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Cartas-->CARTA AO POETA CRISTINO CORTES -- 18/02/2008 - 22:58 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Teresina, Piauí, 12 de fevereiro de 2008

Meu Prezado Amigo
Poeta Cristino Cortes

Para matar um pouco da sua curiosidade: – o Estado do Piauí, cuja Capital é Teresina, mais ou menos com 1 (hum) milhão de habitantes (só a Capital), fica na Região Nordeste Ocidental, ao lado do Maranhão (Capital - São Luís), com o qual temos limite pelo Oeste. Ao Leste, nos limitamos com o Ceará, Estado da Região Nordeste, a mais seca e a mais pobre do país, mas isto não impede que Fortaleza, a Capital, tenha hoje 4 milhões de habitantes e seja uma região de muita produção agrícola, muita praia, muito peixe, muito turismo. Ao Sul, o limite do Piauí é com a Bahia; e ao Norte, temos o Oceano Atlântico. Nosso Piauí, em turismo, ainda está começando, mas possuímos o Parque Nacional das Sete Cidades, o Parque Nacional da Serra da Capivara (onde foram encontrados fósseis e restos do homem mais antigo das Américas, cerca de 60 mil anos atrás). Tudo mais que se disser para contestar esta informação, não vale nada, porque não há provas. Já para os nossos fósseis, há. E outra coisa singular: temos ainda, no nosso litoral, coberto de lindas e virgens praias, o Delta do Parnaíba (só existem 3 no mundo, em mar aberto) e o nosso é o mais lindo. Você está convidado para visitar essas maravilhas quase desconhecidas. Os europeus estão nos descobrindo agora. Culturalmente somos atrasados como quase todo o Brasil, exceto o triângulo Rio - São Paulo - Belo Horizonte, mais uns dois ou três Estados como Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco e Bahia. Somos ao todo 27 Estados, uns grandes e outros pequenos.
Bem, mas recebi sua carta de 27 de janeiro de 2008, e o principal objetivo desta é dar uma pequena opinião sobre o que li de seus livros, especialmente sobre a poesia portuguesa – o soneto – que acho coisa muito estranha. Com a carta vinha um pacote de livros que, no meu entendimento, completarão meu aprendizado de como se faz soneto em Portugal de hoje. Mas, no capítulo – obra publicada – eu gostaria de receber, mesmo que tivesse que pagar o preço justo, uma antologia (escolar) da poesia portuguesa hodierna. Quando passei por Lisboa, o tempo não foi suficiente para ir a uma livraria e comprar, tal como o fiz em Madrid, Paris e Roma.
Grato pelo elogio que me fez na carta pelos “Sonetos Escolhidos” e também pela observação de quebra dos versos finais, na pontuação principalmente. É uma estratégia em busca de um melhor ritmo, melhor sonoridade e mais justeza cadencial e do discurso em si mesmo. Soneto dá muito trabalho, mas gosto do soneto camoniano, gosto de todos os clássicos (barrocos, arcádicos, etc.) até Guerra Junqueiro, Antero de Quental e outros; dos modernos, cito Fernando Pessoa. A literatura brasileira nasceu das fontes clássicas, criou asas, e hoje é outra, você não concorda? O soneto, em Portugal tem mudado muito, me parece descaracterizado, perdeu a noção do ritmo e da cadência. Alguns podem dizer: “Não, são outros ritmos”. Com o que não concordo. O soneto é forma fixa como a trova e mais algumas espécies que sobreviveram. Ele deve sobreviver. Seus poemas, caro Cristino Cortes, são bastante trabalhados, sentidos e pensados. Não obstante se apresentem em linhas longas de 10 e até 12 sílabas ou mais, o ritmo é da redondilha maior ou menor, basta que se agucem os ouvidos. Não desmerecem, ao contrário, pois seguem também a tradição portuguesa ocidental. Porém, o decassílabo está sendo menosprezado ou sendo usado de forma irregular, sem necessidade alguma. Você, ao que me parece, abandonou várias formas tão usadas na língua (aféreses, sincópes, apócopes e outras causadas pela supressão ou acréscimo de vogais, consoantes, aquilo que se faz até na língua falada). No verso, são as tais licenças poéticas. É bom, é bonito, eu continuo com a mania da boa sonoridade. Mas, semioticamente, notei em você a busca da perfeição, da justeza do texto, e também do amor pelas metáforas e metonímias, o que faz a riqueza de qualquer poemática: e a sua é, na verdade, uma poemática substantiva. Enfim, Portugal já tem outro sistema de verso. E não haveria de tê-lo? Há tantos anos que a literatura daí não é a daqui! Dentro dessas considerações, gostei de ler seus “sonetos”, que os leio como uma poesia livre. Gostarei de conhecer todo esse panorama da poesia portuguesa que você me entrega. Admira-me muito não haver mercado na Europa para a literatura. Aqui não temos, principalmente para a poesia, mas nossa cultura é rala, o analfabetismo ainda não foi abatido, andamos muito pela trilha dos “americanos”, vendo seus filmes e copiando sua televisão, enchendo-nos, por outro lado, da língua deles, no que diz respeito ao vocabulário. Porque o português felizmente ainda é entendido no Brasil, em Portugal e em mais outros lugares. Quem dera os homens da política tomassem a pulso um acordo que unificasse nossa ortografia! Seria melhor, mais uma força, mais uma coesão.
Gosto de traduzir, tenho traduzido das revistas “Jalons” e “Clarín”, esta de Espanha, que recebo regulamente. O “Suplemento Das Letras das Artes”, de Porto, parece que não quer mais publicar poesia. Ah, meu Deus, que foi que deu na cabeça desses editores?! Gosto de traduzir, sim. Traduzo muito do espanhol e do francês; do inglês, pouco. Das demais línguas, não consigo. Há mais ou menos uma meia dúzia de peças do meu livro de sonetos que são traduções. Tudo o mais é meu, inclusive os sonetos de “Tempo contra Tempo”, que é um livro por mim editado, e por nós concebido em parceria: Hardi Filho e eu. Agora lhe ofereço esse livro e você vai ter a oportunidade de uma leitura completa, já que não conhece os sonetos do poeta Hardi Filho. Vai também a revista “Literatura”, editada antes em Brasília, mas agora em Fortaleza, que publica a produção da minha geração – anos 60 para cá.
E, ainda, complementando o que foi dito antes sobre a tradução: – ela aproxima as pessoas de outras línguas e, da maneira como eu faço, é também criação. Pois não fico muito colado à letra, mas ao sentido, ao ritmo, às rimas (se as há) e à própria mensagem.
Bom, meu amigo, a carta está grande demais, virou jornal e isto não é aconselhável para os tempos modernos, mas vamos que é praticamente a primeira vez e eu gostaria de apresentar-me literariamente como o fiz. Para me conhecer mais, acesse a internet, nos seguintes endereços:
http://www.usinadeletras “http://cirandinhapiaui.blogspt.com” e http://franciscomigueldemoura.blogspot.com

Saúda-o, afetuosamente, este poeta e amigo


FRANCISCO MIGUEL DE MOURA (ou Chico Miguel)

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