Aproveitando os papéis
(Domingos Oliveira Medeiros)
Pegando emprestado o papel
De que Manezinho falou
No meio deste Cordel
Com toda pompa exaltou
Com pose de menestrel
Vou ser sincero e fiel
Foi o melhor comercial
O melhor papel revelado
De um artista global
Nada foi descartado
Foi competente e atual
No assunto abordado
Precisando da oferta
A oferta da semana
Fui a procura na certa
De quem já fez sua fama
E sabe onde a coisa aperta
E resolve e não reclama
Fiz do amigo o conselheiro
Pois o bom amigo é fiel
Sempre que vai ao banheiro
Não esquece o seu papel
De poeta e pioneiro
Desde o tempo de quartel
Desde a época que se usava
Esconder-se por entre as flores
Para ver se aliviava
A razão de tantas dores
E ainda por cima enganava
A mistura de odores
Passado, presente e futuro
Sem papel ninguém se atreve
Embaixo ou em cima do muro
Nenhuma linha se escreve
Nem voando de ultraleve
Tem que ser firme e maduro
O papel tem serventia
Posso escrever uma canção
Uma carta prá uma tia
Posso embrulhar um pão
Posso fazer poesia
Ou posso jogá-lo no chão
Mas só não posso afinal
É sentar no meu banheiro
Que esperei passando mal
Quase que o dia inteiro
Aguardando a hora fatal
Prá usar o meu dinheiro
Representando o papel
Que faltava no cesteiro
Isto prá mim foi cruel
Sujar um velho companheiro
Seu retrato no painel
Da nota de um cruzeiro
Depois vão dizer pelo mundo
Que a nota não vale nada
Que é um negócio imundo
Que é toda lambuzada
Mas eu não me chamo Raimundo
Jogue a nota na calçada