Achei uma chave...
Achei uma chave, que parecia de um cadeado. Quem seria o dono? O que ela poderia abrir? Um armário, um locker, uma vida? Poderia ela abrir a porta que desvenda os mistérios?
Mistérios de alguém — que não conheço, que nunca vi.
A chave que abre, que invade, que desvenda — uma vida, uma história, um mundo—que pode ser belo, assustador, ou até imundo. Na calçada que se estende no meu caminho, encontrar a chave do amor, por sorte ou destemor, por acaso ou descaso. A negligência cruel do descaso. A lerdeza de quem vive no seu próprio planeta, que vive no seu imenso cantinho paralelo—um mundo perfeito, encantador, belo.
A chave caiu. Alguém a perdeu. Eu a encontrei, e imaginei, e sonhei, e me arrumei. Ela precisa reencontrar a porta do mundo que trancou, a intimidade que bloqueou, os sonhos que ocultou. Quer penetrar na fechadura—dura. Encaixar. Girar. Fazer vibrar o buraco, fazer tremer a porta—gozar—e abri-la, já torta, retorcida em suas dobradiças.
Ao girar a maçaneta, surge à frente um outro planeta, uma outra dimensão, uma canaleta—que desce rumo às profundezas, levando a água, o barco, a mágoa. E, na caverna escura, um lago azul, uma noite crua. O monstro te espera no fundo do lago, junto com a sereia, que te encanta, que te lisonjeia.
A sereia beija o monstro—seu amor. Você é devorado, comido, destroçado! E a chave se esconde no coral, no fim do canal, no marisco. E acordo-te, com um belisco.
Ipanema, Rio de Janeiro, 07 de outubro de 2017.
Por Leandro Tavares
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