Morus, o autor de Utopia, foi um dos maiores humanistas ingleses no período que prenunciou o Renascimento na ilha. Grande amigo de Erasmo de Rotterdam, autor de O Elogio da Loucura, Morus caiu em desgraça ao se negar a aceitar Ana Bolena como rainha, a nova esposa de Henrique VIII. Foi guilhotinado.
Morus, a respeito de quem traduzi uma pequena biografia - ainda não lançada, pela Paulinas -, era uma personalidade singular. Extremamente temente a Deus, exigia seguir à risca os preceitos da Igreja Anglicana. Por outro lado, criava pavor nos filhos e criados ao fingir que estava sendo perseguido quando não estava. Era um homem sério e grave ao mesmo tempo que grande gozador.
Pode não parecer, mas não são muitos os exemplos de homens de letras que tenham levado suas posições às últimas conseqüências. Hoje discute-se se Walter Benjamin se matou verdadeiramente ou se foi morto pelos nazistas. Lorca foi fuzilado. Abelardo foi castrado. Spinoza preferiu a auto-reclusão. Rousseau fugia a torto e a direito, com ou sem razão para tal.
Boa discussão seria se o academicismo moderno - o quase monopólio do pensamento pelos professores - não teria acabado por distanciar o mundo das idéias do comprometimento político com as mesmas. Uma coisa é condenar Heidegger por ter apoiado o regime nazista. Outra coisa é insistir numa posição até a guilhotina cortar nossa cabeça. Ao que parece, de uns tempos para cá tornou-se mais condenável ficar calado do que insistir em uma posição determinada. Quem assim faz hoje torna-se taxado de utópico.
Não deixa de ser uma boa homenagem ao criador do neologismo.