Lá vem a Leila sorrisão só - Jairão, o André está aí com a amostra da garrafinha. Oi, tudo bem e assim a conversa andou sobre a tal garrafinha, mais uma embalagem de aço inox, com uma tampinha idem, gravado com o nome e logo da Marfin e, lógico, cheia da melhor cachaça da Cachaça Piracicabana. Encomendei cem dessas para que o meu sócio possa distribuir aos nossos clientes, no dia a dia do seu métier. Incrível a saída, todos de um jeito ou de outro acabam pedindo a lembrancinha.
Também o nome ajuda, pois Piracicaba tem certa fama por ter cachaças boas. Esta já citada e as da Esalq, conhecidas pelo seu artesanato e envelhecimento, só que caras e compro de vez em quando, pois ela foge do gosto tradicional, pelos diferentes tipos de maturação, que são os tonéis de carvalho e outras madeiras nobres, deixando a cachaça mais com jeitão de uísque. Parece que os bons bebedores da marvada a preferem no seu jeito tradicional de ser.
Pelo site da Piracicabana, temos que ela é tradicional na fabricação artesanal da cachaça, ou mé, ou birita e a cana-de-açúcar utilizada deve ter de um a dois anos de desenvolvimento e com alto teor de sacarose, com o manejo dos canaviais feito por capina manual e sem queimadas, no caso deles, cultivo próprio. A moagem deve ocorrer em até dezoito horas após o corte no campo, depois peneirada, decantada e filtrada, visando um produto livre de impurezas oriundas do campo. Estão vendo que a limpa-goela é chique e depois sofre uma fermentação natural entre vinte e quatro e trinta horas, com temperaturas controladas e a destilação é realizada uma única vez, para se ter aroma e sabor característicos da cana.
Descrição bonita, mas ela não acompanha a nossa garrafinha, assim como se tivesse uma bula de remédios. Não sei e o que vocês acham se eu deveria incluir na lembrança essa bula bem detalhada e com os nomes que a cachaça é conhecida, pinga, canjibrina, marafa, etc. Aí, eu teria que escrever também que durante a destilação, feita em alambiques artesanais, é realizada a separação das frações da cachaça: cabeça, coração e cauda. Esta separação tem que ser feita com muito rigor e a cachaça é obtida do coração. A nossa santinha, ou januária, ou goró, passa por envelhecimento em cartolas por no mínimo três anos. Eu acho, e acho que vocês também, que ninguém perderia tempo em ler tudo isso e já partiriam para a degustação da bichinha, ou bagaceira, ou catinguenta. Em três dois um desistindo da bula.
Eles têm no seu portfólio os licores de cachaça, porém não tive bom retorno dos clientes, devido serem doces demais, sem meter o pau neles, apenas uma questão de gosto. A preferência recai à danada, ou danadinha, nomes tirados daqueles mais de quatrocentos nomes da cachaça, como danguá, dengosa, dormideira, dona-branca, doidinha, elixir, esquenta-corpo, faz-xodó, fogosa, forra-peito, iaiá-me-sacode, insquento, jeribita, levanta-velho, linda, parati, perigosa, pitula, preciosa, quebra-goela, ripa, talagada, teimosa, uma-aí, tira-vergonha, virge e por aí afora, ou dentro das melhores gargantas.
Desde mil novecentos e noventa e oito que eu recebo uma demanda por pingas, cachaças aqui de Piracicaba, por exemplo do Nelsão, nosso antigo engenheiro - Viu Jairo, os hómis lá da obra estão pedindo aquela branquinha que eu sei que tem por aqui em algum lugar e eu toca a sair procurar. Achava, naqueles garrafões sem tampa, sem nada, mas deviam ser boas, pois os hómis gostavam dchimaiss da conta. Chefe, o Jair tá pedindo uma das boas e tome essas duas garrafas. A demanda continua, haja vista eu ter comprado as cem garrafinhas, hoje mais nobres, em inox e com embalagens de presente, um saquinho azul escuro. Uia!
Os antigos fabricantes de pingas, Tatuzinho, Rio-Pedrense, Velho Barreiro não estão mais por aqui. A fábrica Tatuzinho está ao meu lado, com uma enorme placa de aluga-se e nesta quinta, vinte e dois de nove de dezesseis, sugiro aos apreciadores uma união, para em comitiva irmos ver quanto custa esse aluguel e quem sabe não surja um novo nome...
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