Uma noite de ópera
Fui assistir Lohengrin no Municipal, o teatro de ópera paulista erguido por Ramos de Azevedo nos moldes subdesenvolvidos do seu congênere de Paris, nem por isso deixando de ser belo e admirável. Foi restaurado há um certo tempo pelo prefeito Janio Quadros, ponto para ele.
Foram quatro horas e meia de magia, ao som das evolventes melodias de Wagner e com o desenvolvimento da trama cavilosa da feiticeira Ortrud e seu cônjuge Frederico de Telramund para destruir o casamento do cavaleiro misterioso com a desditosa Elsa de Brabante, através dos diálogos repletos de angústia concebidos pelo próprio Wagner como libretista. Um espetáculo muito bem montado e dirigido pelo por muitos odiado maestro John Neschling, talvez porque faça acontecer.
Uma beleza, mas é preciso dizer que, para entrar e sair no glorioso teatro há que passar por algo parecido, talvez, com o inferno. Os poucos ou mais de cem metros entre o estacionamento onde, por preço igual à metade do ingresso, se deixa guardado o carro, até a escadaria do teatro, há lixo acumulado por toda parte, mendigos e drogados pelo chão, cheiro de urina e quase fui atropelado por um dos desvairados skatistas que ali se divertem.
As classes A e B que, amantes da música, frequentam a nossa mais famosa casa de espetáculos já estão certamente acostumadas com essas mazelas e são forçadas a relevá-las, mas o que dizer dos estrangeiros, entre eles diversos atores e cantores, que não podem deixar de enxergá-las? Que impressão levarão da nossa grande e poderosa cidade para espalhá-la mundo afora?
Discutindo essa vergonha com meu filho, dei a minha opinião de que a prefeitura deveria tomar a peito a decisão de isolar o teatro e suas cercanias, ao menos nos dias de espetáculo, para evitar aos frequentadores esse desabonador cenário. A resposta veio pronta: “Não pode, é politicamente incorreto”.
É isso aí. Alguém tem sugestão de como resolver esse imbroglio?
23/10/2015
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