E lá estava o homem tentando assoar o nariz. Passaram-se cinqüenta anos, mas ele ainda não conseguira espirrar. O nariz coçava e quando chegava a vontade, a hora derradeira!... o espirro fugia e só lhe restava os olhos cheios de água e uma raiva guardada.
Ele queria espirrar de qualquer modo. Começou a fazer de tudo para espirrar. Uma vez pegou as almofadas guardadas de sua casa, os tapetes, os cobertores e dali retirou a poeira. "Substância sagrada". Aspirou. A vontade se aproximava e parecia vir com força. Mas no instante em que parecia mais viva, foi sumindo devagarinho. E o homem voltou à sua situação original. Uma nuvem de poeira ainda pairava em volta daquele corpo.
O homem agonizava a vontade de espirrar. Tentava todas as formas e nada. Os amigos viram sua forma alterada e deixaram-no só. Olhos cheios de água! Espirrar!? Chorar!? O homem estava só e não conseguia sair de casa. O homem começou a ouvir do nada, espirros. Pessoas espirravam no quarto ao lado e riam! "Mas quem espirrava não era doente?" pensou. Ele começou a ter sonhos em que passava dias espirrando. Saboreava cada espirro, mas no final do sonho... Ele não se lembrava. Não se lembrava dos finais dos sonhos. Estranho?
Ele foi ficando mais velho e nada. Até que aos sessenta e seis anos ele sentiu que estava pronto para espirrar. Ele sentiu dentro da sua alma a vontade chegando. O ano foi passando, e quando chegou novembro, ele espirrou. Ele sentiu um prazer enorme chegando, e ao mesmo tempo, da sua boca, saíra uma mariposa, voando. Saíra voando. Ele a viu voando e ao mesmo tempo que sentiu nojo, também sentiu alívio. Deitou em sua cama. E a sua alma descansou.