Vivemos em um tempo de olhares tímidos, diria até que medrosos, covardes. Os olhos de hoje não buscam fixar-se em outros, como se a possibilidade de encontrarem no brilho do olhar de um estranho o sentido de sua busca lhes inibisse a intenção ou a necessidade de encontrar.
É um tempo, então, em que prevalece o senso de solidão e fuga, no qual o sentimento de estar seguro pelo desencontro, ou o não-encontro, comunica aos corações solitários uma certa tranqüilidade. Se o outro a quem não olho eqüivale a um salto no escuro, a um mundo desconhecido, não há como não se sentir a salvo pela simples decisão de não ir lá, de não buscar lá nesse mundo estranho e perigoso o que quer que seja, pois o encontro pode resultar em uma frustração absurda, um trauma insuperável e o fim mesmo de qualquer esperança nutrida durante o percurso.
Onde há as massas: nos metrôs, nos ônibus, nos estádios, nas ruas, nas escolas, o que permeia o ambiente são os comportamentos mecânicos, previamente estudados e decididos no âmbito de cada individualidade. Antes de ir para a rua, cada um já se arma com os equipamentos mentais escolhidos criteriosamente para todos os momentos do dia, para cada circunstância, desde antes previstas, desde cedo aguardadas.
Não sabemos o que iremos encontrar, mas sabemos o que não queremos achar. Não queremos contatos com estranhos, com quem à primeira vista nos parece esconder em seu comportamento amistoso elementos perigosos à nossa integridade. Afinal, quantas más intenções não se ocultam na mente de pessoas hábeis em revesti-las com gestos educados, sorrisos amenos e favores altruístas?
Esse é o drama de nossos dias. O medo de dar-se a conhecer a outros no ato mesmo de conhecê-los, para dessa relação derivar para ambos algo benéfico e duradouro. Por causa do medo quase patológico do indivíduo que resolve enclausurar-se nos limites daquilo que lhe é insuspeitavelmente seguro, há pessoas que vivem absolutamente solitárias, mantendo um contato meramente físico, porque inevitável, com outros, permanecendo, todavia, distantes de todos e de qualquer possibilidade de descobrir, por um encontro verdadeiro, o quanto o seu medo em relação ao outro é simplesmente medo de viver.
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