Usina de Letras
Usina de Letras
176 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62190 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10352)

Erótico (13567)

Frases (50594)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Fenômeno, Talvez Dois -- 26/09/2003 - 08:22 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Não sou mago, não leio mãos, não leio runas ou tarô, não jogo búzios. Entretanto no artigo "Os Perigos da Hipocracia, http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=12137&cat=Artigos

acertei na mosca ao prever o deslumbre dos que chegam ao poder. O artigo abaixo, oportuníssimo, clareia melhor o que digo.





Fenômeno, Talvez Dois

Roberto Wagner de Almeida



Deu nos jornais: a Presidência da República abriu licitação, ao preço pré-ajustado de 23 mil reais, para a construção de um aviário no Palácio da Alvorada. Segundo o jornalista Carlos Chagas, falando de Brasília para a Rádio Jovem Pan na última quarta-feira, trata-se de uma exigência de dona Marisa Letícia, que quer criar galinhas na residência oficial. Chagas, insuspeito por ser até hoje um crítico impiedoso de Fernando Henrique Cardoso, garante que "o casal real" (expressão dele) encomendou o projeto do aviário a ninguém menos que Oscar Niemeyer, especificando que o galinheiro precisará ser subterrâneo, para que as galinhas de dona Marisa fiquem a salvo do ataque dos gaviões do Planalto. A "Folha", por sua vez, publicou interessante matéria comparando o arrocho que o governo está impondo no país, até nos investimentos sociais, com a prodigalidade dos gastos destinados ao conforto e ao luxo de Lula e dona Marisa no Palácio do Planalto e na Granja do Torto.



As licitações já abertas incluem, entre outras mordomias, a construção de um ginásio esportivo, com sala de fisioterapia, no Palácio do Planalto (R$ 62.500), ampliação da churrasqueira e do salão da Granja do Torto (R$ 92.127) - onde, vale lembrar, antes já se construiu campo de futebol devidamente iluminado para que Lula possa jogar à noite com os amigos -, enxoval para o Palácio da Alvorada, que inclui 160 jogos americanos coloridos (R$ 15.200), material de cama em que figuram roupões de banho que sejam confeccionados necessariamente com fios de algodão egípcio (R$ 152.637), travessas de prata, guardanapos e xícaras novas (R$ 19.963), equipamento de mergulho (R$ 38.160), quatro máquinas fotográficas digitais (R$ 5.760), e vai por aí afora. À parte essas compras que precisaram ser expostas no Diário Oficial da União, divulgou-se também que, além do hábito de fumar charutos necessariamente cubanos, Lula adquiriu agora o de usar cigarrilhas necessariamente holan desas. E a festa vai continuar, porque no orçamento federal encaminhado ao Congresso aumentaram-se as verbas destinadas ao Gabinete da Presidência: serão 70,7% a mais do que se gastou este ano. Devem vir galinheiro com poleiros dourados e costela de vaca temperada com sal grosso e Romanée Conti.



E ainda se estranha que o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Maurício Corrêa, tenha declarado à revista "Veja" desconfiar que Lula esteja deslumbrado com o cargo: "É um operário que chegou ao poder. Isso é lindo, mas alguém que tem helicóptero e jato à disposição, que desce onde quiser, tem aquela criadagem toda, até aquelas mulheres bonitas que vão lá visitá-lo, pode mudar de comportamento. Isso tudo encanta". Pode-se argumentar, e eu concordo, que a entrevista do presidente da nossa Suprema Corte foi inconveniente. Mas não se pode negar que ele só disse verdades, como, aliás, admitiu de público o insuspeitíssimo senador Eduardo Suplicy, do PT de São Paulo, cuja dignidade já me levou a lhe confiar o meu voto em duas oportunidades. E tem mais gente boa percebendo isso. Roberto Mangabeira Unger, o brasileiro que leciona na Universidade de Harvard e já foi o guru de Ciro Gomes, afirmou em recente artigo: "O tom do regime é o de uma pequena burguesia entusiasmada com os confortos mais vulgares - desde os robes de algodão egípcio até as comilanças intermináveis. As fisionomias desfibradas e sorridentes, as figuras fofas e gozadoras, pródigas em brincadeiras, bebedeiras e choradeiras, dadas a comer, a viajar e a falar, mas sem apetência para fazer, construir e inventar, a frouxidão generalizada nas mentes e nos corpos encarnam deboche que o país prefere desconhecer. (...) Que conclusões devemos depreender desse desastre, que é moral e intelectual antes de ser político ou econômico? A primeira conclusão é que o PT se está revelando um desvio na história do Brasil. Veio, com a ajuda da igreja e da intelectualidade, para substituir o velho trabalhismo brasileiro. A substituição não presta: acabou em rendição". ("Folha", 26/08/03, página A2).



Há algum tempo eu venho afirmando neste espaço que estamos vivendo, sem que tivesse havido a devida alteração no texto da Constituição, um parlamentarismo monárquico. Temos um monarca do agreste que se aplica noite e dia às agradáveis funções turísticas, oratórias e gastronômicas de chefe de Estado, enquanto dois ex-parlamentares dividem as tarefas de primeiro-ministro, incumbindo-se de governar o país. E um deles o faz com um chicote stalinista na mão, para vergastar os próprios companheiros que ousem cobrar-lhe coerência com o programa do partido e com as promessas feitas ao eleitorado. Configura-se, a cada dia, o maior estelionato eleitoral de que se tem notícia, superior até mesmo ao de Collor de Melo, pois nunca se soube que o galã das Alagoas declarasse, após chegar ao poder, amar os marajás que havia prometido combater, enquanto Lula já proclamou que não é e nunca foi esquerdista. Louve-se, pelo menos, a sua sinceridade. De fato, não poderia ter sido jam ais esquerdista quem agora governa de braços dados com Antônio Carlos Magalhães, José Sarney, José Martinez Corrêa, Paulo Maluf, Orestes Quércia, Newton Cardoso e Jader Barbalho, a cujos seguidores premia com um vergonhoso loteamento de cargos, não faltando o apoio à indicação do senador Luiz Otávio a uma vaga no Tribunal de Contas da União, com a credencial de ter sido acusado de crime contra o sistema financeiro, por atestar o recebimento de balsas financiadas pelo BNDES que não tinham sido sequer construídas.



Não pode mesmo ter sido jamais esquerdista quem agora dá uma banana a seu amigo Luiz Eduardo Greenhalg, determinando recurso contra a medida judicial por ele obtida para obrigar o Exército a revelar documentos sobre o destino dos mortos da guerrilha do Araguaia. Outro permanente crítico de Fernando Henrique Cardoso, o jornalista Jânio de Freitas, assim comentou essa atitude do governo: "É das mais assombrosas e deprimentes decisões governamentais de que os meus já exagerados anos de jornalismo me fizeram contemporâneo. Passados 30 anos, um terço de século, e impedir ainda que mães, pais e filhos tenham meios reais de recolher os restos de seus parentes desaparecidos, é mais do que assombroso e deprimente: é abjeto, é indigno". Isso explica, também, por que milhares de membros históricos do partido de Lula e José Dirceu lançaram o manifesto "Resgate do PT", protestando contra o desvio ideológico e moral do governo que ajudaram a eleger, enquanto parlamentares qu e tentam manter a coerência são suspensos ou expulsos sob o chicote stalinista.



O parlamentarismo de que eu falava foi detectado também pelo presidente do Supremo Tribunal Federal: O governo tem dois pólos que atuam como czares. Um é Antônio Palocci, da Fazenda, o outro é José Dirceu. O presidente Lula flutua no meio "dos dois, viajando para o exterior mais do que Fernando Henrique Cardoso e fazendo discursos Brasil afora, modulando o tom de acordo com os locais onde está". E concluiu: "Lula deve ao país e aos seus eleitores uma explicação mais honesta a respeito da agenda adotada. Será que ele fazia aqueles discursos durante a campanha para alcançar o poder e depois mudar de opinião ou foi a realidade do poder que o transformou?" O certo é que, segundo "O Globo" de 29 de agosto, o orçamento do governo petista para o próximo ano reduz os investimentos sociais. Embora os números absolutos, nessa área, passem dos R$ 35 bilhões de 2003 para R$ 42 bilhões em 2004, os investimentos sociais que, no orçamento deixado por Fernando Henrique Cardoso , este ano representam 72,2% da receita total, em 2004, no primeiro orçamento de Lula, representarão 70,2%. Reforma agrária? A meta anunciada por Lula era de assentar 60.000 famílias em 2004, mas a verba orçamentária para esse fim só dará para assentar 25.000. Programas para os mais pobres? O governo anterior aceitava os dados do Censo de 2000 e admitia existirem 9,3 milhões de pobres no Brasil, destinando-lhes ajuda. No orçamento de 2004 o Governo Lula "deflaciona" esse número e considera existirem 7,6 milhões de pobres a serem atendidos. Mas uma coisa, pelo menos, o orçamento petista aumenta: a carga tributária terá R$ 7,6 bilhões a mais do este ano. Prepare o bolso.



Agora, me ajude a entender o seguinte. Se o Papa, tendo assumido o trono do Vaticano, começasse a dar entrevistas defendendo as guerras, pregando a prática indiscriminada do aborto e recomendando a poligamia, se começasse a lotear os cargos mais altos da Santa Sé para entregá-los a muçulmanos, zen-budistas e evangélicos pentecostais, se passasse a ser visto pelas ruas de Roma ao volante de uma Ferrari conversível, usando óculos escuros, bermudas e camiseta regata, com um dragão tatuado no braço, brincos de pirata nas orelhas, piercing no nariz, penteado punk, dizendo não ser e nunca ter sido cristão, e ameaçando com excomunhão quem lhe cobrasse coerência, os católicos continuariam a apoiá-lo, a aceitá-lo como seu líder, dizendo "está tudo bem, o Papa é infalível, nós é que temos de nos adaptar"?



Desconfio que não. Então, meu caro leitor, por favor me explique como, diante de tudo isso, 45% do povo brasileiro ainda acha que o Governo Lula é ótimo ou bom. E, acredite se quiser, esse percentual sobe para 48% entre os brasileiros com curso superior! Qual dos dois é o maior fenômeno: Lula ou o povo brasileiro?





Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui