Usina de Letras
Usina de Letras
189 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62273 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10381)

Erótico (13574)

Frases (50664)

Humor (20039)

Infantil (5454)

Infanto Juvenil (4778)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6206)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->o sábio e o mendigo -- 25/09/2001 - 12:31 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Conta-se que, numa das grandes cidades do mundo, um sábio andava tranquilamente meditando sobre os problemas de sua existência, quando próximo à entrada de uma igreja avistou um homem que pedia esmolas. Curioso pelo fato de o mendigo estar sempre com os olhos voltados para o céu, chegou junto dele e perguntou:

- Diz-me, por qual razão estás olhando pro céu? Acaso esperas que de lá caiam moedas de ouro, ou mesmo pedaços de pão?
- Por sua aparência, senhor, vejo se tratar de uma pessoa muito importante e generosa, pois veio até mim, um desprezível ser. Digo-lhe que meus olhos vivem constantemente voltados para o céu porque a maioria das pessoas que entram nessa igreja nunca me oferta seja uma moedazinha seja um pedaço de pão. E lá dentro, sempre rogam: “Pai nosso que estás no céu...o pão de cada dia dá-nos hoje.”
- O que isso tem a ver com sua insistência em olhar para cima?
- Ora senhor, eu me questiono como pessoas na aparência bondosas, que todos os domingos vêm rezar, oferecer a Deus suas vidas, rogar-Lhe ajuda e providência, sequer notam minha presença nem quando entram nem quando saem do local onde falaram com Deus?
- É simples a resposta. Tu nunca ouviste ou leste o mandamento de Jesus: “ama o teu próximo como a ti mesmo?” Pois bem, essas pessoas que te desprezam, mesmo sendo impossível que não notem fisicamente tua presença, somente provam que não amam a Deus, cuja imagem os olhos não podem ignorar, pois o que é matéria se despreza com os olhos, contudo, o que é espírito se despreza com o coração.
- Não entendi, senhor. Essas pessoas são a minha única esperança. O senhor deve saber que em nossa cidade não há muitos ricos que freqüentam a igreja. Fora dela, todavia, há muitos ladrões, beberrões, assassinos que matam por um punhado de trigo. Se não fosse aleijado bem que poderia me juntar a eles, e assim teria o que comer. Esses não podem me dar nada, nem nada podem tirar de mim. Somente os que têm Deus no coração podem me ajudar. E o senhor vem me dizer que mesmo aqueles não me ajudam porque desprezam a Deus?
- Sim, pois Deus não habita nessas construções suntuosas, por isso nelas não pode ser encontrado. Essas pessoas querem um motivo para terem sua consciência aliviada, querem estar próximas de Deus para ver se Ele as contempla com um lugar no céu, sem que isso lhes custe muita coisa ou nada.
- Meu senhor, isso parece contraditório. Pois se a salvação delas dependesse das boas obras, e isso significasse dar esmolas, então a maioria estaria perdida. Uns poucos iriam para o céu, porque eu conto nos dedos os que me ajudam ou mesmo falam comigo.
- A explicação para essa aparente contradição logo te esclarecerá. Antes, responde-me: vês multidões ajuntarem-se em frente dessa igreja?
- Não.
- Muito bem. Vejo que estás próximo de compreender tudo. Aqueles que querem ganhar um lugar perto de Deus confiando em suas boas obras, têm por certo que quanto mais pessoas virem ou tomarem conhecimento de suas ações, mais prestígio terão junto a Deus. Quanto maior for a divulgação e o impacto de sua benevolência, mais sensível se tornará o coração de Deus, levando-O a escolher tais pessoas como aptas ao reino dos Céus. Isso é o que elas crêem. Por isso, não é interessante que eles ajudem um mendigo e apenas as pessoas que têm a mesma intenção, os religiosos que vão à igreja, sejam testemunhas. Querem que os de fora da igreja vejam e comentem: “como fulano é bondoso; como cicrano tem um grande coração, etc.” É prudente a tais pessoas que se livrem do perigo do falso elogio.
- Como assim?
- Elas querem ficar conhecidas em todo o canto como almas caridosas, e esse conhecimento tem que existir no seu meio social, com as pessoas de sua convivência e intimidade no sentido mais amplo que o religioso. É nas grandes rodas, nas festas suntuosas, com a presença das mais ilustres figuras da sociedade que devem ser comentadas suas boas ações. Pouco lhes interessa a opinião dos pobres, dos que não têm influência. Esses são apenas instrumentos pelos quais a consciência dos ricos se alivia.
- Então é por isso que nas quermesses, nas distribuições de alimentos aos pobres sempre estão à frente pessoas ilustres, e lá elas chegam a apertar as mãos dos pobres?
- Sim, é por isso. E é por isso que esses mesmos que te cumprimentam nas quermesses fingem não te ver nas missas comuns. E se eles não te amam, e podem te ver, como dizem amar a Deus, que é invisível?
- Então, sábio senhor, é mais fácil que Deus mesmo me mande pão do céu que esses ricos conseguirem a salvação por seus próprios méritos. E se devo amar a Deus, agora sei que Ele não está nas igrejas, mas no coração de todos os que sinceramente O buscam.

O sábio bem sabia que suas cogitações mais íntimas apontavam para sua existência como sendo uma prova em contrário da lição que deixara ao mendigo, pois ele mesmo, um rico comerciante, distribuía roupas e alimentos aos pobres daquela cidade, sem todavia fazer alarde, talvez porque conhecia um outro conselho de Jesus, para que aquilo que fizesse a mão direita de um homem não o soubesse a esquerda. E assim continuou o sábio sua caminhada pelas ruas da cidade, a ver de perto a pobreza que a assolava e tanto afligia sua sensível alma.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui