Amigo e ex-professor de Obama, o ministro brasileiro diz quem é e o que se pode esperar do novo presidente
Revista Época
O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, é provavelmente o brasileiro que melhor conhece o presidente eleito dos Estados Unidos. Barack Obama foi aluno de Mangabeira na Escola de Direito da Universidade Harvard em 1991 e 1992, quando se tornaram amigos. Mangabeira sempre foi um entusiasmado torcedor de Obama, com quem troca opiniões e análises por e-mails. Na véspera da eleição americana, o ministro passou uma hora explicando ao presidente Lula como funciona a cabeça de Obama e as possibilidades que sua eleição abre para o Brasil.
ÉPOCA – Quais são os desafios de Obama?
Roberto Mangabeira Unger – Primeiro, a regulação dos mercados financeiros. Segundo, adotar políticas fiscal e monetária expansionistas, o keynesianismo vulgar. Terceiro, resolver o problema do sistema de saúde pública. O quarto é adotar posição mais politicamente correta em relação à mudança de clima e às energias renováveis. O quinto é retirar as tropas do Iraque e colocar no Afeganistão. E o sexto é adotar uma posição mais respeitosa para com o multilateralismo e preferir o soft power ao hard power. É isso que essa maioria que elegeu Obama quer.
ÉPOCA – O que o Brasil pode esperar da eleição de Obama?
Mangabeira – Estamos separados dos EUA por disputas comerciais pequenas sobre protecionismo e subsídios agrícolas e por divergências a respeito da representação nos organismos internacionais. Essas diferenças não vão desaparecer instantaneamente. Proponho abrir uma terceira frente de iniciativas em um outro plano. Se progredirmos nas iniciativas conjuntas, ficará mais fácil resolver as disputas.
ÉPOCA – Quais seriam essas iniciativas?
Mangabeira – As áreas mais promissoras são: agrocombustíveis para o futuro, tecnologias para médias e pequenas empresas e programas de educação. Poderíamos construir uma série de projetos piloto que mostrem o caminho para outras repúblicas americanas e para o mundo. O maior obstáculo para isso não são os Estados Unidos. É o Brasil. Historicamente nos faltam audácia e imaginação. O impedimento principal a isso é espiritual. É nossa falta de clareza e de confiança sobre o nosso papel no mundo.
ÉPOCA – Por que Obama venceu?
Mangabeira – Ele demonstrou o que eu considero essencial, que é a capacidade de sacrificar-se. Quando ele se formou (em Direito, em Harvard), desprezou o caminho fácil das grandes firmas de advocacia e foi trabalhar para os pobres em Chicago, enquanto ensinava Direito Constitucional. E ele tem os três atributos mais importantes de um homem de Estado: coragem, tenacidade e esperança. Dos três, o menos comum e mais importante é a esperança. A esperança é muito rara em nosso mundo, e ele tem.
