O poeta e o palhaço._António Zumaia/O Poeta Palhaço_Maria Petronilho
O poeta e o palhaço.
O poeta e o palhaço,
ambos nos fazem sorrir;
acolhem em seu regaço,
a beleza do porvir...
Ri o palhaço que chora ...
O poeta o seu desgosto ...
Que em seu coração mora,
Por um amor já deposto.
Mas , ri palhaço e ama
loucura da tua vida,
nessa tristeza que é chama...
Canta poeta pela querida,
teus poemas lhe declama,
para amenizar tua ferida...
Sai palhaço da tua dor,
dá alegria e amor...
Sai poeta do que viveste,
és amor ... tu já esqueceste.
António Zumaia
Sines – Portugal
21.11.2003
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O poeta Palhaço
Maria Petronilho
Poeta, conto-te um caso
Que conheço bem de perto:
Era uma vez um palhaço
Pobre e roto, caricato
De narizinho redondo
De um carmesim esfolado.
Entrava em cena quando
Nos bastidores do circo
Se maquilhava um outro
Que usava fato bordado
Riso pintado no rosto
Chapéu como o de Tartufo
Cantava em voz de contralto...
O palhaço de que falo
Voava em cada salto
Como se o levasse um sonho
Não se ria no entanto
E ficava sempre mudo.
Quando se achava no escuro,
Ficava vazio o circo,
Encolhia-se num canto
Abria a voz de seu pranto
E sozinho, libertado,
Tirava um papel do bolso
E, com o dedo lambuzado,
No suor do próprio rosto,
Ia escrevendo, escrevendo
Em poemas, seu calvário
De pobre palhaço risonho,
Enfim assumindo o vulto
Dessoutro sério, tristonho.
Encolhido no seu canto
Descobria enfim o choro
Do ai profundo, seu Fado
Ser poeta alistado
De peito dilacerado...
Esquecendo então ser mudo
Soava o alto carpido
Estremecido, enfim solto.
Mau grado tendo o pano
Da tenda para abafá-lo
Soava tão dolorido
Que alarmava todo o povo
Perturbando-lhe o sono
Mal o amanhecia o dia
Punha-se a varrer a areia
E ao papel que escrevera,
Usando a tinta da cara,
Em confetes o rasgava
Ia enfim lavar a cara
E de novo, pintalgava
um semblante de alegria.
Tomava assento a plateia
Entrava o palhaço em cena
... No brilho da noite, ria!
Almada, Portugal,
26/11/2003
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