Vim a conhecer a obra de Weber quem sabe tarde demais. Weber, que uns preferem discutir somente sob o prisma do debate da autonomia das esferas de valor, e outros encaram apenas como aquele que conectou o espírito religioso com o espírito capitalista, é para mim simplesmente o pensador mais rigoroso dentre todos os que caíram ao meu conhecimento.
Por quê?
Não questiono o valor incomensurável dos escritos gregos. Diversos dos diálogos platônicos são autênticas obras-primas de rigor silogístico. Não questiono os escritos de todos os filósofos posteriores. Só para citar um, o arcabouço hegeliano é algo que não pode - digo, não pode - deixar de assombrar quem quer que dele se aproxime. Perco quase a respiração sequer ao tentar apreendê-lo, seja no todo, seja em qualquer de suas partes.
Acontece que Weber não optou pela filosofia, ao contrário. Weber optou por estudar o homem no espaço e no tempo. Suas origens enquanto ser civilizado, suas direções e seu sentido. Tarefa a tal ponto hercúlea não o poupou de estafas nem de uma vida curta. Isso mal quer dizer alguma coisa, mas tal qual ele só - ao que sei - Nietzsche levou seu empreendimento.
Ler Economia e Sociedade, sua obra póstuma, traz-me uma calma que mal consigo explicar. Horizontes abrem-se à minha frente, o rigor conceitual domina-me por completo, escapismos que porventura venham-me assaltar assumem seu real porte, o mundo adquire brilho e torna-se um grande desafio. O problema é que tudo à minha volta, em comparação, torna-se pequeno. É como se a sua tarefa fosse a de um ferreiro. Ou a de um guerreiro, sempre a afiar a lâmina de sua arma. A arma de Weber é a razão.
Pode-se achá-lo pernóstico. Mas até nisso ele mostra-se grande: logo ao apresentar seus escritos exaustivos, ele já o admite. Difícil não admirá-lo. Mas admirá-lo sem assumi-lo como exemplo equivale a desprezá-lo. Vem daí eu duvidar de muitos dos que dizem seguir seus ensinamentos.