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Artigos-->A Catarina - José Augusto & Maria Petronilho -- 01/10/2003 - 22:53 (MARIA PETRONILHO) |
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Poemas do Alentejo
Catarina
José-Augusto de Carvalho
O teu último grito
morreu na voz sobria do suão
Um frémito de dor
convulso
abriu as cicatrizes dos montados
O teu último olhar
a terra disputou ao céu fechado
As lágrimas caídas
nas raízes raquíticas
foram húmus e sangue a palpitar
o alento de outras vidas
A luz fez-se
na noite da distância
cegando os nossos olhos deslumbrados
*
Do livro "sortilégio", 1986
******
No chão seca, qual papoila, o sangue de Catarina
Maria Petronilho
De Catarina Eufémia,
A corajosa ceifeira
O grito, a justa revolta
O algoz incomodava
Colhia o pão que faltava
Na mesa que o merecia
Na mão que o semeava
E o debulhava na eira
Punhos limpos na masseira
Crosta de ouro na fornalha
Chamava-se Catarina
A que por todos pedia
Mais justiça e reclamava
Uma bala assassina
No chão onde trabalhava
Fez de seu sangue papoila
Ao passo que Catarina
Que era moça trigueira
Seu último olhar lançava
Ao chão seco e dolorido
Do Alentejo que amava!
Lisboa, 10/9/2003
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