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Artigos-->Se o vento levanta a batina -- 11/08/2003 - 09:19 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Protestos ocorrem em todo o mundo: homossexuais, bissexuais e pessoas que consideram a opção sexual direito individual participam de manifestações variadas contra o documento “Sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais”, divulgado pela alta hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana. Os manifestantes queimam cópias do documento.

O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Joseph Ratzinger, e o arcebispo Ângelo Amato, que assinam a orientação do Vaticano, admitem não elaborar elementos doutrinais novos; entendem “apenas recordar os pontos essenciais sobre o referido problema”.

Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento têm condenações explícitas ao homossexualismo. Assim está escrito no Levítico, 18:22: “Não se deite com um homem, como se fosse com mulher: é uma abominação”. Os homossexuais cristãos argumentam que os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João não atribuem a Jesus nenhuma orientação sobre sexo. Mas o tema é tratado de forma peremptória, no Novo Testamento, na Carta aos Romanos, 1, 24-27, onde Paulo de Tarso considera torpes e uma aberração os atos de homens que “deixaram a relação natural com a mulher e arderam de paixão uns com os outros”. Registre-se que Machado de Assis, na sua elegância de estilo e pensamento, tratou o homossexualismo com mais benevolência, em “Academias de Sião”. Escreveu ele: “Umas almas são masculinas, outras femininas. A anomalia que se observa é uma questão de corpos errados”.

Os autores do documento doutrinário realmente não fazem mais que reafirmar o que seus livros sagrados rezam. Trataria-se, portanto, de assunto pertinente aos adeptos do catolicismo. Mas o documento vai além, e quer interferir no ordenamento jurídico da sociedade. Arvora-se ditar regras e normas de conduta também para os não-católicos, pois pretende impedir o “reconhecimento legal às uniões homossexuais” e a habilitação para homossexuais “adotar filhos”.

A Congregação, autora do libelo de cerca de 2.900 palavras, considera que os “atos homossexuais vão contra a lei moral natural”. É uma divertida terminologia, que aparenta ser realista – porém, não existe lei “moral natural”. A moral é fruto da organização e desenvolvimento social dos humanos, e apenas dos humanos. E mais: a moral não é única nem ao longo da história e nem sequer num mesmo momento histórico.

Já a natureza não tem moral. Raciocinemos sem floreios idealistas, mas com a simplicidade do modo – desculpem o palavrão – materialista: Considerar que as ocorrências da natureza estão a serviço do bem ou do mal, seria considerar que a extinção dos dinossauros, por exemplo, foi um castigo, ou que a longevidade e resistência de um vírus, como o HIV, o Vírus da Imunodeficiência Humana, causador da Aids, é uma benção para o próprio vírus e um castigo para a humanidade – o que seria um completo absurdo.

O objetivo do Vaticano é deter a crescente aprovação de leis garantindo o direito à união entre homossexuais. A separação entre estado e Igreja foi resultado de longa trajetória na história das sociedades onde predominou o cristianismo. O batismo de Clóvis, rei dos francos (496), foi a origem da primeira nação católica do Ocidente e constituiu a primeira pedra das suas relações com a Igreja. O rompimento só começou a ocorrer quase 1300 anos depois, a partir da Revolução Francesa, de 1789. É um processo que ainda se desenvolve, e a reação do clero a esta separação continua se fazendo notar, como no atual documento.

O agravante é que a Igreja Católica está envolvida em uma série de denúncias de pedofilia – na maior parte, casos de padres que molestam meninos (portanto, homossexuais). Em 1992, foi denunciado que o padre James Porter, em Massachusetts, Estados Unidos, havia molestado mais de 100 crianças. No início de 2002, também nos EUA, em Los Angeles foram registradas 70 denúncias de abuso de crianças envolvendo 50 padres; a polícia de Boston registrou mais de 400 denúncias; acusações semelhantes surgiram em Saint Louis, Filadélfia, Detroit e nos estados da Flórida e da Califórnia. Em dezembro de 2002, o cardeal da Arquidiocese de Boston, Bernard Law, renunciou em conseqüência da denúncia de que os sacerdotes molestadores de meninos foram transferidos de paróquia em paróquia, para evitar que fossem punidos. Em 1º de maio de 2003, a Igreja Católica de Hong Kong admitiu que três de seus padres abusaram sexualmente de crianças. Assim como aconteceu nos EUA, a Diocese de Hong Kong foi criticada por esperar até que as denúncias se tornassem públicas para admiti-las. Também no Brasil e urbi et orbi casos semelhantes se multiplicam. Como cantam Edu Lobo e Chico Buarque, “o padre também pode até ficar vermelho, se o vento levanta a batina”...

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