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Artigos-->ATEU, GRAÇAS A DEUS!! -- 02/08/2001 - 19:28 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DEUS – ACREDITAR OU NÃO?

J.B.Xavier



Desde os primórdios do homem, desde que ele se ergueu sobre as pernas traseiras, desde que teve consciência de seu próprio eu, ele sempre atribuiu o que não compreende ao plano divino, e acreditou que esse plano providenciava para que suas necessidades básicas fossem satisfeitas. Assim nasceram os grandes impérios, dos romanos aos gregos, dos mongóis aos egípcios, dos Maias aos hindus, das grandes nações indígenas pré-colombianas, aos aborígenes australianos pré-anglicanos. É curioso que tanto os povos cultos e cientificamente adiantados da antiguidade quanto os tidos como incultos e selvagens, tanto os grandes impérios, quanto as aldeias mais remotas, tenham tido em comum uma mitologia riquíssima e um panteão com divindades poderosas, que estavam para além da compreensão humana. Estariam certos em suas concepções? Teriam seus deuses alguma importância efetiva em seu dia-a-dia? Ou seria essa mitologia algo apenas folclórico, um embuste das mentes superiores da época, que, aproveitando-se da ignorância geral, dela se utilizavam para retirar alguma vantagem? Penso que a resposta é SIM para todas as perguntas. Paradoxal? não, se observarmos que o mesmo padrão de comportamento ainda se repete em nossos dias.



À luz da ciência atual, muitos mitos do passado foram desmistificados, e ela demonstrou que muitos deles não poderiam se sustentar, por serem cientificamente inviáveis. Mas, quem somos nós, para compararmos estágios da ciência? Quem poderá dizer que estamos cientificamente mais adiantados que os gregos, os persas ou os indianos antigos, cujas descobertas no campo da matemática e do pensamento ainda são, em muitos casos, o sustentáculo da ciência e da cultura moderna?



René Descartes (1596-1650), filósofo, cientista e matemático francês, também conhecido pelo nome em latim, Renatus Cartesius, pode ser considerado o fundador da filosofia moderna por ter rompido com a predominância da escolástica e fundado seu próprio sistema de pensamento. Além do filósofo cujas idéias atravessaram os séculos, ele foi um homem extremamente religioso, cuja fé fervorosa no cristianismo fê-lo formular seu famoso axioma "Cogito, Ergo Sun" - Penso, logo, Existo", um ícone da lógica moderna.



O termo cogito - pensar, duvidar - nasceu da certeza de Descartes de que a dúvida é natural, própria dos seres racionais. Por isso, por manter-se sempre em dúvida, ele andava à procura de explicações para expressões do tipo: "Porque eu digo que esta é minha perna; esta é minha mão; este é o meu nariz, se o conjunto de todas os meus membros, sou eu? Se o conjunto dos meus membros sou eu, - raciocinava ele - então porque que, se considerados em separado, eles não se configuram numa pessoa, e eu necessito dizer que são minhas? E, dentre seus questionamentos, o que mais o intrigava era: Se esta perna, esta mão e este nariz são meus, então, onde estou eu? Qual a diferença entre um cadáver e um homem dormindo, lado a lado? O que anima um, que não anima o outro?



Através do questionamento – pregava ele, é possível estabelecer uma dúvida metódica e revisar todos os conhecimentos adquiridos ou por adquirir. O método da dúvida cartesiana apóia-se em quatro princípios:



1 - Não aceitar como verdade nada que não seja claro e distinto;

2 - Decompor os problemas em suas partes mínimas;

3 - Deixar o pensamento ir do simples ao complexo;

4 - Revisar o processo para ter certeza de que não ocorreu nenhum erro.



Com estas premissas, Descartes criou a ciência empírica e influenciou todas as áreas do conhecimento humano. Segundo ele, a possibilidade do conhecimento humano é uma prova da existência de Deus, considerado como uma idéia inata.



Sua obra mais importante, Ensaios filosóficos (1637), inclui o famoso “Discurso sobre o método, onde ele esmiúça suas idéias. Mas ele foi além, publicando Meditações metafísicas (1641) um passeio majestoso ao mundo dos paradoxos e raciocínio puro. Na óptica, Descartes descobriu a lei da reflexão — o ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão — que influiria na teoria ondulatória da luz e seria a base do desenvolvimento dos modernos aparelhos óticos, das câmeras de cinema à compreensão do funcionamento do olho humano.

Sua maior contribuição à matemática foi a sistematização da geometria analítica. Ele foi também o primeiro matemático a tentar classificar as curvas conforme o tipo de equações que as produzem, além de ter contribuído para a elaboração da teoria das equações. Foi graças às idéias mecanicistas de Descartes que pode existir um Isaac Newton e suas leis físicas universais. Finalmente, o cientista reuniu suas idéias em 1642 e as publicou sob o título “Princípios da filosofia” revisando-as e republicando-as dois anos mais tarde, em 1644.



Se observarmos a história, quase todos os grandes homens da ciência, tiveram uma fé inabalável numa ordem universal superior, alguns deles, como Albert Einstein, acreditava num ente superior e tornou isso público ao explicar a ordem do universo: “Deus não joga dados”. De fato, a compreensão de estarem caminhando no limiar da fronteira do conhecimento humano, parece levar as mentes mais privilegiadas a uma compreensão holística do mundo em que habitam, de suas causas e de suas conseqüências. Elas parecem extasiar-se ante a magnificência do cenário que se lhes abre e, à falta de explicação melhor, atribuem-na a algo maior, mais poderoso, cuja compreensão total – como aos comuns dos mortais – igualmente lhes escapa.



Têm sido muitas as tentativas do engenho humano de explicar o incognoscível, e em função disto, muitas filosofias têm nascido, crescido e morrido nessa tentativa.

Desde as filosofias orientais, de Sidarta Gautama, o Buda, a Lao Tse; dos rituais nórdicos vickings ao surgimento do gnosticismo (Ecletismo filosófico-religioso surgido nos primeiros séculos na nossa era, diversificado em numerosas seitas, que visava conciliar todas as religiões e explicar-lhes o sentido mais profundo por meio da gnose. )

Os gnósticos dos primeiros tempos se negavam a identificar o Deus do Novo Testamento, pai de Cristo, com o Deus do Antigo Testamento. Para se justificarem, escreveram evangelhos apócrifos (como os evangelhos de Tomás e de Maria) afirmando que Jesus expôs a seus discípulos a interpretação gnóstica de seus ensinamentos. Ou seja, Cristo, o espírito divino, habitou o corpo do homem Jesus mas não morreu na cruz. Desta maneira, os gnósticos rejeitavam o sofrimento, a morte e a ressurreição do corpo terreno. Os gnósticos também não aceitavam outras interpretações literais e tradicionais do Evangelho.



Como filosofia unificadora, o gnosticismo perdeu força a partir do século III, quando, diante das perseguições cristãs, começou a ocultar-se até esvaziar-se, por conta das conversões ao cristianismo, que, à medida que se organizava e estabelecia seus dogmas, respondia melhor às perguntas mediatas: de onde vimos. Para onde vamos?



Esses questionamentos sempre estiveram presentes em todas as civilizações, e cada uma delas deu suas próprias explicações para eles. Descartes, porém, trouxe sua resposta embebida em lógica! Eis porque seu axioma sobrevive! Porque através dele, nossos limitados raciocínios encontram explicações plausíveis, possíveis de serem decompostas e compreendidas. Assim, graças a este grande pensador, o mundo ocidental dividiu-se em duas grandes facções: Os que buscam entender o funcionamento cosmogônico partindo de uma visão mecanicista, e os que buscam compreendê-lo partindo de uma visão deística.



Do ponto de vista de Descartes, o tiro saiu pela culatra, porque ao invés de glorificar Deus através da compreensão lógica de sua Criação, - o Homem - seu axioma amplificou esse aspecto - o lógico - relegando para segundo plano justamente o que ele mais desejava ver difundido ao formulá-lo: A compreensão de Deus ATRAVÉS do raciocínio lógico sobre o funcionamento de sua Criação. Assim, ao contrário do que ele pretendia, a sociedade ocidental afastou-se mais do Divino, quanto mais compreendia o mecânico, num processo que levou ao desenvolvimento da medicina moderna, e da maiora dos processos de pensamento ocidentais, que adotam concepções bipartidas do cosmo.



Isto acabou por gerar um conflito gigantesco de ordem individual, fazendo com que o mundo ocidental perdesse muitas das suas referências, já que a tecnologia não satisfaz todas as perguntas básicas do ser humano.



Ao mesmo tempo, o Homem ainda está dividido entre - como disse Shakespeare, pela boca de Otelo - "Ser ou não ser" - que eu completaria, anda que Otelo não tivesse dito: "Eis a questão!". Mas quando William Shakespeare - (1564-1616) poeta e autor teatral inglês, considerado um dos melhores dramaturgos da literatura universal - morreu, Descartes tinha apenas 20 anos e ainda faltava outros vinte e tantos para consolidar suas idéias. Assim, não é de se estranhar que este tenha sido, eventualmente, influenciado pelas dúvidas existenciais daquele.



De qualquer modo, fica evidenciado que dúvidas existenciais cartesianas, já existiam antes do próprio Descartes, e apesar da – ou talvez por causa da - sua filosofia reducionista, elas permaneceram e se estenderam pelos séculos posteriores chegando até nossos dias, de onde - a julgar pelos sinais de fortalecimento - deverão continuar desestabilizando o Homem pelos séculos vindouros.



É justamente nos desvãos dessas necessidades humanas mal supridas que atuam os espertalhões, levando às pessoas o "contato" com a divindade de maneira concreta e imediata, sem a intervenção de intermediários.



Fragilizadas pelo embate constante da desestabilização emocional advinda da falta de crédito nas instituições e na própria sociedade, as pessoas se deixam levar pelo paroxismo exacerbado, insuflado por desonestos, que, em nome do Divino, as transformam em vítimas de si mesmas, em aleijões do sentir, em fanáticos que perderam a capacidade de análise.



Na sociedade oriental, ao contrário, longe das influências do pensamento cartesiano, não é concebível essa divisão. Nas filosofias orientais, o universo é uno, embora os excessos e erros de análise existam igualmente. Se, no ocidente esses excessos se dão por conta de uma sociedade escrava da tecnologia, no oriente, em redutos onde ainda se conserva a filosofia milenar, como o tibete, A Índia e a China, por exemplo, eles existem igualmente, mas motivados por fatores muito diversos dos ocidentais.



A filosofia oriental segue uma orientação SENTIDA na observação das realidades transcedentais, enquanto a filosofia ocidental segue uma orientação PENSADA na análise dessas mesmas realidades. O oriente observa, o ocidente analisa. O conhecimento ocidental flui através de filtros de uma ciência lógica que convive mal com a dúvida, com o inexplicável, com o que escapa à medição ou à quantificação, enquanto o conhecimento oriental flui através de “insights” oriundos do ato do pensar. Enquanto o cientista ocidental afirma, após muitas medições, que o vácuo absoluto não existe, o místico oriental afirma que quem compreende a essência do universo, compreende que não existe lugar algum onde exista o nada.



O hinduísmo, umas das maiores religiões do mundo, que teve início por volta de 1500 a.C, define suas leis mais pelas ações das pessoas do que por seus pensamentos. Em conseqüência, entre os hindus encontra-se maior uniformidade nas ações do que nas crenças. Esta idéia, de que são as ações a vida real do homem, está bem colocada no magnífico poema hindú DESIDERATA:



“Siga tranqüilamente entre a inquietude e a pressa, lembrando-se de que há sempre paz no silêncio. (- - - -) Esteja em paz com Deus, como quer que você o conceba. (- - - - ) Você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores! Você merece estar aqui!

(Leia o poema completo em “Poesias”)



Em nosso cotidiano, entretanto, buscamos uma força maior que a nossa, onde possamos nos apoiar. Pode ser nossos pais, um amigo, um cônjuge, ou um deus. Mas, muito mais importante, creio, que discutir, ou mesmo procurar a verdade por trás das várias filosofias deísticas, é desenvolver a fé – seja lá no que for – que nos suprirá de energia ao longo da vida, porque a pior coisa para quem não crê, não é não ter a quem pedir. É, a meu ver, quando se sentir agradecido, não ter a quem agradecer!



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