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Artigos-->O Auto da Compadecida - uma Farsa? -- 19/07/2001 - 08:16 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em tempos remotos da literatura portuguesa, Gil Vicente escreveu peças, autos e farsas. Seu mais famoso auto, ao menos para os brasileiros, o da Índia, aborda criticamente os valores morais da sociedade portuguesa à altura das grandes navegações, quando os maridos deixavam suas esposas a ver navios, literalmente, abandonando-as por meses a fio para desbravarem os caminhos que os conduziriam aos novos continentes, ensejando que as mesmas, por não suportar o fogo que lhes queimava o sexo, traíssem-nos com os homens que as procuravam para emprestar consolo.



Ariano Suassuna, já em nosso tempo, escreveu um auto, o da Compadecida, que conta a estória de dois matutos, João e Chicó, em constantes armações para enriquecer. Alheio ao questionamento dos valores morais que esse auto porventura tencione fazer, quero me concentrar nos de natureza religiosa, para afirmar que não se trata de um auto, mas de uma farsa, e não no mesmo sentido em que se entende a Farsa no Humanismo português, senão naquele em que, ao questionar pressupostos estabelecidos historicamente, alguém sustente argumentos que objetivem demonstrar o erro daqueles em relação às interpretações contidas nesses argumentos.



Explicitando essa afirmação, levo o leitor à cena em que, depois de terem morrido, João, o padeiro e sua mulher, o bispo, o padre e o cangaceiro Severino, foram a julgamento na presença de Jesus Cristo, sendo acusador o diabo. Quando as acusações do capeta deixaram evidente que pelos erros cometidos em vida todos deveriam ir ao inferno, o diabo se “lembrou” que não havia acusado a João. Este, esperto como sempre, tergiversou e pediu a palavra, argumentando que iria clamar por intercessão. Indagado sobre a que santo recorreria, disse que não era um santo qualquer mas a própria mãe de Jesus. Nesse momento ela entra em cena.



Na condição de advogada de defesa, Maria se “compadece” dos réus e justifica sua intercessão pelo padeiro e sua mulher, bem como pelo bispo e o padre, “lembrando” a Jesus que todos, na hora da morte, tiveram a nobre capacidade de perdoar: o padeiro, à mulher que o traía, os sacerdotes, ao assassino. Mereciam, portanto, o perdão. Em relação a João e a Severino, Maria argumentou que ambos foram condicionados pelas circunstâncias da vida a viver do modo como viveram. Jesus “acatou” as palavras de Maria e livrou do inferno os acusados, à exceção de João, mandando-os ao purgatório.



Quanto a João, Jesus disse a Maria que nada podia fazer, que suas atitudes eram imperdoáveis e o inferno seria seu destino final. João, às portas do inferno, pediu um nova chance a fim de consertar sua vida e merecer o céu. Jesus “pede” a opinião de Maria, que “concorda” com a sugestão. João ressuscita e o autor consegue concluir sua farsa, mostrando como, com um jeitinho, é possível que todos os homens se livrem da punição eterna se recorrerem a Maria, “na hora de nossa morte”. Amém.



Há alguns pontos que caracterizam a farsa da ficção montada por Suassuna:



1 - O purgatório não existe. Essa foi uma invenção da Igreja Católica para “aliviar” a consciência dos homens pela possiblidade de - tendo morrido na fé em Cristo, porém sem uma “piedade” que lhes permita ir direto ao céu, por não terem confessado um pecado qualquer antes da morte - serem enviados ao purgatório, para, como diz o nome desse local imaginário, “purgar” os pecados e então, totalmente purificados, limpos de quaisquer resíduos pecaminosos, encontrar-se com Deus. A Bíblia, que está acima de qualquer tradição católica e é a única regra válida de fé e prática para os cristãos, nada diz sobre esse lugar intermediário. Existe um céu e um inferno, ainda que nossas mentes finitas não consigam compreender o que são essas realidades. Se o leitor quiser saber mais sobre o assunto, consulte a Bíblia Sagrada;



2 - É impossível que alguém, tendo morrido, seja ressuscitado para que tenha uma nova “chance” neste mundo. Aos homens está ordenado morrer uma só vez, vindo depois disso o juízo. Lembram-se do episódio bíblico no qual aquele homem rico, depois de morrer, estava em meios a chamas, solicitando que Deus lhe permitisse voltar para avisar seus familiares para que escapassem do fogo? A resposta foi que, nem que Anjos avisem, os homens não acreditam nas ameaças contra o pecado e a realidade do inferno. Se cressem, os pregadores do Evangelho não seriam ridicularizados quando afirmam que se um homem não abandonar seus pecados e morrer sem Cristo vai para o inferno;



3 - Jesus não precisa da “opinião” de quem quer seja em sua missão de julgar os homens. Maria não tem autoridade nem poderes sobre Jesus. Quanto à intercessão, Ele é o único mediador entre Deus e os homens. Ele é Deus; Maria foi criatura humana. Ele é o Salvador; Maria foi salva por Ele. Ele tem autoridade sobre a vida e a morte; Maria, como todos os seres humanos, não tinha poder sobre sua própria existência. Ele é soberano sobre o universo; Maria não ordena nem altera as leis naturais das quais não é criadora. A História, Jesus, como Filho de Deus, tem sob seu domínio; Maria não pode interferir nos acontecimentos, visto que os mortos nada sabem do mundo dos vivos e Maria está morta. Jesus é Filho de Deus, a terceira Pessoa da Trindade; Maria se tornou filha de Deus na mesma condição em que se tornaram todos os que, sendo meras criaturas, receberam do próprio Deus o dom pelo qual se tornou possível sua filiação: a fé em Cristo como Salvador.



A farsa de Suassuna não é outra senão a mesma sustentada pela Igreja Católica por meio de dogmas e tradições que afastam os homens das verdades bíblicas. O grande problema é que, ao contrário da ficção sustentada no Auto da Compadecida, quando morrerem, os homens descobrirão que aquilo no que a vida toda acreditaram, por conta de “interpretações autorizadas” do clero católico, revelar-se-á em um tremendo engodo. Ai será tarde demais. Alguém quer se arriscar a tanto? Deus seja misericordioso e os livre do erro enquanto é e há tempo.

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