“Se tu vencesses Calabar.
Se em vez de portugueses,
- holandeses !?
Ai de nós!
Ai de nós sem as coisas deliciosas
que em nós moram:
redes,
rezas,
novenas,
procissões, -
e essa tristeza, Calabar,
e essa alegria danada, que se sente,
subindo, balançando, a alma da gente.
Calabar, tu não sentiste
essa alegria gostosa de ser triste!"
(Jorge de Lima)
"...Essa alegria gostosa de ser triste!"
Contida... mas imatura.
Que pena que amadureça
Tornando-se fria e dura
Tornando-se opaca e escura
A límpida natureza!
Assim serei eu, portuguesa
Que antiguidade circula
Em minhas clássicas veias
Feitas de tanta mistura!
De línguas entrelaçadas
De ruelas estreitinhas
De velas azuis e brancas
De receitas tão só minhas
Que fazem de pão com ervas
O aroma das cozinhas
O deslumbre das papilas!
Tendo nascido num porto
Dos mais ancestrais do mundo,
Afaço-me ao mar... e canto!
Almada, 14/11/2003
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