1.998 – Desenlace

Estava no terraço processando um pouco de vitamina D, que anda abaixo do normal e por sugestão da Doutora Diana eu devo ficar tomando sol por uma meia-hora pelo menos nos finais de semana. Enquanto eu me queimava eu pensava no desenlace, pelo qual estou passando e antes de continuar vejam uma descrição do Wikipédia: “Desenlace é o momento final de certa narrativa, conto ou fábula em que tudo se esclarece também chamada de conclusão ou simplesmente final. O desenlace não ocorre necessariamente em todas as narrativas, porque não é um elemento fundamental.”.

A minha narrativa começou em setenta e um quando saí de São Miguel para estudar em Itapetininga e depois São Paulo, mas ela não terminou ainda. Está terminando parte dela, que é o encerramento da empresa, na qual sou sócio. Esse é um desenlace que vai longe, pois fechar uma empresa dá trabalho, depois eu contarei. Por enquanto, com uma ligeira edição transcrevo um texto que recebi da Iriana a respeito:

“Sabe quando a gente se prepara para ter uma situação na vida, aí vem uma entidade e tudo o que está tratado, fica destratado. Confuso? Também acho, mas acontece. Todos nós temos vontade de dar uma guinada na vida. Aí tira um período sabático, pensa, pensa, repensa, e muda. Posso ser sincera, acho que bem poucos têm coragem de, do nada, mudar uma situação que parece estar estável e da qual temos, ou achamos que temos todo o controle, porque quando a gente tem o controle das coisas, sabemos cada passo a ser dado, dia e hora e até o resultado. Tudo muito cômodo e tranquilo.

Continuando na linha da sinceridade, acho que a entidade olha de algum lugar e fala, hum está tudo muito certo, é hora de mudar. Ai não tem jeito, ou a gente muda ou muda, não tem escolha. E agora o que fazer? Tem que desmontar acampamento e seguir viagem. Ou porque a chuva levou tudo, ou porque o vento destruiu, ou porque alguém de algum lugar resolveu fazer a coisa diferente e essa onda atingiu meu acampamento. Que merda!

Dá vontade de chorar. Mas passa, tem que seguir. Ao desmontar o acampamento, quantas situações nunca vividas aparecem, a gente não tem nem noção, porque cada um enfrenta com as armas psicológicas reunidas na vida. Tem que despedir das pessoas que até aquele momento seguiam na mesma viagem, tem que acertar com o dono do terreno onde tudo estava montado, tem que acertar com aqueles que colaboravam para que o acampamento funcionasse bem, nossa quanta providência, o tempo cada vez mais curto, afinal é hora de partir e como tudo é muito dolorido, quanto antes melhor.

Uma lista de providências, isso mesmo, fazer uma lista nos dá a impressão de que começamos a ter o controle novamente e é verdade temos mesmo: primeiro me despedir dos que moravam no acampamento e ajudavam na labuta diária, mesmo porque eles também têm que seguir suas vidas. Em seguida se despedir de colaboradores indiretos, mas importantes para o funcionamento do acampamento.

Ainda seguindo a lista, veio a vez do dono do terreno onde o acampamento estava montado, têm outras pessoas e outras providencias que estão na lista pra serem derrubadas uma a uma e não dá para saber quanto tempo dura a transição, o fato é que a mudança está acontecendo e com ela a libertação de uma situação esgotada. Se vai ser bom ou não, o tempo dirá.”.

O texto dela reflete uma preocupação de quem acompanhou e participou dessa parte da minha narrativa que foi a empresa, quando a tiramos de um atoleiro em que se encontrava e a transformamos numa empresa melhor. A entidade mencionada por ela é claro que deve ser a economia por qual passamos e que não tem ajudado ninguém. Contudo, neste domingo doze de onze de dezessete, eu acho que não é só isso não. Quando iniciei a reconstrução da empresa com meus dois sócios, de fato, foi uma construção, pois ela estava quase zerada e essa construção nunca parou e o incrível que nem agora está parando, já que mesmo parando temos a construir a melhor desconstrução, ou o melhor desenlace.