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Artigos-->ao pé do ouvido: um zine em estado de poesia -- 12/07/2001 - 20:49 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O zine literário "ao pé do ouvido" é um acontecimento. É parte de um milagre que ainda não estamos vendo. É tanta gente a dizer que não está acontecendo nada! Mas, até quando?



Começo por dizer que é, para mim em especial, um grande acontecimento, porque me foi dado, ainda que virtualmente, fazer parte desse grupo que se reúne ao redor do Jônatas Michelleti Protes. Pude exercer o papel de revisor do editorial, pude indiretamente sugerir a presença dos versos do recém-lançado "Zona Branca" do Ademir Assunção, além de merecer a honra de ver uma de minhas crônicas ("Os mortos e os mortos-vivos", cf. no site) transplantada, com muitos ganhos na visão do próprio autor, para esse contexto de produção, para essa publicação em papel impresso.



O repertório é amplo, o que, como acreditava Leminski, pressupõem público pequeno. E essa sempre foi a vocação dos fanzines. Não abrir mão de fazer o que já ninguém mais faz.



O espaço maior (duas páginas inteiras) coube a Ferreira Gullar, "o último grande poeta brasileiro" na opinião de outro poeta, Vinícius de Moraes, ali reproduzida juntamente com depoimentos de Ivo Barroso e Gerson dos Santos.



O zine reverencia a sociedade brasileira dos poetas mortos, ainda e oxalá sempre muito vivos na memória nacional, que o zine assume preservar:

Oswald de Andrade, Cecília Meirelles, Ana Cristina Cesar, José Paulo Paes e Paulo Leminski.



Já o Ademir Assunção representa, no caso, a sociedade brasileira dos poetas vivos, esses seres

meio que invisíveis (por quê?). Ele representa o poeta brasileiro que se esfalfa para se manter vivo e atuante num panorama como este em que vivemos, tão avesso aos "buscadores da palavra".

Ao lado do Ademir, Zilton Salgado, nosso colega no usina , além do editor Jônatas Protes, que comparece com dois poemas.



Também para o site usinadeletras , e por isso o meu artigo, o "ao pé do ouvido" é um acontecimento. O usina que, a meu ver deveria se preocupar mais com a sina das letras, e menos com as picuinhas e disputas pela colocação no ranking dos mais lidos, essa falácia inacreditável (ai de todos nós!). Que os usineiros comecem por festejar talvez o seu rebento mais promissor. Procurem o Jônatas e tentem conseguir um exemplar desse valioso objeto de recepção poética produtiva e reprodutiva. Seria um bom começo: abrir os olhos para um mundo que existe e pode passar a existir, se quisermos, para além da tela do computador, um mundo irredutível à troca insana de farpas num quadro de avisos .



Sei que o zine já cumpriu o seu papel local, já atingiu o seu público-alvo imediato. O Colégio La Salle, de Botucatu, merece os nossos cumprimentos pela grandeza de abrigar idéias como essa, de saber promover a inegável vocação poética e o espírito empreendedor de um dos seus alunos.



E imagino que o zine já se espalhou, já se reproduziu pela cidade, devendo seguir adiante, como vai acontecer agora aqui em Araraquara, entre poetas, zineiros, gente das letras e das artes.



Com uma diagramação à altura dos grandes poetas do seu repertório, o Jônatas e a Verena buscaram fidelidade à tradição visual punk dos fanzines, transformando a precariedade material em valor estético, com os poemas e textos (sobre o papel branco) recortados e colados sobre o fundo preto da página. O efeito é vibrante e forte. É criativa e bem-humorada a apresentação, com achados na escolha dos títulos e subtítulos. Os desenhos legais do trio D angelo, Paraguay e Lukinhas contribuem para dar leveza ao conjunto, que inclui ainda algumas reproduções fotográficas.



É claro que sou suspeito para estar falando bem aqui da empreitada de um grande amigo. E ainda mais, de uma empreitada na qual me coube estar envolvido, ainda que à distância. Mas suspeito eu sempre fui e sou de tantas outras coisas, acho que de quase tudo, não é mesmo? Não vou abrir mão, por nada, de tentar continuar vivendo, como tenho feito até aqui, em "estado de poesia".



O "ao pé do ouvido" é fruto da amizade e da convivência que o site literário usinadeletras me proporcionou a tempo. Não, o usina não produz e reproduz apenas esse pântano de salivação que é o quadro de avisos , não é somente essa fogueira-fátua onde ardem tantas vaidades infundadas, e que a tudo e a todos acaba por consumir. E eu torceria por que nos salvássemos todos. Não acho que vamos perecer assim, tantos de uma só vez, por nada.



O "ao pé do ouvido" é um resultado visível de possibilidades que reputo perdidas, abortadas, e que, lamentavelmente para tantos, os que vierem chegando, já não mais haverão de se consumar. E mesmo que o usina perdurasse.



O editorial, escrito pelo Jônatas Protes (que já incluiu o texto em sua página no usina ) situa

o empreendimento no terreno do poético, na "hesitação entre o som e o sentido" de que falava Verlaine. Logo abaixo, na primeira página, os versos do Ademir Assunção, sussurrados/gritados/rugidos ao pé do ouvido de todos aqueles que tiverem o zine sob seus olhos: "Não me interessa apenas escrever poesia. Quero é me colocar em estado de poesia."



O Jônatas e sua equipe de amigos autores e leitores (a sociedade botucatuense dos poetas vivos) - e, entre eles, eu me vejo como quem acaba de ganhar um presente de muito futuro e um futuro de presente - só podem estar festejando, e em "estado de poesia", que é o que eles querem, que é o que muito bem merecem.



Que venham o segundo, o terceiro e todos os outros. A raça precisa de antenas. De antenas hipersensíveis. E contem comigo sempre. Valeu.



Em tempo: O Ademir Assunção vai lançar "Zona Branca" no Teatro Municipal de Araraquara, durante os festejos do aniversário da cidade, dividindo o palco com o cantor/compositor Madan. Acho que eles vão gostar de ter nas mãos um exemplar do "ao pé do ouvido". Assim será.
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