que os dele, que eram claros e límpidos como as manhãs da primavera; os cabelos, esses sim, de um castanho quente, macios como veludo, tão diversos dos seus, que eram louros tanto quanto um trigal maduro, mas que insistiam em redemoinhar-se ao sopro da mais suave brisa. E a pele? Com certeza era rosada como maçãs em plena maturação. Nisso, seriam também bem diferentes, pois a sua era curtida pelos verões vividos à beira-mar, enquanto a dela, tão delicada, sempre fora bem protegida das mudanças de temperatura. Supunha, então, que ela deveria ser sedosa, aveludada ao toque e cheirando a amoras silvestres.
Quando Luísa chegou, Miguel já a esperava...
Embora ele só adivinhasse como ela seria, ela sabia exatamente como ele era! Conhecia seu jeito folgado de ser, a maneira como costumava abrir os braços sob a cabeça, estendendo-se qual um felino, aprontando-se para o pulo sorrateiro, enrolando-se, depois, como um urso preguiçoso... E, ao ouvir todas aquelas vozes, que lhe chegavam via moderna “Internet”, reconhecia a dele, à léguas de distância; às vezes, alta como o soar de um trombone, às vezes, baixa, parecendo um murmúrio. Agitava-se muito, quando imaginava que ele chorava, talvez por saudade, talvez por amor. Quase que podia identificar seu cheiro entre os tantos, que lhe penetravam pelas narinas trêmulas...
Às vezes, angustiava-se. Principalmente durante a noite, quando as comunicações eram encerradas e ela perdia todo o contato com a realidade dele. Temia que o tempo demorasse muito a passar e ele, cansado de tanta espera, esquecesse dela, que tardava tanto em chegar. Outras vezes, decidida, achava que quanto mais se fizesse desejar, mais e mais seria ansiosamente aguardada. (Memórias da raposa, quando aconselhava “ O Pequeno Príncipe”...)
Dias sucederam-se a dias, meses vieram após meses e, então, aquele quatorze de Janeiro, sem pompas e sem mistérios, enfim chegou, desdobrado dentre os inúmeros contratempos do tempo.
Era o dia que havia sido programado para a sua tão esperada viagem. Teve medo. Entrou em pânico. Questionou até se valeria mesmo a pena lançar-se nessa temida aventura, ao encontro do desconhecido. Chamou por ele, mas não foi ouvida.
Sentiu-se abandonada.
E esse sentimento de abandono deslocou-a para o vácuo! A turbulência do vôo sacudiu-a, jogou-a para todos os lados, espremeu-a até mais não poder, fazendo-a sofrer.
Doeu demais.
Ficou muito triste, quis voltar...
Um relâmpago fulgurante, um ruído estridente. Foi agredida!
Frio, dor e angústia, tudo isso de repente e tudo só de uma vez.
Ela então, pela primeira vez, chorou, um choro chorado, sentido, cheio de lágrimas salgadas e quentes, escorrendo pelas faces tenras, penetrando-lhe pela boquinha entreaberta... Sentiu o pânico da solidão, a amargura do desamparo.
Onde estava Miguel?
Ele, quando enfim a viu, através do vidro do berçário, sentiu crescer em seu peito de criança, um afeto muito especial pela rechonchuda menininha, sua irmã, que acabara de nascer.
Quando Luísa chegou, Miguel, há muito, a esperava!


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