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Cartas-->Olavo de Carvalho lança dois livros -- 26/09/2007 - 10:09 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Livros

Crise e barbárie

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2309200710.htm

Olavo de Carvalho usa crítica cultural e teoria da história para mostrar o mundo como expressão de uma "crise da civilização"

RICARDO MUSSE (*)

ESPECIAL PARA A FOLHA

A publicação simultânea de dois volumes, reunindo livros e estudos esparsos segundo o plano organizado pelo autor, delineia de forma ainda mais nítida o projeto intelectual do sr. Olavo de Carvalho.

"A Dialética Simbólica" congrega estudos teóricos, concernentes à interpretação da cultura, e, como aplicações, análises de três filmes e de uma peça teatral. A parte teórica debruça-se sobre os fundamentos da produção simbólica a partir da experiência individual e desenvolve uma teoria dos gêneros literários, considerados como realidades arquetípicas que operam como "esquemas de possibilidades".
Seus pressupostos teóricos, no entanto, afloram de forma cristalina quando postos em ação nos exercícios críticos. O artigo mais longo do livro analisa o filme "O Silêncio dos Inocentes", dirigido por Jonathan Demme. Procura demonstrar que não se trata de um mero drama policial e psicológico, mas de uma narrativa "iniciática", de um embate entre o bem e o demoníaco à maneira dos autos medievais.
Essa forma artística também serve de padrão para o estudo da peça "Agnes de Deus", de John Pielmeyer. Carvalho identifica nesse drama uma deturpação da fórmula do auto cristão que atribui a uma confusão entre espiritualidade e psiquismo. Esse embaralhamento impede o espetáculo de suscitar a conversão ou mesmo despertar a consciência religiosa, descumprindo o sentido moral e pedagógico da arte.

A inaptidão para abordar o sobrenatural e configurar o mal como demoníaco denotaria um traço profundo do mundo contemporâneo: a perda de capacidade de discernir entre fenômenos psíquicos e místicos, característica comum tanto à intelectualidade como aos próprios representantes da igreja.

Essa perspectiva é complementada nos comentários aos filmes "Aurora" (de F.W. Murnau) e "Central do Brasil". No primeiro, Carvalho destaca a presença da providência divina por meio de um encadeamento entre o natural e o sobrenatural. O filme de Walter Salles, visto como uma jornada em busca da "família originária, da religião antiga, da raiz autêntica", é saudado por adotar um ponto de vista "conservador e antimoderno".

Em linhas gerais, Carvalho compõe uma filosofia da cultura assentada na defesa dos princípios metafísicos próprios das civilizações antigas e no combate à "perda do sentido simbólico do universo" por conta "de uma vivência mais terrestre, temporalizada e empírica".

Sua visão da cultura articula-se ponto a ponto com a teoria da história exposta em duas conferências proferidas no exterior, reunidas na segunda parte de "O Futuro do Pensamento Brasileiro". Carvalho filia-se explicitamente à linhagem que avalia o mundo contemporâneo não como uma realização do progresso, mas como um ocaso, expressão de uma "crise da civilização" que já é o adentrar na barbárie.

Um dos sintomas desse estado de coisas é a perda da perspectiva histórica, isto é, a "presentificação" das experiências, o que impossibilita o auto-exame da sociedade por excluir outras épocas históricas como termo de comparação. Essa espécie de "cronocentrismo", a recusa a levar em conta as vozes do passado, o controle da história é apenas um braço da "administração impessoal do mundo" que "se arroga o poder de dirigir a vida do espírito".

Consciência coletiva

Essa situação decorre da dissolução das prerrogativas da consciência individual autônoma, tal como firmadas pelos profetas hebreus, pela filosofia grega e pelo cristianismo. Trata-se, segundo Carvalho, do resultado de um processo de fortalecimento da consciência coletiva, iniciado no Renascimento, consolidado pela ciência moderna e que tem seu ápice na Revolução Francesa com a prevalência da "opinião pública" e da "vontade geral".

Fecho de um processo de dessacralização, o mundo moderno configura-se como um poder antiespiritual. Carvalho sabe que sua resistência ao predomínio do materialismo não dispõe mais de bases na vida social, na "sociocultura". Vê exceções apenas em nichos de religiosidade, no islamismo, na ortodoxia judaica e na vertente tradicionalista do catolicismo.

Carvalho escolhe então como campo de combate a cultura, compreendida como esfera de valores universais. Seu alvo prioritário será o que denomina de "sacerdócio das trevas" -o kantismo, o hegelianismo, o marxismo, o positivismo, o pragmatismo, o nietzscheanismo, a psicanálise, a filosofia analítica, o existencialismo, o desconstrucionismo etc.-, correntes intelectuais que "transferem o encargo de conhecer a verdade do indivíduo para a coletividade".

Esse mesmo diapasão de crítica cultural é aplicado ao pensamento brasileiro. Acusa-o de imprevidência e inconsciência, por sua despreocupação com o futuro. A cultura brasileira, orientada majoritariamente para a autodefinição da especificidade nacional, tende a supervalorizar o popular, o antropológico, o documental em detrimento de "valores supratemporais".

Mas se a cultura brasileira carece de unidade, existem quatro manifestações do gênio individual que podem redimi-la, as obras de Mário Ferreira dos Santos, Otto Maria Carpeaux, Miguel Reale e Gilberto Freyre. Desenvolver as trilhas abertas por essas quatro vertentes, eis o programa ao qual o sr. Olavo de Carvalho jura fidelidade irrestrita.


(*) RICARDO MUSSE é doutor em filosofia e professor no departamento de sociologia da USP.


A DIALÉTICA SIMBÓLICA

Autor: Olavo de Carvalho
Editora: É Realizações (tel. 0/xx/11/5572-5363)
Quanto: R$ 77 (352 págs.)


O FUTURO DO PENSAMENTO BRASILEIRO

Autor: Olavo de Carvalho
Editora: É Realizações (tel. 0/xx/11/5572-5363)
Quanto: R$ 69 (288 págs.)


***

Comentário

Félix Maier

Não li nenhum dos dois livros acima citados. Dentre a obra que conheço sobre Olavo, acredito que seu ensaio O Jardim das Aflições seja sua obra-prima. Vale a pena encomendar esse livro também.

Abaixo, algumas pílulas de sabedoria de O Jardim das Aflições" (*):

“Do ponto de vista uspiano, um economista marxista é mais filósofo que qualquer filósofo liberal” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 37).

“A opção pela verdade deve ser refeita diariamente, entre as hesitações e dúvidas que constituem o preço da dignidade humana” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 63).

“Não há consciência moral, nem conhecimento objetivo, sem algum sofrimento psíquico voluntário, sem o sacrifício ao menos temporário da harmonia interior em vista de valores que transcendem os interesses imediatos do organismo psicofísico"”(Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 64).

“A Idade Média é um bode expiatório das culpas de períodos posteriores, que a sua fama inquisitorial obedece à definição stendhaliana da fama: conjunto de equívocos que a posteridade tece em torno de um nome” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 36).

“A Idade Média foi denegrida, no início da Renascença, por vícios que realmente pertenciam aos seus detratores; a História oferece muitos exemplos de ‘censura transferida’... Essa impressão sobre a Idade Média é parcialmente um produto dos ‘Romances Góticos’ do século dezoito, com seus quadros sombrios de câmaras de tortura, teias de aranha, mistério e desvario” (Lewis Mumford, in “A Cultura das Cidades”, trad. de Neil R. da Silva, Itatiaia, Belo Horizonte, 1961, pg. 23 – cit. in “O Jardim das Aflições”, pg. 36).

“Quando hoje vemos hordas de intelectuais ativistas lutando para que o aborto se torne um direito inviolável, para que manifestações de antipatia a qualquer perversão sexual sejam punidas como delitos, para que a interferência dos pais na educação sexual dos jovens se limite à instrução quanto ao uso da camisinha, para que a Igreja abençoe a prática da sodomia e castigue quem fale contra, é forçoso admitir que algo, agindo sobre essas pessoas, destruiu nelas a intuição moral elementar” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 66-7).

“Mais que o século das ideologias, mais que o século da física atômica, mais que o século da informática, este foi o século da escravização mental” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições, pg. 69).

“Em 1940, o romance de Arthur Koestler, ‘Darkness at Noon’ (‘O Zero e o Infinito’), deu ao público Ocidental uma imagem vívida dos processos de tortura psíquica que levavam os prisioneiros soviéticos à perda da identidade” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 83).

“A destruição da religiosidade popular tradicional – atacada de um lado pelos materialistas e de outro pela ideologia da New Age – não produziu nenhum ‘esclarecimento’ ou ‘iluminação coletiva’, mas sim um rebaixamento sem precedentes do nível de consciência das multidões” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 89).

“O típico intelectual exasperado de hoje defende sistematicamente reivindicações contraditórias: liberação do aborto e repressão ao assédio sexual, moralismo político e imoralismo erótico, liberação das drogas e proibição dos cigarros, destruição das religiões tradicionais e defesa das culturas pré-modernas, democracia direta e controle estatal da posse de armas, liberdade irrestrita para o cidadão e maior intervenção do Estado na conduta privada, anti-racismo e defesa de ‘identidades culturais’ sustentadas na separação das raças, e assim por diante” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 90-91).

“Pervertendo nos homens a capacidade para o juízo de realidade, o ativismo intelectual acaba por reduzir a linguagem a nada mais que um instrumento de expressão de raivas insensatas e exigências descabidas, que não têm satisfações a prestar à razão, ao bom senso e ao mais elementar sentimento de humanidade” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 91).

“O ateísmo, em geral, é uma opção de juventude, prévia a qualquer consideração racional do assunto, e uma vez tomada não lhe resta senão racionalizar-se a posteriori mediante artifícios que serão mais ou menos engenhosos conforme a aptidão e a demanda pessoal de argumentos. Não se conhece um único caso célebre de pensador que tenha chegado ao ateísmo na idade madura, por força de profundas reflexões e por motivos intelectuais relevantes. Ademais, toda fé religiosa coexiste, quase que por definição, com as dúvidas e as crises, ao passo que o ateísmo militante tem sempre a típica rigidez cega das crenças de adolescente. O ateísmo militante é, pos si, um grave sinal de imaturidade intelectual” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, rodapé da pg. 100).

“A capacidade das esquerdas mundiais para justificar em nome de uma utopia humanitária as piores atrocidades do regime comunista – e, exterminado o comunismo na URSS, para continuar a pregar com a maior inocência os ideais socialistas como se não houvesse nenhuma relação intrínseca entre eles e o que aconteceu no inferno soviético – é uma herança mórbida que, através de Marx, veio do epicurismo” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 108).

“Os homens não se movem por conceitos, e sim por impressões. Apenas, o homem movido por impressões não sabe para onde se move, e por isto a ciência de produzir impressões é cultivada com esmero por todos aqueles que têm a ambição de conduzir os povos” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 122).

“A Nova Era adere maciçamente a metafísicas orientais ou pseudoorientais, que para o marxista são mera ideologia feudal e para o epicurista uma abjeta escravização do homem aos deuses. Quanto à PNL, inspira-se num kantismo radicalizado, hipertrófico, que vê no mundo a mera projeção dos nossos pensamentos – hipótese que o marxismo rejeita como idealismo burguês” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 123).

“Só a burguesia troca o mundo real por uma projeção subjetiva; o proletariado vê a realidade” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 124).

“O processo iniciado por Nicolau de Cusa encontrará sua culminação quatro séculos depois com Augusto Comte, que fará explicitamente da ciência natural uma religião, e da casta científica um clero” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 149).

“No século XIX, o ocultismo e o espiritismo, amplamente disseminados entre as camadas letradas, explicarão o espírito como uma sutilização ou diluição da matéria, isto é, como matéria rarefeita. Mas ao mesmo tempo que os ‘espirituais’ Allan Kardec e Madame Blavatski restauravam assim sem sabê-lo a física epicúrea, o materialista Karl Marx redigia sua defesa de Epicuro contra Demócrito. Coincidência nada fortuita: o afluxo maciço de militantes socialistas às fileiras do espiritismo e do ocultismo – um dos fenômenos mais marcantes da vida mental das classes letradas do século XIX – mostra a existência de uma afinidade entre essas duas correntes de idéias aparentemente antagônicas, afinidade que se explica facilmente pela sua origem comum na cosmovisão renascentista (Nicolau de Cusa)” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 149).

“Se quem dá coices são os cavalos e não a cavalidade, do mesmo modo quem age é o homem concreto, não a sociedade” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 174).

“Uma sociedade, com efeito, que pune um olhar de desejo e dá proteção policial ao assassinato de bebês nos ventres das mães é, de fato, a mais requintada monstruosidade moral que a humanidade já conheceu” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 180).

“Exercendo livremente seus ‘direitos humanos’ sob a proteção do Estado democrático, as mulheres que praticam nos EUA um milhão e meio de abortos por ano logo terão superado as taxas de genocídio germano-soviéticas” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 180).

“Seu ideal (da intelectualidade moderna) é reduzir a consciência do historiador à condição do sapo da fábula, habitante de um poço, que, indagado sobre o que era o céu, responde: ‘É um buraquinho no teto da minha casa’ ” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, rodapé da pg. 191).

“... Lênin recomendava fomentar a corrupção para depois denunciá-la” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, rodapé da pg. 293).

“Se todas as religiões – todas elas, ou praticamente todas – já deram provas de poder adaptar-se a todas as culturas, a todas as sociedades, a todas as constituições políticas, é porque elas existem e vigoram num plano de universalidade superior ao de todas as culturas, sociedades e constituições políticas” (Olavo de Carvalho, in “O Jardim das Aflições”, pg. 307).


(*) CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições. É Realizações, São Paulo, 2000 (2ª edição, revista).




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