NOTAS SOLTAS
J.B.Xavier
Um piano distante derrama notas carinhosas no espaço, notas de amor e rebrilhando suaves, elas se entregam ao vento, espalhando amores ao mundo que tem ouvidos para ouvir e sensibilidade para sentir... O sol as acaricia ternamente enquanto se ordenam em melodiosa harmonia, aquece-as e as envia em missão especial: derreter os corações gelados dos que se esqueceram do equilíbrio universal, dos que se apegaram demais ao passageiro, ao trivial...E elas dançam pelos ares animadamente, percorrem os espaços siderais, adentram ao universo, iluminam os vazios e retornam em forma de verso para iluminar os corações dos homens...E lá estava eu, quando elas me encontraram, no cimo da colina de minhas ilusões, olhando para o vale de minhas poucas realizações, sofrendo, no esforço baldado de ir em frente...Sofrendo com o rastro de dos quantos já haviam tentando e fracassado...Lá estava eu, no alto do monte onde me alcei sobre poderes que jamais tive...Sobre conquistas apenas imaginadas, que jamais efetuei...E lá de cima eu via o verdejante vale à minha frente, e o cansaço a tomar-me a alma por inteiro, por tudo o que ainda me esperava...Eu tinha pressa...Foi assim que a suave música divina me encontrou: um coração gelado, carente de amor...Não por não ter sido amado, mas por pouco amar...Com o corpo dolorido, eu me recusava a seguir viagem, porque à frente, a paisagem era demasiado bela para ser alcançada...E minha alma, ferida pelos espinhos do caminho, era viajante desanimada, debruçada na amurada da vida... Então as notas daquele piano distante, dedilhado pelas mãos de um anjo, me invadiram, num toque celestial, e alegrando-me, iluminaram meus caminhos. Assim chegaste em minha vida, e me amparaste na descida da colina, e me amaste pelo que sou, e me aqueceste na tranquila segurança do teu amar, fazendo-me compreender que em amor, eu posso dar sem querer, mas não posso querer sem dar...
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