2.009 - Dilúvio, telhas e calha
"Estou trabalhando em casa, porque ontem caiu o maior dilúvio e entrou água, quase pela casa toda, devido calha entupida...". Caiu mesmo, entrou água pela sala toda, não pela casa toda e a calha estava mesmo entupida, arte de um pinheirinho do meu jardim, que nunca o cortarei, mesmo que ele entupa todas as calhas da minha casa. Confessando que a minha preguicite é que entope calhas, afinal é só eu limpá-las de quando em quando.
Ligando a crónica passada com a de agora, não choveu pesado ainda para eu saber se a limpeza da calha resolveu meu problema com o alagamento da minha sala, dizendo que meu telhado está precário por culpa dos técnicos da NET e da Vivo, pois quando você têm problemas, você os chama e eles sobem no seu telhado, consertam o problema e deixam as telhas quebradas para você resolver. É muito problema e telhado, mas é assim.
Lá vou eu ver o estrago e devido ao meu peso, eu mesmo causo mais problemas, quebrando mais telhas e eu sem telhas para efetuar a troca. E, ah, porque não vou comprar telhas novas, é que as novas não se casam com as velhas. Terei que trocar, um dia, o telhado, para ter sossego, porém o que farei com os técnicos...
Querem saber o que fiz com as telhas quebradas, que não troquei; coloquei umas pastinhas de plástico por baixo delas e até que resolvi os problemas das goteiras, calha é problema de outro tipo. Pastinhas, é, são aquelas de escritório em éle, de guardar documentos. No entanto, não recomendo esse tipo de conserto, é a mais pura gambiarra, advinda de novo da minha preguicite e do excesso de água. Já o dilúvio da semana passada, foi dos bãos.
Prometendo para mim mesmo que irei procurar um telhadista, se é assim que se chama um profissional da área e por falar em dilúvio, sem contar o do Noé, conto os meus. Já peguei cada chuva por aí. Uma vez voltando de Piracicaba, pela Rodovia dos Bandeirantes, tivemos que ficar em baixo de um viaduto, Eu e o meu sócio Wellington, era tanta a chuva e tantas as pedras, que se não fosse esse esconderijo, sei não. Tapou a visão e paramos todos, foi de se assustar, quase de se borrar. Quando a borrasca passou, abriu um sol e renascemos.
Que drama, mas que chuva. Outra igual, sofremos Eu e a Edna, ali na altura de Boituva, pela Rodovia Castelo Branco, quando o mundo despencou em cima de nós e procuramos abrigo sob uma cobertura do posto de gasolina próximo, o que em menos de segundos desisti, por meda de ela cair sobre nós. O remédio foi sair à estrada e enfrentar o destempero da natureza, por mais de meia hora e sabem qual foi o prêmio; de novo um sol lindo de morrer.
De morrer de medo foi a chuva de uns sete anos atrás sobre Piracicaba e sobre a fábrica, quando fechamos tudo e ficamos rezando para aquilo passar e eu acalmando as pessoas, sem ninguém a me acalmar. Que medão, pelamor; uma eternidade depois passou e ficou só uma fina garoa, saímos para ver os estragos, não muitos até, pelos anunciados pela barulheira toda, nunca vi tanto trovões e raios, de picarem árvores com uma talagada só, aliás, foi o que aconteceu. A soma dos raios e do vento alucinante derrubou mais de mil delas pela cidade toda. No nosso caso, precisei trocar o telhado de um dos galpões e enxugar o piso da fábrica toda, além de esperar a energia voltar mais de horas.
Dona Cida que é boa de chuva-dilúvio, ela se esconde até em baixo da cama, rezando todas as rezas possíveis, cobrindo os espelhos com cobertores e acendendo velas para todos os santos. Era para eu ter uma síndrome "anti-diluviana", ou "anti-chuviana", mas encaro bem esse fenómeno da natureza, admiro uma boa chuva e quanto mais barulho, melhor. Depois fico com remorso dos estragos e não tem coisa melhor do que você no quentinho da sua casa e a chuva pipocando lá fora. Já disse que tenho remorsos disso, não disse.
Neste domingo, trinta de dez de dezesseis, encerro com um dia em que fiquei no terraço sentindo a chuva e vendo e ouvindo a maior quantidade de raios que já vi, verticais e horizontais de arrepiar e arrebentar tudo, mas foi um dos maiores espetáculos vistos.
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