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Cartas-->Carta do Cabo Anselmo: Direito à Verdade -- 10/08/2009 - 08:26 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quero apenas o Direito à Verdade

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net

Por José Anselmo dos Santos

Prezado Dr. Luciano Blandy: Sem saber que novos ataques virão no amanhã ou se ainda estarei com vida, solicito-lhe a gentileza de repassar essa carta ao jornalista Jorge Serrão, com a segurança de que o mesmo a publicará na íntegra.

Por ser uma carta aberta, pode passar também para o jovem jornalista Lucas Ferraz, da Folha de São Paulo, jornal que, nos últimos dias abriu espaço para manifestações que fixam no imaginário dos leitores, as inferências tendenciosas do Ministro da Justiça, as opiniões no mesmo sentido de um velho jornalista, Jânio de Freitas e outras matérias, cujo sentido é apavorante, traçando o perfil de um homem que não conheço, um mito construído para esconder intenções e verdades que o senso comum não alcança.

Esta persona a quem apelidaram de “cabo” Anselmo e que o jornalista Jânio de Freitas denomina “O dito...” que fez “milimétricas e tortuosas narrativas”... que “mais o comprometem, pelo que omitem, do que atenuam o horror humano que suscita, pelas traições e mortes que seu nome lembra como reação automática”, tem consciência de que numa carta, é impossível reverter os quilômetros de inferências, suposições e mentiras escritas na biografia do mito a quem atribuem traições e mortes.

São quilômetros de páginas lavradas por “gente da esquerda” que tem suas razões ideológicas e visão de mundo para manter acesa a chama do ódio vingativo. Uns poucos, dos que carregam o rótulo de “direita” ou “esquerda”, discorreram sobre os fatos de modo racional e lógico.

Poucos sabem ou lembram que os serviços de inteligência anotaram informações, algumas até colocando-me em dois lugares ao mesmo tempo, outras fantasiosas, até o ano de 2008. Sendo motivo de vigilância tão restrita, jamais poderia ser um “agente” dessa comunidade tão fechada, secreta. Em nenhum momento feri, matei, assaltei, seqüestrei. Todos os que conviveram comigo nos dois anos mais difíceis da vida, sabem disto.

Carrego desde a infância uma verdade axiomática: “Memento homine quia pulvis eris et in pulveris reverteris”. E também um conselho mestre que hoje identifico como o sentido que guiou minha vida: “Amai-vos uns aos outros”. Isto pesou nos momentos de escolha, para valorizar a vida, tolerar diferenças e respeitar humanamente os que, momentaneamente, em situações limite, me cercavam.

Não os julgo por suas escolhas, nem pelos resultados de suas escolhas. Assumo a responsabilidade por escolhas certas e erradas e entendo o resultado da parte trágica da vida buscando eqüidistância dos extremos.

Mas me preservo o direito humano de pensar livremente: nem os comunistas, nem os oligarcas, nem os ditadores, nem aqueles que diziam ou dizem defender o bem comum, o “povo”, as “massas”, mostrou coerência e competência, inteligência e vontade para realizar o bem comum.

Parte sempre minoritária do grande contingente humano, em toda a história, foi mobilizado para servir a uns poucos senhores e em raros momentos viveu a plena liberdade de uma democracia de direito, cujos representantes na gerência do Estado não se colocassem acima das Leis.

Reconheço a existência de um poder obscuro e avassalador que limita e impede a realização do bem comum. Não sou nenhum David, para desafiar o gigantismo desta entidade, nem profeta, nem libertador, nem herói e também não aceito a pecha de traidor tal como atribuem ao mito que criaram.

Cada homem faz as melhores ou piores escolhas a cada instante. Escolhi entre ser partícipe da mobilização para espalhar os crimes intrínsecos de uma guerra civil, a serviço de um internacionalismo imponderável. Erro da juventude apaixonada, ignorante e manipulada.

Preso, escolhi facilitar o trabalho do Estado. E não foi uma escolha consciente no primeiro momento. Foi imposta sob porrada, tortura e um mergulho abissal, premido entre os extremos de uma violência que, de um lado tentava perpetuar-se envolvendo toda a gente que ainda preservava suas crenças, seus costumes e seu amor à vida e à família.

Do outro lado o Estado de fato e de direito que se opunha com violência de igual ou maior intensidade para barrar a intenção de uma ideologia, cujos resultados práticos, lições de extremismo, prepotência sanguinária e desrespeito à vida e liberdade, havia conhecido durante os dois anos de treinamento guerrilheiro e “prisão domiciliar aberta” na ilha de Cuba.

Talvez por tentar ser livre, não agradei aos seguidores da ideologia esquerdista, nem aos da direita, com os quais contribuí temporariamente, premido pela situação de prisioneiro, para barrar o desastre de uma guerra civil intentada, não para restaurar a plenitude do Estado democrático de direito que nunca conhecemos no Brasil, mas para impor um Estado totalitário, a ditadura de um partido único, a pior, mais sofrida e sanguinária escolha.

Os “crimes” que atribuem ao mito “Cabo Anselmo” foram executados de fato pelos que assaltaram bancos, seqüestraram pessoas, aviões, colocaram bombas, treinaram e se armaram e atacaram pessoas indefesas, antes da reação violenta dos profissionais encarregados de manter a ordem e o ambiente pacificado para o exercício produtivo, ampliando as liberdades, como ocorreu no momento em que o governo militar decretou a Anistia.

Escolhi ficar na sombra. Havia percebido as paixões e radicalismo nos subterrâneos de ambos os lados daqueles eventos. E no fundo da teimosia, minha busca humana era diferente e hoje a identifico como a ansiedade por ver e viver um Brasil independente, gerido por homens ilustres com autoridade moral suficiente para construir o que hoje identifico como um estado democrático de direito.

Todos os que participaram daqueles dias violentos e aterrorizantes, TODOS, carregam cicatrizes traumáticas e incuráveis. Uns buscam perdoar-se e entender os desvios e as contradições dessa história. Outros intentam deturpá-la para firmar seus imutáveis e intolerantes pontos de vista e crenças fanáticas. Uns poucos, acima de tudo isso e iluminados por saber filosófico e científico superior buscam situar o entendimento da história no contexto universal e verdadeiro.

Não sei até quando e se algum dia a gente alcançará estágios superiores de civilização com liberdade. Mas entendo que até o momento, vale o ensinamento de Platão, que define a Lei, como “interesse dos privilegiados”.

É assim que, na condição de uma pessoa que não existiu de direito por mais da metade da vida, estou convicto que fiz as escolhas possíveis no sentido de preservá-la. Não obstante a manipulação sofrida no caminho da ignorância e desinformação, estive ao lado dos desesperados. Vivi a vida do modo como me foi permitido vivê-la. Continuo atribuindo à vida o sentido de veneração ao Criador e respeito às criaturas. É uma missão difícil.

Através do meu defensor, Dr. Luciano Blandy, tenho recebido diversas solicitações de entrevistas. Atenderei a todos, no momento em que o Estado me permita existir de direito. E ainda espero que a Lei seja cumprida em toda a sua plenitude.

José Anselmo dos Santos, 8 de Agosto de 2009.



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