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Artigos-->Para que ninguém tivesse mais que lutar -- 13/10/2003 - 11:25 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há vidas que desmentem mitos. A idéia de que sentimentos nobres, como a solidariedade, a honradez e a valorização do amor são exclusividade dos fiéis, dos crentes, cai por terra quando se depara com a obra de um poeta e diplomata, "o branco mais preto do Brasil, na linha direta de Xangô", que não cria, mas pedia a Deus por sua gente (como cantou no seu Gente Humilde, parceria com Garoto). Ele referenciou deuses cristãos e pagãos, mas seu vínculo maior era com a humanidade.

Na madrugada de 19 de outubro de 1913, durante um temporal, nasceu Marcus Vinicius da Cruz e Mello Moraes; na manhã ensolarada de 9 de julho de 1980 morreu, de edema pulmonar. Entre uma data e outra, alterou seu nome, aos nove anos, para Vinicius de Moraes; foi batizado na maçonaria, fez a primeira comunhão e cantou no coro da missa de domingo; com 19 anos publicou seu primeiro livro, O caminho para a distância; concluiu os cursos de Direito e de Oficial de Reserva; trabalhou como censor e crítico cinematográfico, ingressou (por concurso) na carreira diplomática; foi tradutor; escreveu poesias, crônicas, peças de teatro, poemas e canções. Morou em vários países da Europa e da América. Em 1953 compôs seu primeiro samba (música e letra), Quando tu passas por mim e, em 1962, lançou, com Antônio Carlos Jobim, Garota de Ipanema, o maior sucesso internacional da música brasileira — a quinta, quarta e, dependendo da pesquisa, a segunda música mais tocada pelas rádios no mundo, até hoje (nos Estados Unidos é executada 5 milhões de vezes por ano, a cada 15 segundos alguma rádio começa a transmiti-la). Juntamente com Jobim e com o cantor e violonista João Gilberto, em 1956, deu início ao movimento musical conhecido como bossa nova. Fez música com Pixinguinha, Ari Barroso, Carlos Lyra, Baden Powell, Chico Buarque, Edu Lobo, Francis Hime, Toquinho, dentre tantos outros. Exonerado do Itamaraty pela ditadura militar em 1969, dez anos depois leu seus poemas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, a convite do presidente da entidade, Luís Inácio da Silva.

Num escrito de 1962 contou que seu material (o do poeta) era "a vida, e só a vida, com tudo o que ela tem de sórdido e sublime". Sua ambição era "ser expressão verbal rítmica ao mundo informe de sensações, sentimentos e pressentimentos dos outros com relação a tudo o que existe ou é passível de existência no mundo mágico da imaginação". Seu único dever era "fazê-lo da maneira mais bela, simples e comunicativa possível". E o único patrão era "a própria vida: a vida dos homens em sua longa luta contra a natureza e contra si mesmos para se realizarem em amor e tranqüilidade".

Abordando sua obra, em 1949, Vinícius dividiu-a em duas partes. Uma, transcendental, freqüentemente mística, resultante de sua fase cristã. A segunda, escrita "em oposição ao transcendentalismo anterior", com movimentos "de aproximação do mundo material, com a difícil mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos".

Num poema de 1933 (Místico), considerava que sua alma tinha "o seu lugar Bem junto ao trono da divindade Para a verdadeira adoração". No mesmo ano, admitia que "Tinha fé em Deus e em mim mesmo Confessava-me todo domingo E tornava a pecar toda segunda-feira" e esperava o dia em que "Deus talvez tenha entrado definitivamente em meu espírito Ou talvez tenha saído definitivamente dele". E se queixou de ter sofrido "a grande ausência, o deserto de Deus, o meu deserto".

Anos depois, já irônico em sua segunda fase, pediu a Deus que tivesse piedade da "moça feia que serve na vida De casa, comida e roupa lavada da moça bonita Mas tende mais piedade ainda da moça bonita Que o homem molesta - que o homem não presta, não presta, meu Deus!" e terminou sua Elegia desesperada, de 1943, com o lamento: "Tende piedade, Senhor, das santas mulheres Dos meninos velhos, dos homens humilhados — sede enfim Piedoso com todos, que tudo merece piedade E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!"

Nos seus versos para músicas, o poeta ampliou o leque dos deuses, incluindo especialmente as divindades cultuadas pelas comunidades afro-brasileiras. Quem tiver o prazer de passear pela obra escrita e cantada por Vinícius constatará sua fidelidade ao compromisso afirmado num poema escrito para o filho Pedro: "toda a minha vida foi uma luta para que ninguém tivesse mais que lutar".
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