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Cartas-->Carta à Senadora Heloísa Helena -- 31/07/2006 - 14:02 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CARTA ABERTA À SENADORA HELOISA HELENA

por Paulo G. M. de Moura, cientista político

Prezada Senadora:

Fui petista na juventude, numa época em que ser de esquerda parecia ser o melhor caminho para a Liberdade. Aprendi, com Lula e o com PT, a não ter ilusões em seres humanos envolvidos em conflitos de poder e interesse. Vi, muito cedo e bem de perto, tudo isso que o Brasil está descobrindo agora sobre o petismo no poder. Cresci; estudei e descobri que socialismo e Liberdade são “volumes” que não podem ocupar o mesmo lugar no espaço-tempo. Afastei-me do PT, mas não da política e nem das minhas convicções sobre o que acho melhor para meus filhos, minha família, para mim e para a sociedade em que vivo.

A senhora vive uma fugaz ascensão nas pesquisas eleitorais. Seu crescimento nas pesquisas pode ter várias origens. Boa parte dos eleitores que manifestam intenção de voto na senhora devem ser petistas decepcionados que não seguiram a minha trajetória. Esquerdistas convictos que se sentem traídos e talvez vejam na senhora; na veemência oportuna de seus discursos; nas manchetes fáceis para a mídia sedenta de audiência que a senhora sabe produzir com astúcia; na sua aparência simples de Dom Quixote de jeans e blusinha branca, a nova ilusão numa utopia impossível.

Cada um acredita no que bem entende. Ainda bem. Mas é fato que a senhora os lidera. O que a senhora diz e faz é o que motiva a intenção de voto dessa gente. Foi com um discurso igual ao seu que Lula chegou ao poder. Talvez a fórmula ainda funcione. Lula precisou de 25 anos. A senhora está sendo mais rápida. Cuidado Senadora!

Pode parecer estranho senadora. Mas, acho que outro tipo de eleitor que manifesta intenção de voto na senhora, o faz com saudades do Enéas, o histriônico fascista que era contra tudo e contra todos e, com esse discurso, transformou muitos votos potencialmente nulos em válidos. Quando Enéas resolveu ser a favor da bomba atômica, seu desempenho eleitoral entrou em declínio. Cuidado Senadora!

Sem querer ofendê-la, pois a senhora se encontra no extremo oposto do espectro ideológico de Enéas, e só por isso é diferente dele, muitos a percebem com igual a ele. E votam na senhora por isso. Que risco e que responsabilidade, hein Senadora?

Mas, acho que há, ainda, outro tipo de gente que manifesta intenção de votar na senhora por outros motivos. Trata-se de gente que está com raiva dos políticos em geral, por causa dos escândalos patrocinados pelo petismo no poder. Muitos desses votaram em Lula na eleição passada, depositando no ex-operário a última esperança de sermos governados por homens puros. Pior; por um partido de gente que se dizia pura.

Isso não existe. Todos somos pecadores. O mesmo poder que Alckmin e Lula desejam, a senhora também deseja. E luta por ele como ninguém. Certo, Senadora? Não existem homens e mulheres puros. Não existem partidos puros. Gente que entra em partidos e concorre a cargos públicos; à Presidência da República, quer o poder. Certo, Senadora?

A senhora é uma mulher religiosa. Acredita em Deus. Já a ouvi invocar Nossa Senhora mais de uma vez. Mas, eu, Alckmin, Lula, e a senhora, somos todos pecadores. Certo, Senadora?

Puras, só as crianças. E mesmo assim, a natureza humana por vezes assusta quando vem à tona, mesmo brotando da alma pura de uma criança; sem os freios que a vida impõe aos adultos. Os freios nos vêm exatamente quando descobrimos, em nós e nos outros, os desejos de poder. Contemo-nos pois sabemos que podemos esperar dos outros, aquilo que somos capazes de fazer pelo poder que aspiramos ter.

Civilização é repressão. E auto-repressão. É religião. É Estado. É Lei. É gente decente no poder. O resto é o estado de natureza de Hobbes. A guerra de todos contra todos. A lei do mais forte.

As tentações do poder são permanentes. Mas, animais políticos que somos, contemo-nos. Contemo-nos porque descobrimos que a civilização é melhor que a barbárie; que a sociedade sem Lei e Ordem é o inferno. Na esfera íntima, são as noções de certo e errado - de ética - que todos deveríamos receber dentro de casa, na primeira infância, e a moral religiosa, o que nos contêm. Na esfera social, o Estado e a Lei existem para conter aqueles que, fracos de caráter, negam a contenção de suas ambições aos limites da Ordem e da Segurança coletivas; única garantia de Liberdade de todos.

O ideal é que pudéssemos viver numa sociedade sem Estado e sem Lei. Para isso seria necessário algum tipo de garantia de que todos os indivíduos, sem exceção, fossem capazes de conter suas ambições aos limites da ética e da moral que tornam possível o convívio social em Liberdade, com Ordem e Segurança.

Essa hipótese se consubstanciaria em duas situações: a) uma em que os seres humanos terão atingido elevadíssimo grau de maturidade individual e coletiva; e, b) outra, sugerida pelo ideal religioso, contida na idéia de Paraíso, no qual conviveriam somente seres de almas tão puras que sequer a auto-repressão lhes faria falta para a regulação do convívio social.

Nenhum dessas duas situações está ao alcance de nenhum de nós, no curto prazo. Infelizmente, precisamos do Estado e da Lei. Pior, temos que engolir o Estado e a Lei que temos no Brasil (argh!). E, pior ainda, temos que escolher quem estará governando o Brasil. O indivíduo a quem caberá garantir que o Estado e a Lei nos protejam das ambições desmesuradas de indivíduos que almejam todo o poder.

Saber lidar com as tentações do poder, especialmente quando muito poder nos chega às mãos, é uma prova de fogo Senadora. Ficamos entre Deus e o diabo. E a escolha do lado a que vamos ceder é pura e solitariamente nossa Senadora. Deus fica parado, apenas olhando. E o diabo fica ali, espreitando nossas fraquezas; nos tentando. É aí que descobrimos a verdadeira natureza dos indivíduos. A senhora viu o que aconteceu com Lula e os petistas quando chegaram ao poder?

Pois em breve, no segundo turno da eleição presidencial, teremos que escolher entre Lula e Alckmin para presidir o Brasil.

Desculpe Senadora, não a excluo do segundo turno por desrespeito à senhora ou àqueles que depositam na senhora suas esperanças e ilusões. Acho apenas que ainda não chegou sua hora. Acho que quem a excluirá serão os eleitores. Seu partido ainda é muito pequeno. Os recursos financeiros necessários à eleição de um presidente do Brasil não lhe estão disponíveis. E a oportunidade de vender a alma ao diabo em troca do poder ainda não se ofereceu à senhora como se ofereceu a Lula. A senhora viu o que Lula precisou fazer para chegar ao poder? E o que ele fez depois que chegou lá?

Deixemos Lula para lá Senadora. Vamos refletir sobre a nossa situação. A minha, a da senhora, a de todos os eleitores brasileiros que em breve terão a oportunidade de fazer a sua escolha.

Alckmin tem seus pecados? Certamente; como todos nós. Lula também tem os dele. Ele diz que não sabia de nada. Mas todos nós sabemos.

Senadora Heloisa Helena, a senhora sabe que, nesses tempos pós-modernos, não é o programa de governo que diferencia Lula de Alckmin. Sob o critério das condições éticas e morais para garantir a Segurança; a Lei; a Ordem e nos garantir a Liberdade, à luz da comparação entre a vida pregressa e as experiências de passagem pelo poder e os pecados conhecidos de cada um, quem tem melhores condições de ser presidente da República?

Lembre-se Senadora, lá na solidão e no silêncio da urna; quando todo o poder está na mão de cada de um de nós, e quando experimentamos a maravilhosa e democrática liberdade de escolha, a sábia decisão que vamos tomar, repousa única e exclusivamente sobre a responsabilidade, o caráter e a formação ética e moral de cada um de nós. E Deus estará lá Senadora. Parado. Quieto. Apenas observando a escolha que vamos fazer.

Que Deus abençoe sua escolha, Senadora.

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27.07, 17h58
Diego Casagrande
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