O papa do gaio na vitrine soava repetidamente a poesia que no bico afiado, vivificava cada palavra. A língua do Psittacidae é a mais viva do que a dos imortais das letradas academias, pois pertence a naturalidade do ser sem necessitar de cadeira ou chá para iniciar qualquer atividade literária. Não gosta da algazarra que os louros provocam na vaidade. Sempre observando o ir e o vir dos transeuntes, capta cada imagem como um fotógrafo e adequa à visão surreal que tem a respeito do real que desfila por entres os holofotes do ego. Tem um saber poético que a tudo poetiza de forma que os mais variados assuntos se tornam imensamente provocantes a reflexão por fugirem à mesmice da regra geral poética, enaltecendo a especial que revela a beleza por não ser generalizada.
O papagaio então, na poesia de sua existência não abre mão da autenticidade de somente ser, inspirar e expirar a poesia do sentir em cada palavra.