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Artigos-->Será que vou ficar entre os eleitos? (sem meias-palavras) -- 06/07/2001 - 19:47 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
E eis-me aqui a "salvar o que sobrou da empreitada", como dizia eu mesmo na paródia da música de Assis Valente.



Não é fácil. É quase como preparar uma mudança. Quase um ano de convivência (?) no usina ! 600 e tantos textos! Nem eu imaginava tantos, nunca havia conferido! Fui lá, ao ranking dos autores com mais textos publicados. Que susto! Eu! Em terceiro lugar! Será que o feito pode contar a meu favor na hora h, no dia d, no momento do pênalti? Será que vou ficar entre os eleitos? E, se ficar, terei coragem de dizer não? Ou a caradura de dizer não? Em alemão, eu poderia dizer "jein", algo entre o "ja" e o "nein". Mas, aqui, infelizmente, somos obrigados a nos virar com uma língua mais propícia aos sofismas do que aos embates filosóficos propriamente ditos.



Um susto também reler, eu mesmo, alguns dos textos. A grande maioria foi escrita diretamente no site, sem filtro nenhum mesmo. Uma experiência, um risco e tanto. Até os meus filtros, outrora rigorosíssimos, foram para as cucuias. Vejo que me permiti de um tudo.



Mas é mesmo como rever velhos guardados. Um baú. É como se cada momento renascesse, com seu calor, com sua intensidade, com os bons e os maus fluidos que trouxe ou despertou.



Vejo que fiquei devendo aquele ensaio sobre a frase: "Não nos peçam para dar a única coisa que temos para vender".



Parece que, agora sim, a frase vai se impor. Ninguém mais vai dar por amor. Tem que rolar uma grana. Os autores que restarem terão participação nos lucros, a serem dividos (não sei em qual proporção) com o possível patrocinador. Foi o que me disse a Vânia Diniz num e-mail.



Já não será o caso de lançarmos mão de técnicas de marketing, merchandising, atrair investimentos, coisas outrora tão distantes do nosso despreocupado e parnasiano dia a dia de usineiros, eminentes produtores de inutensílios poéticos e de bate-bocas patéticos?



Por outro lado, aprendi a valorizar o trabalho de quem porventura tenha passado o tempo a abrir seus próprios textos. Só em pensar no tempo que se gasta... Além disso, há que se considerar o enorme desgaste emocional. Não é fácil esse reencontro consigo mesmo. Quase como contemplar, uma a uma, as fotos 3 por 4 que fomos obrigados a tirar ao longo da vida. E como diferem uma da outra! Aí é que se vê, nitidamente, o quanto o propalado realismo da fotografia é falacioso. E é inevitável que nos acometa aquela dúvida sobre nós mesmos. Serei eu eu mesmo? Com esse dilema, ressurge também uma questão nunca resolvida no usina , a da "ilusão enunciativa". O site praticamente se faz de vozes mergulhadas nesse caldo de incultura, nesse panorama ilusório, em que supostos freudianos (e eles chegam ao desplante de escrever sobre Freud!) insistem em se acharem senhores em sua própria casa. E babam frases como se fossem versos. E cospem frases-feitas como se saídas do seu estro.



Mas não vamos ficar assim num patamar tão elevado de considerações. Voltemos ao ramerrão. É hora de salvar o que sobejou da festa. Cada qual terá de se haver com a parte do pudim que não era apenas feita de espuma. Eu sigo aqui relendo, um a um, salvando, um a um, os meus textos usineiros, com pequenos intervalos para responder a um que outro e-mail. Uma palavra amiga aqui, uma frase condescendente acolá, enquanto tudo está a arder, a arder, a arder (não, nada disso, é só o verbo "arder"!), a consumir tantas vaidades. E eu entro e saio, correndo, esbaforido, sufocado, salvando páginas e páginas da pira que se avoluma. E vivo o drama daqueles que também estarão fazendo o mesmo, tantos poemas grandiosos em sua vã eloqüência requentada, frases cintilantes de vacuidade e impotência criativa, artigos tão-somente caudalosos, ensaios sem quaisquer anseios, teses sem nenhum tesão, cartas ao próprio umbigo, meu Deus, o que mais, as piadas mal contadas, textos de ocasião, daqueles que pegaram carona em tanta barca furada. E mesmo assim ainda tem gente com tempo para me enviar e-mails supostamente desaforados, desses que falam na verdade sempre mais do remetente que do destinatário. Meu Deus, será que o fogo vai consumir tudo antes de haver uma chispa de clareza? Será que seguirão mesmo achando que eu fui o gênio capaz de tantas invenções porcas, de tantos pseudônimos, heterônimos, codinomes, a sem-gracice imperdoável? Já não bastaria esse meu crime inominável de ter escrito esse catatau, essa maçaroca indevassável de textos que nem eu mesmo sei como farei para classificar na hora da separação do que é joio e do que é trigo? Já não bastariam as tantas traduções (traições)? Só por elas, eu já mereceria a pena máxima. E os meus plágios todos? Meu Deus, como as pessoas sabem ser exigentes!



Vejo que fiz muito bem em ler sobretudo a produção alheia. Vejo que aprendi bastante com o usina e com os usineiros. Agradeço ao meu próprio faro, ao meu próprio instinto (será talento?), não ter passado esses meses todos na mera contemplação da minha própria miséria, no ledo e ivo engano do meu próprio brilho fátuo. Agora, obrigado que sou a este balanço em meio às labaredas, ainda me sobra o festejo de ver que alguns dos meus melhores achados ainda vão ficar ilesos. Posso recomeçar. E, para quem ainda quisesse se lançar à aventura de localizá-los, já não haverá mais tempo. Eu repito, para encerrar, a frase de Cézanne: "Muito terá de se apressar quem quiser ver ainda alguma coisa".
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