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Contos-->Desejo Oculto -- 17/04/2000 - 22:58 (Marilene Caon pieruccini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DESEJO OCULTO


Fora uma noite longa, lenta e rotineira, povoada de sonhos, roncos e pesadelos.
Mais uma daquelas tantas noites, em que ele se afogava numa oculta paixão, que ela não via, não supunha e nem ele lhe revelava. Só achava consolo no silêncio da espera.
Por ela procurava na melodia das canções de amor; sua pegadas a seguindo sempre, incansável, até que a esperança do encontro se perdia em algum prosaico cruzamento das estradas por onde andavam. Escondido e ignorado, se desvelava por ela, que não o via. Seu desejo era um segredo, que ninguém, ao menos, tentava conhecer.
Quase invisível em seu querer, como é olhar o céu ao amanhecer, quando o Sol ainda está abaixo da linha do horizonte e as extremidades do mundo se abrem em direção à luz, ele ansiava, que ela assim também se abrisse em direção ao seu amor.
E todas as manhãs, todos os dias, todas as noites, se decepcionava. Via-se como um arquivo morto, mofado, cheio de teias de aranha e traças, que jamais alguém iria abrir.
Já não sabia mais que rosário de penas era sua vida. Perdia-se no infinito e sentia o coração apertado, porque nunca conseguia alcançá-la em seu informal mundo de formas informes. Permanecia horas e horas, imaginando como seria, quando ela, finalmente, descobrisse que ele existia... Sonhava... E seu sonhar tinha o sortilégio mágico e imortal do amor.
Desejava. E seu desejo o consumia sem dó e sem piedade.
O desejo superava a expectativa, pois fazia parte do encantamento, sua complementação.
A ameaça da derrota assombrava o longo tempo de espera, qual cavaleiro apocalíptico, escurecendo com suas sombras nefandas o que deveria ser a iluminada esperança do alvorecer de sua paixão. Travava-se uma dura batalha do amor contro o tempo: a vitória, às vezes pendendo para um lado, outras vezes para o outro, ocultando uma clara definição de quem seria o vencedor e quem seria o vencido. Luta sem tréguas, indefinida, que lentamente o ia depauperando.
Mas havia fé! Uma crença bendita, cuja chama trêmula luzia, apontando sempre para um momento encantado, que embora se mantivesse distante, ia sendo lentamente organizado pelos viajantes da vida e da morte, vencedores dos contratempos.
Alguma coisa, dentro de si, lhe dizia que ela haveria de se entregar a esse tão intenso amor, por enquanto só uma esperança platônica; e esse dia ele declararia feriado nacional, comemorando-o com toda sua alma e para todo o sempre, porque seria único... Depois, nada mais haveria de ter a mesma importância, o mesmo significado, já que, nunca mais, seria aquela vez. Pensava no dia, mas podia ser também numa noite, na qual os sonidos misteriosos de invisíveis guitarras a predispusessem à paixão...
Sobrevivia e vivia nesse desejo oculto, até que, de repente, intuiu ser ele agora a bola da vez. Preparou-se com o esmero do enamorado, que aposta tudo no seu primeiro encontro. Aproximou-se dela. Escutava-se no ar os sons eróticos do Bolero de Ravel.
Insinuante, foi acarinhando-a, umedecendo-a e sendo umedecido por longos beijos. Apressado, mas com carinho, começou a tocá-la, sempre e cada vez mais, sentindo sua resistência aos poucos diminuir. Tão longa fora a espera que, afoito, jogou-se para a frente, determinado, firme, viajando pelo mapa do corpo dela, individual e sem ternura. Enfiava-se fundo, voltava, retomava seu destino, vibrava, enquanto ela, lótus aberta, o atraia cada vez com mais paixão. Corpos suados, engalfinhados na luta do amor, caminhavam pela estrada sem volta do êxtase. Percebeu nela a disponibilidade que se insinua, quando não se quer mais por si mesmo, mas se deixa o desejo querer. Emocionou-se. Imaginou-a como uma taça prestes a ser enchida. Desde sempre soubera para onde devia ir e agora, simplesmente, ia. Finalmente, viajava a viagem sem volta do prazer.
Aproximava-se o grande instante. Reuniu suas forças para o arranco final. Retesou-se. Penetrou mais e mais.
E explodiram ambos em faíscas violetas, extenuados, derretidos, transformados, um espermatozóide fecundando um óvulo, criando nova vida.
A jovem mulher, alheia ao que se passava em seu interior, mordiscava preguiçosamente a ponta da caneta, calculando o preço da gasolina, que subira outra vez..






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