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Artigos-->NO PAÍS DOS KRAHO -- 01/04/2000 - 22:07 (Francisco Leme Galvão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No país dos Krahó



No vale do Tapajós, viviam três tribos: os Waurá, os Xikrin e os Krahó. Em cada uma delas a população ativa estava igualmente dividida em: produtores de alimentos, em produtores de armas e habitações, e em produtores de roupas e utensílios cerâmicos.

As tribos não tinham contato entre si e, entre os Waurá a troca de mercadorias era feita com conchas pretas, entre os Xikrin com contas azuis e entre os Krahó com caramujos furta-cor.

Todos estes objetos sendo bastantes raros na região, isto permitia aos caciques dozarem suas distribuição em função da produção evitando assim a inflação.

Certa vez, o deus Tupã, desejando testar a sabedoria dos pajés das 3 tribos, presenteou-os com uma máquina que fabricava alimentos, prometendo que voltaria dentro de um ano com novos presentes.

O pajé dos Waurá colocou sua máquina em funcionamento e pediu ao cacique que ordenasse e ensinasse aos que até então produziam alimentos, a fabricar adornos e separasse alguns membros para tentar copiar a máquina de Tupã adaptando-a para produção de armas.

Também muito sabiamente aumentou o número de conchas pretas em circulação de modo proporcional ao novo nível de produção, de modo que no retorno de Tupã, este os encontrou trabalhando tanto quanto antes, mas 30% mais ricos. Com uma pequena ajuda de Tupã completaram a nova máquina de fazer armas e passaram os fabricantes de armas para a construção de barcos gigantes, e assim:

Para os Waurá as máquinas significaram riqueza.

Já o pajé dos Xikrin, colocou sua máquina em funcionamento, mas ao invés de criar novas tarefas pediu ao cacique que redistribuísse as tarefas de modo que metade da população ativa produzisse roupas e utensílios, e a outra metade armas e habitações.





Tambem determinou que toda a população passasse a trabalhar apenas dois terços do tempo de trabalho anterior.

Muito sabiamente não aumentou o número de conchas azuis em circulação, e assim Tupã ao retornar os encontrou com o mesmo nível de riqueza, mas muito mais felizes pois o aumento das horas de lazer lhes permitia mais tempo para festas, banhos de rio e folguedos de toda espécie.

Muito se alegraram com uma nova máquina que Tupã lhes ofereceu pois:

Para os Xikrin as máquinas representaram maior lazer.

Já o pajé dos Krahó simplesmente colocou sua máquina de alimentos em funcionamento sem alterar coisa alguma, mesmo porque tinha rixas com o cacique. Como resultado, pouco tempo depois, este foi obrigado a paralisar a máquina face aos violentos protestos dos ex-fabricantes de alimentos que ficaram sem como obter caramujos furta-cor para comprar nem mesmo seu próprio alimento.

Assim quando Tupã regressou eles lhe imploraram que não lhes dessem novas máquinas pois:

Para os Krahó as máquinas representaram o desemprego a miséria e a discórdia. Tupã atendeu sorrindo (para ele esta estória de “labor intensive” x “capital intensive“ já era velha conhecida) e aconselhou que guardassem a máquina, meditassem sobre o assunto, e continuassem a viver como sempre. E se foi por mais um ano.

. . . .

Foi então que o saci-pererê que acompanhara tudo de longe sugeriu ao pajé dos Krahó que ele poderia colocar a máquina em funcionamento, desde que os produtores de alimentos passassem a fabricar adornos exóticos para vender aos Waurá que eram muito ricos e podiam pagar com alguns barcos gigantes.





E assim se fez, mas os incansáveis Waurá por sua vês colocaram na troca uma máquina de fazer cerâmicas que o cacique Krahó entregou para seus filhos, que passaram a ter mais caramujos que os demais membros da tribo, sendo que muitos deles continuaram sem emprego.

Tentando criar mais empregos, obter mais barcos gigantes e saldar suas dívidas com os Waurá, os Krahó cada vez mais se descuidaram de suas trocas internas de mercadorias e da distribuição eqüitativa de caramujos. Em conseqüência tinham que trabalhar sempre mais e enviar quantidades crescentes de seus produtos e de suas máquinas para os Waurá que ficavam cada vês mais ricos, pois não concebiam o lazer.

. . .

Enquanto isto os Xikrin, já tendo máquinas para tudo viviam de papo pro ar pois o cacique distribuía iguais quantidades de contas azuis para todos em função dos produtos produzidos pelas máquinas, os quais cada um comprava ou não, conforme lhe apetecesse.

Mas quando o saci pererê levou até eles a nova máquina de fazer fogo dos Waurá, eles também não resistiram, e derrubando a cerca que separava seu território dos das duas outras tribos, entraram na dança do troca-troca.

Em pouco tempo a confusão passou a ser completa pois ninguém mais conseguia controlar com quantas contas azuis se pagava uma concha preta, ou um caramujo, etc. e então os tacapes e flechas começaram a funcionar aqui e acolá.

Quando Tupã retornou novamente, mal podia crer no que via, era luxo, pobreza, desemprego, lutas e rixas por toda parte. Não teve dúvidas. De sua nave espacial, acionando seu canhão a “laser” destruiu aquelas tribos insensatas.

E tmabem com elas de quebra, liquidou o sací-pererê.



OBS: Será que o nome correto do saci-pererê não seria: globalização?



eng. Francisco Leme Galvão

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