Eu, Bidião resolvi conhecer a Paróquia do Salve quem Puder lá pelas bandas da Paraíba. A cidade vivia um caos por falta d´água resultante de uma seca que já durava mais de trinta anos. Como eu conhecia o pároco que estudou comigo no seminário, resolvi colaborar com as atividades de arrecadação de donativos para os moradores necessitados. Conheci uma família que tinha 7 filhos e entre eles, havia um menino que fazia de todas as necessidades que enfrentava com os pais e irmãos, um repente. Era conhecido como o menino prodígio por sua maneira de converter a miséria à volta, em arte. Fui então conhecer o artista mirim que tratou de improvisar um repente tão de repente que emocionado fiquei. Era mais ou menos assim:
" Ó Padre Bidião
O senhor tá vendo
Que aqui, fartura não há
A não ser que, algum irmão
Tipo o senhor Bidião
Venha cá nos dá
A enxada tá de férias
E da terra, nada brota
Agora senhor Bidião
Chega aqui
Abençoa com perdão
Essa gente sem um pão "
E assim me vi num mato sem cachorro ao ver o pequeno artista a dar-me um soco na boca do meu estómago oco e vazio da fome alheia. Segui então, colaborando e paraibando nas terras daquela gente com uma experiência de vida amarga, mas com a capacidade de converter de repente, tudo na arte do repente.