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Artigos-->Doença contagiosa (um fun-zine) -- 17/07/2001 - 19:36 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Segundo o lider da bancada do PMDB na Câmara, o presidente do Senado está que nem doença contagiosa. Ninguém quer ficar por perto.



Já ontem, o presidente do PMDB explicava as razões por que o contagioso correligionário não havia sido convidado a participar de importante convescote. Dizia que o partido tem outras coisas importantes para tratar. Que o assunto da enfermiça autoridade é com o Ministério Público e com a Polícia Federal.



Na TV, os senadores do PT apareceram decididos, expressão querendo ser vitoriosa, acreditando que é tudo uma questão de tempo. A impunidade estaria, sim, com os dias contados. Sim?



Mas os comentaristas políticos sabem: o PT terá de enfrentar uma barreira que se alardeia intransponível, que é o próprio suspeito, que não repousa um minuto neste seu conturbado período de quarentena.



O que pensar, se a letra p insiste em se imiscuir, sempre e renitentemente, na palavra "imunidade"?



E os jornais de ontem e de hoje parecem não perceber devidamente que as coisas na Bahia ultrapassaram, de muito, os limites da ordem constitucional democrática. Em vários sentidos.



Uma foto da Universidade Federal da Bahia mostra, no Estadão de hoje, os participantes da reunião anual da SBPC. Como não poderia ser diferente, preocupados com o avanço da ciência. Agora, parece que mais realistas, centrando fogo no "ensino da ciência". E parecem dispostos. Anunciam que em 6 anos o brasileiro poderá pensar mais cientificamente.



E o Arnaldo Jabor repete o trajeto do Paulo Francis. Ei-lo agora no Estadão. No diálogo entre Clinton e FHC, o pinto-no-lixo acha engraçado que um nosso presidenciável se chame "Little Boy". Sei, pelos jornais também,

que o Fernandinho Beira-Mar atende, na imprensa americana, pela alcunha de Ferdinand Seashore.



Parece que o escritor japonês Haruki Murakami está fadado a não ter sucesso de crítica por estas bandas. A BRAVO, há uns três meses, coroava a resenha demolidora do Daniel Pisa com o sensacionalíssimo título: "Sushi high-tech". E o resenhista não fazia por menos: "Nenhum quimono à vista." O Estadão chega atrasado, e tampouco divisa um quimono que seja. O José Castello vem nos dizer que o livro é bom para quando não se tem outra coisa melhor para fazer. É o Brasil a demolir impiedosamente um sucesso que, no país do sol nascente (era assim que se dizia quando eu era menino e uma japonesa foi eleita Miss Universo!), já aconteceu há uns 18 anos. Não é nada, não é nada, Murakami vendeu, de um outro livro chamado "Norwegian Wood", os números no caso variam bastante, perto de 4,5 milhões de exemplares. A inesperada e instantânea celebridade fez com que ele deixasse o seu país por 7 anos.



Não há negar: tanto a capa de "Caçando carneiros" como as ilustrações para a resenha da revista BRAVO são inquestionáveis. Daria para concluir que continuamos mais sensíveis às imagens que esse oriente sem-nenhum-quimono-à-vista nos sugere, do que aos textos que a "geração americana", que é como Murakami se refere à sua, produziu em sua adesão decidida à cultura pop do ocidente inteiro americanizado.



Peter Brook acaba de estrear o seu "Hamlet" para viagem, com um elenco multi-étnico de 8 atores. Multi-étnicos são também o elenco e a equipe de produção de "As Criadas", que o bailarino e coreógrafo brasileiro Ismael Ivo apresenta hoje e amanhã no Festival de Teatro de São José do Rio Preto.



Há duas décadas já, o meio envolvido com o ensino do alemão como língua estrangeira tem seu fetiche maior na palavra "multikulturell", que quer dizer isso mesmo, servindo para uma porção de otras cositas más.



Não custa lembrar: "Miséria é miséria em qualquer parte".



O www.paginadamusica.com.br , um site dedicado à música popular brasileira, e ao qual se poderia atribuir aquele adjetivo das feijoadas, suculento, traz uma entrevista com o cantor e compositor Kléber Albuquerque. Num dado momento, este se diz distante da MPB mais tradicional, como Caetano, essas coisas. Não deixa de ser engraçado. Poder estar vivendo tudo isso. Vendo e ouvindo tudo isso. O nome do filme é "Em algum lugar do passado". Kléber Albuquerque é autor de uma das classificadas no Festival de Música Brasileira que a Rede Globo promoveu em 2000 e - a rima é inevitável - quase ninguém viu.



"Somewhere in time" é o título original do filme acima referido, e que a Globo mostrou ontem no telecine . É curioso como não dá mais para ver o ator descolado de tudo o que em seguida o acometeria, dos vôos do super-homem à cadeira de rodas. Sei lá.



Vi por acaso hoje, pois televisão eu só vejo mesmo por acaso, aquela ex-namorada do Ronaldinho, frigidamente loura e abraçada a um urso gigante de pelúcia, num baita esforço para se mostrar convicta e nos convencer de que vale a pena ver de novo os episódios do "Você decide". Eu também não.



Mas vale a pena ver os episódios de "A vida como ela é", depois das bobagens do Jô. Curto e grosso, como pede uma boa frase roedora.



O CINE VENEZA virou mesmo IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS, passando a mostrar a vida como ela não é por aqui, aquela que aguarda os dizimistas lá do outro lado. O escritor Menalton Braff, numa de suas imperdíveis crônicas recentes ( www.eptv.com.br ), também lamenta um fato semelhante, o fechamento do BELAS ARTES em Ribeirão Preto. Já tenho tido a oportunidade de ouvir jovens na faixa dos 18 a 25 anos que nunca entraram num cinema.



Uma vez imaginei um fanzine sobre a sétima arte (como esquecer uma expressão dessas?), e que se chamaria "zinema". Aos não-iniciados, caberia de início uma definição que publiquei há alguns dias:

"É igual a uma televisão. Só que do tamanho de um teatro."



E um fanzine, alguém me perguntava outro dia, por conta do meu artigo sobre o "ao pé do ouvido", editado pelo Jônatas Michelleti Protes, de Botucatu para o Brasil e o mundo, o que é afinal um fanzine? Simples: É igual a um jornal. Só que com a cara dos nossos zilhões de problemas e carências.



Mas voltando ao início deste apanhado de frases, dizer que o "ainda" presidente do Senado está que nem "doença contagiosa" é acreditar que tudo isto que estamos vendo seria curável com a descoberta espetacular de uma vacina, digamos, anti-bandalheira, que desse cabo da pouca vergonha.



Mais correto seria dizer que alguns políticos estão se abaixando um pouco além da conta. E quem se abaixa demais...



Melhor seria dizer que são erupções, agora um pouco mais visíveis, de uma mesma enfermidade crônica, incurável, da política brasileira. Algumas façanhas, é o próprio sobrolhudo presidente da casa da mãe joana quem nos joga na fuça, foram há tanto tempo, que delas ele já nem se lembra.



E um lampejo de memória me leva de volta a um tempo em que trabalhei na Casa de Estudos Germânicos da Universidade Federal de Belém do Pará. Por lá aportei em meio a uma greve e a uma crise sem precedentes nas relações entre esse Instituto e o Curso de Letras. Foram quatro meses abandonado e sem receber salário, eu que me desfizera de uma situação razoavelmente estável em Campinas, São Paulo. Num momento em que só me restava passar a dividir um quarto com marias-kafka numa das pensões ao lado da rodoviária (uff!), de tanto que gritei, a Reitoria houve por bem me instalar num dos aposentos para pesquisadores do Museu em meio ao Parque Goeldi. E tive uns dois meses de civilização, no coração das trevas, no centro de Belém.



Não muito longe dali, num dos bairro onde morei durante outros dois meses, há quinze ou vinte minutos a pé desse mundo civilizado onde então eu fora instalado, o esgoto corria ainda a céu aberto.



Conheci uma cidade, próxima a Belém, com 200 mil habitantes, ainda sem esgoto. Um espanto. Foi o que me fez duvidar da fúria do cólera e de tantas outras moléstias pelos anos seguintes em fora. Mas o que ia dizer é o Parque Goeldi fica logo defronte ao edifício onde, me diziam, morava esse par de sobrancelhas que o Brasil estarrecido e boquiaberto contempla em seu momento de paroxismo.



Me lembro que as pessoas sempre diziam isso com ar estranho, um tanto tenso e preocupado, como se ali morasse um ogro, uma criatura que não fosse feita desse mesmo "carne & osso" que é o povo que ele representa.



Hoje - e não nos queiram iludir as coberturas dos jornais com esse ar de perfeita normalidade, o que está acontecendo em Salvador é deveras preocupante - é o Brasil inteiro a apontar, tenso, para Brasília, em direção a esse antro de más reputações em que se transformou a política, mas muito especialmente o Senado, ultimamente presidido por gente muito duvidosa.
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