O site caminha, olimpicamente, para não se sabe onde. E alguns anônimos (são tantos!) insistem em me tomar pelo "maníaco do ranking". Ou seria o caso de criar o neologismo "rankingmaníaco". Preocupam-se, esses anônimos, entre outras coisas, com o sucesso misterioso de alguns nomes. A título de provocação, perguntam-me, sempre anônimos, qual seria o segredo?
Sei que é possível, já me ofereceram, cada qual anunciar a sua página em portais mil pelo Brasil
varonil em fora. Mas isso não é nenhum mistério. Você vai pagar por isso mensalmente - foi o que me propuseram - e eu me afirmaria acima de todos os outros usineiros para todo o sempre, amém. Ora, vamos e venhamos, pra quê?
A minha sugestão, na verdade, vou abrir o jogo de uma vez, vou confessar ao grand monde usineiro e aos que ficam na moita, isto é, ali mesmo, no quadro de avisos , esperando a deixa para se mostrarem por inteiro, é que as pessoas passassem a se cadastrar de forma diferente. Mas não apenas para que o anonimato se visse coibido. Muito mais que isso, para que cada qual também enviasse a sua foto, podendo passar a concorrer numa nova categoria, a dos "autores mais lindos". Aí sim, o circo ia mesmo pegar fogo! Seria pena pra todo lado!
Mas eu não vou falar sobre o ranking do usina , como o título deste artigo pode ter sugerido aos ranketeiros ou aos sempre desavisados, mas de uma antologia organizada pelo escritor Nelson de Oliveira, e que acaba de ser lançada no mercado. Ela reúne contos dos 17 melhores contistas brasileiros da última décado do século 20.
Quem quiser conferir, é só acessar a Folha de São Paulo deste sábado, 28/07/2001, caderno Ilustrada. Um desses contistas escolhidos pode ser lido aqui mesmo no site. Mas não, é claro que não, não adianta procurá-lo entre os autores mais lidos . E eu gostaria de colocá-lo aqui entre os "autores que mais deveriam ser lidos". É só entrar em busca e procurar por: JORGE PIEIRO.
A Jorge Pieiro, por um acaso felicíssimo, eu devo a minha permanência de já quase um ano entre os autores/leitores do usinadeletras . A ele devo, portanto, um hábito readquirido depois de tantos anos, o exercício da escrita, que agora, para o bem e para o mal, se tornou diário. E também da leitura, descompromissada, que é algo que todo acadêmico, como eu, acaba perdendo por imposição do ofício. Nos últimos meses, venho até elaborando um projeto, iniciado em parceria com outro autor do usina , o Iã Paulo Ribeiro, projeto este que reputo de muito futuro e interesse para nós todos, de leitura e interpretação da produção brasileira mais recente, incluindo a produção veiculada exclusivamente pela internet. Esse projeto já havia eleito, como um de seus textos basilares,
o ensaio "O novo conto brasileiro", de Nelson de Oliveira, ele que agora nos coloca sob os olhos uma antologia que reúne os 17 melhores contistas brasileiras da última década, e que comentaremos a seguir.
A primeira vez que entrei no site, o primeiro texto que vi anunciado na página de entrada se chamava "Um vampiro de textos para sempre àssombradado". Estava claro. E quão grata surpresa! Um artigo sobre o escritor, Uilcon Pereira, que eu achava que levaria muitos anos para ser reconhecido, e com quem tive a sorte de privar por tanto tempo. A internet me revelou, entre outras coisas, que autores não-canônicos, "sem mídia", como diz Jorge Pieiro, podem hoje mais rapidamente chegar a seus leitores, já que não podem chegar com a mesma rapidez ou interesse ao mercado.
Não precisaria dizer que li o artigo com avidez e quase devoção, feliz também por ver que, muito antes do que eu imaginava possível, o meu amigo passava a ser comentado por uma obra que ele próprio fazia questão de produzir apenas para escritores. Dizia que ter dois ou três leitores era a felicidade, como já mencionei em outro texto publicado no site. Na verdade, como ele também dizia, eram 500 os seus leitores, espalhados pelo país. Era para eles que Uilcon fazia os seus livros e enviava os textos, colaborando com inúmeras publicações marginais. Ele que também reuniu um acervo inestimável de publicações dessa ordem, vindas de todas as partes, e que agora não se sabe onde andará.
Uilcon Pereira fez tudo isso por carta. Suas idas diárias ao correio também fizeram parte do meu dia a dia com ele. "Olha, vamos dar uma passadinha no correio", era um de seus bordões mais conhecidos e comentados.
Na outra ponta, eu ainda não os conhecia, só viria a saber deles depois de o Uilcon ter-nos
deixado meio desgarrados, havia 500 outros escritores. Entre eles, Jorge Pieiro, que só vim a conhecer ao acessar o usina e me deparar com o seu artigo acima mencionado. Imediatamente tratei de com ele me por em contato - e isso, naquele não faz tanto tempo, podia ainda ser feito sem maiores sobressaltos - e passamos a nos corresponder intermitentemente. A meu pedido, fez chegar até minhas mãos dois de seus livros de contos: "Caos Portátil" e "Fragmentos de Panaplo". Neste último, uma dedicatória a Uilcon Pereira.
Hoje, mais de um ano depois, vejo-o colocado onde certamente merece. Já o localizei em inúmeros outras revistas eletrônicas, citado em artigos, comentado por outros autores. A tentativa mais convincente de interpretação vinha justamente daquele artigo do Nelson de Oliveira, que analisava 8 contistas, incluindo o tão polêmico quanto festejado Marcelo Mirisola. O mesmo Nelson de Oliveira, repito, é quem o elege agora um dos 17 melhores contistas brasileiros dos anos 90 do século XX, na antologia que agora vem a público.
O artigo da Ilustrada da Folha de Sâo Paulo se chama, instigantemente, "Escrito a mouse". No subtítulo: "Livro Geração 90 aposta em 17 contistas como os melhores da última década".
Título do livro: "GERAÇÃO 90: MANUSCRITOS DE COMPUTADOR - OS MELHORES CONTISTAS BRASILEIROS SURGIDOS NO FINAL DO SÉCULO 20". Organização: Nelson de Oliveira. Editora: Boitempo (av. Pompéia, 1.991, SP, tel. 0/xx/11/3865-6947). Preço indefinido. 264 págs.
Nós, que agora via intenet e por meio do usina , nos vemos tão confortavelmente alçados à inédita condição de autores/leitores, deveríamos nos sentir honrados com a presença, entre nós, do grande Jorge Pieiro. Mas que isso se traduzisse em leituras, muitas, dos textos que ele publicou no site. O problema é que a internet vem consagrando o termo visitas . E a literatura não tem nada a ver com isso. Ja basta esse sistema dos best-sellers. Literatura demanda leitores.
Os leitores, fatalmente, haverão de seguir depois em busca de suas outras muitas publicações, e, é claro, à antologia que o situa agora, aos olhos de um público mais crítico e exigente, como o grande contista que é, com a importância que ele, assim, passa a assumir, com uma certa oficialidade, digamos, do bem, para a literatura brasileira.
Seu nome não estar entre os autores mais lidos do usina , eis um fato prenhe de significações. Tanto para nós, que, querendo-o ou não, estamos no topo do ranking, como para todos aqueles que, eventualmente, alimentam o sonho de alcançá-lo. Mas vale talvez, mais ainda, para quem vive o pesadelo de não consegui-lo, e se acha assim na quase obrigação de nos afrontar por isso quase que todos os dias. A questão é saber se essa é mesmo uma "façanha" incrível, como eles no fundo parecem acreditar, ou milagrosa, em muitos casos, tema pelo qual fazem absoluta questão de tentar despertar o meu interesse, nessa minha propalada e injusta fama de "rankingmaníaco".
Se fosse para valer, trataria de disputar, isso sim, o topo do ranking dos autores que mais leram no site, e também fora dele, como já afirmei outras vezes. Essa, sim, seria uma guerra santa. E, mais ainda, gostaria de estar entre os que leram, sempre, e muito, os seus melhores autores. Tive a fortuna ter dado uma das melhores largadas, convenhamos. Comecei como leitor de JORGE PIEIRO. A ele, deixo aqui firmado o meu reconhecimento agradecido.
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