Quinta cedo e continuando Serras de Ida, saímos de Lages umas nove, ainda sem muito frio, pois esperávamos menos qualquer coisa. Eu estava no século passado, querendo ver aqueles Gemecezão marítimos, da Galiotto e seus tanques de madeira, com seus roncões subindo a serraiada, quem sabe uns Arfão reboque ou os Scanias. Isso tudo sem esquecer os Cara-chatos ou os Onze-onze e lembrei mesmo de um caminhão Aclo quatro eixos, até contei do Compadre Nerso e fiquei distraído procurando a laje com aquela piscina natural, onde criança tomei banho. Olha aí a descida do Rio Pelotas, divisa com Rio Grande do Sul e sua ponte famosa para mim, mas menos que a fila de caminhões, quando a antiga caiu e uma ponte provisória foi construída pelo exército. Não tenho saudades, só imaginação. Aproveitei e contei para a Edna, de novo, a minha viagem de ônibus da Penha para Caxias, em setenta e oito, quando fui buscar peças na Abramo Eberle.
Sobe e começa neblina, quase sem ver nada no alto da subida, com uma cidade, olha que imaginação, chamada Alto da Serra e Campos de Cima da Serra é a região do Rio Grande, também chamada de Campos de Vacaria, que a beérre fica meio retão. Pronto, a cidade de Vacaria surge e me traz todas as lembranças possíveis, dos motoristas pioneiros da região, como o Santino Vicente, João do Querubim, o próprio Querubim, o Iraí Pinheiro e meu pai, é claro. Lembrei-me dos vinhos, dos salames e das histórias, fora que Vacaria chamava a atenção, pois eu achava que tinha vaca demais da conta. Não é que tinha mesmo, o nome da cidade está ligado à expressão “baqueria de los piñares”, vacaria dos pinhais, onde os jesuítas iniciaram a criação de gado, espalhado pela região. Também esses campos foram palco de grandes batalhas, primeiro com índios caingangues e depois entre os soldados imperiais e os farroupilhas.
Eis Campestre da Serra, linda, mas nem vimos tamanha neblina; deu pra ver uma fábrica de vinho gigante e seguindo, chuva e tudo o mais, prenúncio de frio maior, começamos a descer a Serra do Rio das Antas, mas lá embaixo o rio é Rio Taquari. Além da chuva, neblina, o que fez da viagem uma maravilha. Descidas além da imaginação pelo grau do declive e pelo paredão. Acompanhei por um tempão uma carreta da Transportadora Sobre Rodas, de Caxias do Sul, cuja novidade era o quarto eixo simples à frente dos três normais, poderia até passar, mas aguentei firme, pois esta empresa foi pioneira no desenvolvimento de implementos para caminhões, como bitrem, rodo-trem e bitrenzão. Depois fui fuçar no Google, para ver esta nova carreta e vi mesmo ser uma novidade deles.
Passei a tal e a ponte, quando começamos a subir. Viu Edna, São Marcos aí na frente é a Cidade Scania do Brasil, mas em número de caminhões perdia para Antônio Prado, aqui do lado, na baixada. E sobe e sobe, estrada boa para enjoo, que não nos pegou, pela velocidade lenta. Fiquei procurando uma gruta, à beira da estrada, com uma santinha, mas não achei, pelas modificações surgidas na estrada, depois desses anos todos. Pronto, São Marcos e cadê os scanias, nenhum, ué, pensei. Só vi a igreja e a avenida, onde e quando em outubro acontece uma grande procissão de caminhões. Daí até Caxias, mais curvas e neblina. Quanta, que a estrada era vista quase nada. Olha aí a Marcopolo, maior fabricante de ônibus do Brasil, só chassis de todas as marcas, fora que encontramos um monte de ônibus subindo.
Caxias do Sul é grande, ficou grande, minhas maiores lembranças eram de vinho e da Guerra Implementos, na terra da Randon. O Compadre Santino teve caminhões Mercedes, implementados aqui, tenho ele aqui comigo, contando tudo isso, além de uma guerrinha industrial, que ele protagonizou, entre indústrias de São Paulo e do Rio Grande. Não era história não, o Compadre vivia e viveu toda essa região, além de ter sido agregado na Ristar e o Rei da Estrada. Contei tudinho para a Edna, de novo, outra vez e hoje, vinte e três de seis de quatorze, tenho que parar, pois acabou meu espaço e tem jogo logo mais.