Sentir a dor física e moral de uma bolada no saco.
A tortura de ter que usar terno no verão.
O suplício de fazer a barba todo dia.
O desespero de uma cueca apertada.
Viver sob o permanente risco de ter que entrar numa briga.
Pilotar uma churrasqueira nos fins de semana enquanto todos se divertem.
Ter sempre que resolver os problemas do carro.
Desviar os olhos do decote da secretária, que se faz de distraída e deixa a blusa desabotoada até o umbigo.
A loucura de fingir indiferença diante de uma mulher sem sutiã.
Ter a obrigação de ser um atleta sexual.
Viver sob a eterna tensão da primeira broxada.
Ter a suspeita de que ela, com todos aqueles suspiros e gemidos, só está tentando nos incentivar.
Ter que reparar a roupa nova dela.
Ter que reparar que ela mudou de perfume.
Ter que reparar que ela trocou a tintura do cabelo de “Imedia” 713 para 731, que é um louro bege “salmon plus up light forever”.
Ter que reparar que ela cortou o cabelo, mesmo que seja somente um centímetro.
Ter que jamais reparar que ela tem um pouco de celulite.
Ter que jamais dizer que ela engordou, mesmo que isto seja a pura verdade.
Ter que conversar sobre aplicações, debentures, dólares commodities, euros, CDB’s e RDB’s, mesmo que o seu salário mal dê para chegar ao final do mês.
Trabalhar pra cacete em prol de uma família que reclama que você trabalha pra cacete.
Parar para almoçar no domingo na casa dos sogros, discutir política com aquele velho reacionário, tomando Kaiser quente porque é mais barata e não deu tempo de gelar.
Tratar bem os sobrinhos e se controlar para não dar na cara do irmão cara de pau dela, que veio pedir dinheiro emprestado de novo.
Depois elas ainda acham que é fácil, só porque a gente não menstrua...
Obs.: Texto recebido de meu amigo Norberto Correia (F.M.).
