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Cartas-->ALGEMAS DE CARIDADE. -- 08/10/2007 - 20:59 (GERALDO EUSTÁQUIO RIBEIRO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ALGEMAS DE CARIDADE.

Fico observando o semblante dos moradores do asilo.
O olhar perdido no nada.
Às cinco horas da manhã a casa começa a ouvir passos nos corredores, os que conseguiram dormir começam a acordar para mais um dia de andança de um lado para outro. Alguns se sentam em frente à porta do refeitório esperando a hora do café.
Uma televisão é ligada apenas para colocar imagem e cor no preto e branco da vida de quem foi abandonado.
Os que têm algum problema mental estão no céu.
Os que ainda pensam estão no purgatório.
Para ter tempo de lembrar os motivos que fizeram dele um morador na casa de ninguém e de todos. Alguns vieram porque não souberam ser pais, outros porque os filhos não quiseram ser filhos.
De vez em quando uma lágrima teima em rolar por entre as rugas, caída dos olhos que até já esqueceram o que é chorar.
Alguns gritam a todo instante que quer voltar para casa, mesmo na sua insanidade sabe que deixou algo para trás.
Os que não tem filhos estão no paraíso.
Os que ainda tem filhos e netos na lembrança estão no limiar da indiferença que machuca.
Alguns não querem tomar banho.
Se arrumar para quem?
O carinho dos funcionários e dos voluntários e dos poucos visitantes não é bastante para suprir a ausência de quem foi gerado e visto crescer.
E o dia vai passando na vida de quem já não sabe medir o tempo.
Hora do almoço, uma oração, mecânica para muitos, para pedir ao Todo Poderoso que abençoe o alimento e o resto de vida de cada um.
Mãos estranhas levam a comida na boca de quem fez isto centenas de vezes para que quem o colocou aqui pudesse ter chegado aonde chegou. E neste momento deve estar em casa almoçando tranqüilamente, sem ao menos se lembrar das vezes que o estorvo atrapalhou o seu almoço.
Os que conseguem dormir voltam para suas camas, enquanto outros se sentam novamente em frente à televisão como se estivesse entendendo alguma coisa.
E quando um filho vem visitar a mãe ou o pai, coisa rara, (principalmente aos sábados e domingos), a cena é patética.
Nenhuma emoção.
Nenhum abraço que emociona!
Trocam algumas palavras, como se o ser gerado fosse apenas mais uma visita para aquela que foi sua primeira moradia ou para aquele que num momento de tesão e de ternura ou só de tesão fez com que este milagre fosse possível.
Os que conseguem vislumbrar o firmamento, não sabem que um Deus que tudo vê os espera e este purgatório é realmente a sua porta de entrada.
Tem tarde de domingo que o ambiente e o silêncio são um martírio, os moradores não conseguem conversar uns com os outros e nenhum visitante se digna aparecer. A grande maioria não se lembra das palavras do Mestre: Eu estive preso e me visitastes.
E aqui os moradores são prisioneiros do tempo, da idade e dos erros e acertos na criação dos filhos. E por terem tido a petulância de envelhecer agora estão presos com algemas de caridade, de perdão e de ternura, quando agridem os funcionários que agora cumprem o papel que seria do filho.
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