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Artigos-->O meu amor nasceu assim do nada (soltando a franga) -- 06/07/2001 - 16:15 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O meu amor nasceu assim do nada, como todo amor de bolero ou de novela mexicanos. Nem mais nem menos do que isso: um cucaracha bem nascido. Viveu longe da dúvida e do desespero. Mas como? Andou por tantos ínvios caminhos, ouçam-lhes os acordes miseráveis; perseguido pelo riso amarelo-escarninho dos invejosos, ouçam-lhe os repentes de serepentes; pela caetânica seta preta do ciúme execrável de todos fracassomaníacos fracassados; pela falta de solidariedade dos outros solitários ex-integrantes da banda dos sargentos Pimenta do Reito e Malagueta. Grilhões a determinar-lhe o ritmo dos passos. Buracos a retardar-lhe o andar da carruagem, frustrando alguns pouco porcos que ainda não desistiram de acreditar no momento da transsubstanciação, capaz de devolver-lhes a abóbora pródiga que estava perdida.



O meu amor nasceu assim sem lei e nem decreto, longe das rubricas dos manuais, das previsões dos horóscopos, dos serviços de metereologia, longe das sanções e dos governos, das imagens sem futuro dos poetas sem nome, das libélulas e das existências decalcadas em efêmeras efemérides. Não um amor de catecismo ou de catecisminho. Não um amor de brinquedo, do tipo, digamos, folgo em sabê-lo. Mas tão-somente a busca insana que a cada nova manhã recomeça mais do que silvesterstallônica.



Quisesse alguém cantá-lo um dia, fosse em verso, fosse em prosa, não o faria sem que inventasse uma forma, um modelo diferente, porque ninguém (é assim que se diz, sempre), amou dessa maneira. Pelo menos, ao que me lembre, em technicolor.



O meu amor é um estandarte, uma bandeira, mastro de São João rasgado, fustão barato fustigado pelo vento, à mercê de algum futuro numinoso. O meu amor é serpentinas e confetes pelas ruas (perdoem-me o clichê: agora só me resta tocar em frente), no carnaval da vida. O meu amor é "cavalos soltos e chão,/ ruas cruzadas na noite/ por entre rimas em ão" (triste é eu ter de estar aqui a citar os meus próprios versos ilustres, sem nem saber se ainda são os meus depois de tantos lustros?). O meu amor é andaimes sem contornos, construções fora de medida, como tudo aqui parece que é construção e já me arruína.



É assim o meu amor, um ser sem nome, um não sei quê, um não sei onde, que foge às regras, evita a claridade, a divisão do tempo em horas vagas, momentos precisos e/ou preciosos. Desembesta pelas calçadas, sobe pelas paredes, escala os muros da Sorbonne infestados pelos urros dos surrealistas. Estatela-se em ruas asfaltadas. Pende esfarrapado de janelas e postes. Desabala-se, desanda em passeatas, procissões, périplos, féretros, caminhadas de pessoas com seu cooper feito. Passeia entre aclamações e gritos, sob a saraivada dos impropérios, dos xingamentos. Imiscui-se pelos vazios das estruturas narrativas e das normas poéticas, cochilos de censuras, repressões, sanções, coerções, gustavos corções e patrulhamentos ideológicos de matrizes e matizes os mais diversos. Nas bancas de jornais, ele se apaixona por uma bunda de capa de revista.



E os olhos de todos, meu amor, e os risos de todos, amore mio, se voltam para nós, mon amour,

e eles não sabem, meine Geliebte, e eles não admitem, morena-boca-de-ouro-que-me-faz-penar, e eles não desconfiam, bela-horrosamente-uma-úlcera-no-ânus, eles olham para nós, oh minha butterfly, querendo uma resposta. Ôrra meu!



Inútil consultar cartomantes, donos de cinemas que viraram igrejas, pastores pentecostais, mães dinahs, zés dos caixões, zés manés, praticantes do zé-bundismo, bolas de cristal, os próprios cristais, psicólogos da linguagem, pederastas, fornicadores platônicos, maníacos dos porquês, estudantes de fono, pedago e gineco, tomadores de ginkco-biloba, belas da tarde, psicanalistas e adeptos da filosofia clínica, praticantes de ioga, taek-won-do, jiu-jiutzu, hai-kai, harakiri e ikebana, da baixa teoria-literária e literaturas de escombros nobelizadas.



E hoje o poder absoluto e o anonimato ameaçam falar por nós ao mundo inteiro.



E volto ao título destas mal-acochambradas, destas àssombradadas linhas, my sweet lord, e me pergunto: Mas o que é a perfeição? Mas o que é a humildade?



Ah! meu amor, senhoras e senhores hipocritamente sinceros, apesar de, devo admitir, sinceramente hipócritas, poviléu, choldra, patuléia ignara, gangues esclarecidas, jovens atores de dorsos nus, principiantes bailarinas lacrimosas, diretores de teatro iluminados, sorry, porque apesar de não termos feito tudo o que não fizemos, já não somos os mesmos e nem vivemos como nossos pais.



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