Usina de Letras
Usina de Letras
170 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62216 )

Cartas ( 21334)

Contos (13261)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10357)

Erótico (13569)

Frases (50610)

Humor (20030)

Infantil (5430)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140799)

Redação (3304)

Roteiro de Filme ou Novela (1063)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6187)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Sol Pedra Rocha na Taba do Chefe Branco -- 15/10/2001 - 12:54 (Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sol Pedra Rocha na Taba do Chefe Branco
(Ou A Vida nas Grandes Cidades Contemporâneas)


Sol Pedra Rocha viera a Brasília para o dia dele. A taba do chefe branco era a taba que mais queria ver. Sol queria gritar para chefe branco ouvir, levantar papel para os caciques dos brancos verem.
-Brasília-disse Sol-é que nem o céu, tem umas estrelas que desceram, uns ouriços espinhudos brilhantes, e cada oca é muito longe da outra.
Sol se hospedou com outros índios numa oca muito apertada. Não ficava lá não, saía para outras ocas onde se podia trocar papel colorido pelo cauim dos brancos. O cauim dos brancos era uma bebida que faz a gente ficar pisando nas nuvens, como se não tivesse problema nenhum. As ocas que chamavam “bar” tinham sempre muitos brancos em roda tomando o cauim deles.
Tinha também a oca barulhenta, tinha lá uns tambores zumbindo que nem abelha, que faziam as brancas balançar. Sol saiu para a oca barulhenta com outro índio, o Tibiqüera, e disse para ele, quando saíam:
-Branco gosta demais dar conta do xacundum, e o zum-zum deixa a gente surdo.
-Amanhã a gente volta? As brancas ficam aí... Disse o danado do Tibiqüera.
-Não volto na oca-boate mais não.
Sol gostava de Brasília às vezes sim, às vezes não. Um chefe branco tirou Brasília do chão, disseram para ele. Ali tinha rio de leite e mel, e os brancos escolheram e um chefe branco tirou dali uma cidade inteira, como se fosse de dentro da pedra. Uns dizem que teve de lavar a pedra com o sangue dos brancos, só assim a cidade ficou pronta. Neste dia rezaram missa, imitando o dia em que branco chegou aqui no Brasil, que antes o índio chamava de Pindorama. Índio achou que branco era fantasma, no tempo dos quinhentos.
-Aqui na taba de branco tem umas onças-pintadas bravas, passam por cima de índio, de branco, de todo mundo. Passam por cima e matam mesmo.
-Não é onça não-disse Tibiqüera-é carro.
-Chefe branco não acaba com as carronças, um chefe branco falou que ia acabar, mas aí ele roubou e tiraram ele.
-Você está fazendo confusão-replicou Tibiqüera.
Sol achava as máquinas dos brancos cheias de ziquizira. Tinha uma que, se o branco batesse nas conchinhas brancas com risco preto, caracol abria a boca e cuspia papel colorido, com cara de cunhã pintadinha que era uma beleza, e branco fazia festa comprando uns troços bonitos e umas gostosuras com o papel. Sol tentou tirar papel, custou a passar pela água dura, transparente, fincada na entrada da oca. Sol não conseguiu que o caracol abrisse a boca pr’ele não.
As cunhãs brancas, as filhas da mandioca eram bonitas mas usavam uns uluris que tapavam tudo. Sol pedia para ver, elas não deixavam, davam uns gritos e chamavam os brancos guerreiros; Sol tinha medo do tacape e da cana de guspir fogo que tinham os guerreiros brancos e sumia rápido.
Sol gostava de apreciar umas ocas que tinham papel colorido e folha cheia de pintinha preta. Tinha, nestas ocas pequetitinhas, muito branco pintado na folha, mas branco assim sem uluri nem nada, com tudo de fora. Sol ficava vendo as brancas sem nada, já que as de verdade não conseguia pegar. E tinha folha com branco fazendo.
-Branco que não faz-disse Tibiqüera para Sol-quer ver os outros fazer.
Sol achava difícil, era engraçado que branco na rua usava pena, cocar, uluri, tudo quanto é enfeite. Ainda por cima, nas folhas pintadas, branco fazia de tudo, tinha branco atrás de branca, fazendo, e tinha branco atrás de branco, fazendo também.
Naquele dia, quando Sol cansou de olhar as ocas-bancas, queria voltar para a oca, Tibiqüera tinha tomado cauim-cachaça e voltado, e Sol viu que Jaci, que os brancos chamavam de lua, e diziam que já tinham pisado nela, estava lá no alto. Os caixotins dos brancos quase encostavam a testa lá em Jaci. E tampavam a luz. Já não tinha mais branco na rua. Quando Sol achou a oca, custou, e a oca já tinha fechado. Sol rodopiou, gritou, tinha jeito não. Então arrumou pano e deitou entre umas ocas e outras, no lugar onde os brancos plantavam flor e árvore.
Daí chegaram uns curumins brancos em cima da onça-carro, e de dentro dela saía um canto barulhento, um xacundum que nem na oca-boate. Os curumins eram que nem Anhanga, que nem o Caapora, jogaram agüinha nele. Sol acordou e xingou os curumins, chamou eles de galegos-de-água-doce, mandou eles irem embora. Eles não foram e ficaram rindo. Um acendeu um foguinho na madeira e jogou, a agüinha pegou fogo. Sol virou um fogaréu danado. Tupã levou a alma do índio embora, teve jeito não.
Aí, no dia seguinte, as folhas coloridas e pintadinhas falaram. Todo mundo ficou com cara de quem chupou fruta verde, em Brasília. Os brancos guerreiros pegaram a onça e os curumins sem coração. Chefe branco ficou sabendo de Sol, mas só aí, tinha jeito mais não. Os brancos falaram na máquina, chefe branco falou bravo para os brancos, mas com os curumins brancos não fizeram nada, soltaram de novo os coisinha-ruim. Branco logo esqueceu tudo, a máquina de branco brilha, pisca e vira, e então branco esquece. A cabeça de branco é rasinha, eles esquecem depois não pensam mais não.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui