É madrugada. O alarme do celular começa a tocar. Você, sonolento, procura-o de todo jeito. Quer desligar o alarme e dormir mais dez minutinhos. E como são bons esses dez minutinhos! Muitas vezes temos a sensação de que esses dez minutos são dez horas. O dia já raiou. Você levanta da cama, abre as cortinas, e se depara com a claridade do dia. Uns reclamam, outros xingam todas as palavras e palavrões. É hora de levantar pra ir trabalhar.
O trabalho parece um peso, um fardo incómodo. E você pensa: por que tenho que trabalhar ? Não aguento mais. Bem que eu podia ser muito rico pra não precisar trabalhar mais! Dessa forma, iria passar minha vida viajando, gastando dinheiro, transando, e me divertindo de todas as formas possíveis e impossíveis.
O tempo passa...
Você casa. Você tem filhos.
O tempo passa...
Você continua trabalhando.
O tempo passa...
Você envelhece.
O tempo passa...
Teus filhos cresceram.
Teu marido ou tua esposa se foram, ou porque o casamento acabou, ou porque a morte levou um dos dois.
Teus filhos começaram a namorar.
Teus filhos casaram.
O tempo passa...
Teus filhos foram seguir suas vidas.
O tempo passa...
Pra que serve o dinheiro da sua conta?
Pra que servem os bens que você adquiriu ao longo dos anos?
Agora você está sozinho. O que mais pode dar sentido à tua existência? O dinheiro? Os teus filhos que já tomaram cada um seu rumo? O teu esposo ou esposa que já se foram?
Não!
O que dará sentido a tua vida é o trabalho. É no trabalho que a vida ganha sentido. É no trabalho que crescemos como pessoas, como profissionais e como espíritos.
Todos os dias observo um senhor no meu trabalho. Ele tem 70 anos. É um subtenente reformado do Exército, que se aposentou em meados da década de 1990. É um homem forte, saudável, filho de uma índia do Amazonas e de um cearense. Uma boa mistura, por sinal. Juntou-se na mesma pessoa a força do nordestino com a longevidade indígena. E detalhe: ele é o chefe da seção de serralheria do meu batalhão.
E trabalho de serralheiro, meu amigo, não é moleza não!
Será que ele reclama de trabalhar?
A resposta: é o primeiro a chegar no quartel... e um dos últimos a sair!
Certa vez lhe perguntei, com minha visão limitada de um homem de trinta anos: senhor Ernesto, porque o senhor não vai viajar, passear com sua esposa e etc, etc, etc?
Ele me respondeu: capitão, já fiz isso tudo. E digo pro senhor: eu gosto de trabalhar. Passei seis meses viajando, e fazendo tudo isso que o senhor me perguntou (ligeiro o velho índio!hehe). E sabe de uma coisa: sem trabalho, a vida perde o sentido. Dinheiro preenche a conta, mas não a alma. E é o trabalho que dá energia e vitalidade para a alma!
Muito sábio o velho índio! Não acha?
Quantas pessoas entram em depressão depois da aposentadoria.
Quantas pessoas enfartam depois da aposentadoria.
Quantas pessoas morrem depois da aposentadoria!
Tá reclamando porque tem que trabalhar?
Vai ter uma conversa com o velho, digo, jovem, digo, forte...índio Ernesto!