ANGOLA
Esquecida do mundo, sem o “glamour” dos grandes conflitos que vendem manchetes e mobilizam emções, Angola segue o triste destino do esquecimento em meio a a uma guerra que não tem fim, e que já plantou mais de doze milhões de minas nos lugares onde crianças brincam. De um lado a UNITA, composta por guerrilheiros que tentam dominar o país há décadas, e de outro o governo, que tenta se manter no poder a qualquer custo. No meio dessas duas forças está um solo riquíssimo em diamantes e um dos maiores lençóis de petróleo que se conhece. Ambos, reconhecidamente os maiores ícones da riqueza humana, embora extraídos à exaustão, não têm peso algum para a melhoria de vida de uma população paupérrima que vive em casas feitas de capim, desnutrida, miserável e doente. Enquanto o mundo lhe volta as costas, crianças perambulam como zumbis, com olhos baços pela desnutrição, sem ter mais lágrimas nos olhos para chorar, ou forças para faze-lo. Eis o que vi, um dia, ao olhar diretamente dentro dos olhos de algumas dessas crianças. Adentrei às suas almas e perturba-me ainda o que vi lá dentro: Clamores de agonia, súplicas silenciosas por piedade, que gotejaram incandescentes sobre minha vergonha, porpertencer aos que nada fazem. Gritos silenciosos de socorro, proferidas em nosso próprio idioma.
ANGOLA - OS ESQUECIDOS DE DEUS
J.B.Xavier
Em meio à luz há trevas
Há medos,
Há resquícios de tempestade...
Na fé, há dúvidas,
Questionamentos...
Em meio ao amor
Há riscos de traição...
Ha saudades,
Incompreensão...
Na pseuda segurança dos caminhos,
Há espinhos,
Minas que fazem
Pequenos cogumelos de poeira,
Misturando à areia,
O sangue de pernas
Desmembradas...
Há abismos em cada lado...
Há amores destroçados...
Segredos não revelados...
E no riso estranho da criança
Paira uma longínqua esperança de amor...
Nos olhos tristonhos
Há dor,
Desejos incompreendidos,
Sonhos
Não preenchidos...
Nos olhos há o brilho da inocência,
O baço da indecência
O bafo da decadência...
No olhar, lampejos de inconsciência...
Há uma luz,
Que me chama
Em repetidos apelos.
Mas há medos...
Há tiros por trás dos montes,
Há tempestades no horizonte...!
* * *
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