O escritor alemão Friedrich Dürrenmatt publicou Justiça em 1985, na Alemanha. É a história de um juiz que mata um conhecido na frente de dezenas de pessoas, em um restaurante. O protagonista é preso mas contrata um advogado iniciante que acaba ajudando-o a provar sua inocência. O juiz prova que por ausência de motivo é inocente. Prova além disso que um inimigo, esse sim, foi o autor dos disparos que todo mundo o viu fazer.
O livro virou filme, sendo este tão ou mais perturbador que a obra original.
Lembro-me de haver lido o livro em espanhol no começo dos anos 90 e o filme, logo depois. Jamais um livro isolado atingiu-me tão em cheio. Mesmo O Homem Sem Qualidades, de Musil, ficou a dever a esse respeito.
Até hoje parece-me que Dürrenmatt foi dos poucos a criticar o procedimentalismo jurídico de forma a 1) mostrá-lo inviável nos seus fundamentos e 2) desvelar a rudeza do mundo real em oposição a ele. De certa forma posso orgulhar-me de, em vida, ter conseguido criar situação semelhante para colocar à vista de todos a pusilanimidade das instituições. A bom entendedor, o episódio tem a ver com uma certa biblioteca.
Dürrenmatt, que faleceu em 1990, também escreveu Vale do Caos (Companhia das Letras).