Sábado, farei uma feijoada, disse a Edna, tô com vontade e vou por bastante coisa, a última que comi estava muito rala. A feijoada é um prato que consiste num guisado de feijão com carne, normalmente acompanhado com arroz, isso todo mundo sabe e cada um é mestre na sua, acrescentando outras iguarias. Melhor, acompanhada de uma caipirinha e de cerveja gelada. Acompanhei-a na tarefa singela de diminuir a quantidade na panela, o que não foi difícil assim. Fácil não foi ficar só no suquinho de uva.
Tá passando as Olimpíadas, vamos ver lá em cima, que é onde fica a televisão maior. Liguei na hora da prova dos quatrocentos metros medley, já pelos duzentos, com nosso nadador Thiago Pereira, que ficou com a medalha de prata, diferença de centésimos do terceiro. Aí, ouvi da Edna – o que é medley? É a mistura dos “nados”, respondi. Para não ficar no simples, desci, que é onde fica o nosso desktop, com o Google de todos nós. Descobri que medley não tem no dicionário Longman e no Wikipédia diz: O estilo medley é uma forma de uma competição que junta os quatro estilos de natação, ainda junta o medley em geral com pot-pourri, que é um modo de executar várias músicas em uma única faixa, tocadas uma após a outra, às vezes sobrepostas. Não contente ainda vi no Houaiss, ele confirma e afirma ser mistura de elementos heterogêneos, miscelânea. Ah, os quatro estilos de natação são borboleta, costas, peito e livre.
Nada mais medley que uma olimpíada, uma mistura de esportes, no caso, essa de Londres, esportes de verão. Ontem, ganhamos medalha de ouro, com uma judoca do Piauí, Sarah Menezes. Medalha de bronze, com Felipe Kitadai, também judoca e a de prata do Thiago, motivo desta crônica. Vi o Hugo Hoyama perder, o Diego amarelar, a seleção de vôlei penar para ganhar da Turquia, o basquete feminino perder, as provas de ginástica, sempre acho que o atleta vai cair ou se machucar, tal a rispidez dos movimentos. E a mistura de palavras, que você ouve nessa época, o tiebreaker, round, superação, lesões, duelo, set, saque, ace, rodada, quartas-de-final, slam, dor, alegria, medalha, hino, gafe, tombo, árbitro, juiz de linha, pivô, ala, rede, quadra, estilo, kimono, wazari, ippon, ponto, cheerleaders, garrafão, entre infinitas outras. Nomes: Zanayi, Satoshi, Dogboe, Phelps, Nur, Croácia, Louis, Hypólito, Robenilson, Uzbequistão, Panida, Neymar, Lochte, Sergey, Alison e Emanuel, Doppler e Horst, Cielo, menos o Galvão e a Globo. Daqui até o final, dá para listar mais de mil, milhares, ouro, prata e bronze.
Ouvir falar que a Olimpíada pela Record é chata já é de praxe, tem quatro Sportv transmitindo, mas só pelo cabo. Tantinho de notícias nos jornais da Globo e de outros canais e a Internet toda para a gente acompanhar, quase ao vivo. Medley também é a quantidade de comentaristas e especialistas, geralmente ex-atletas, agora sempre certeiros, ufanistas ou não, nunca erram. Deu certo, já tinham avisado; não deu, culpa de alguém. Também tem umas promessas, que nunca cumprem e vivem voltando, com o mesmo marketing. Os locutores sempre os mesmos, errando como sempre, fora as gafes. As dos governantes e dirigentes não cabem aqui.
Puxando pela memória, desde que nasci, já tivemos Jogos em Melbourne, Roma, Tóquio, Cidade do México, Munique, Montreal, Moscou, Los Angeles, Seul, Barcelona, Atlanta, Sydney, Atenas, Pequim e Londres. Mistura de cidades e países diferentes, com alguns boicotes pelo meio, fora os protestos e massacre, não querendo lembrar setenta e dois, na Alemanha. Vitórias, derrotas, frustrações e decepções, pois quarto lugar já é o primeiro dos últimos, nem que a medalha seja de diamante. Tantos atletas, competições, medalhas, juízes, dirigentes, tantos eventos e coisas, zilhões de números e estatísticas a comprovar que nada mais medley que uma Olimpíada, como já disse.
E a feijoada que tem a ver, ora, se ela não é medley, o que é então? Só acho que ela não deve estar na lista das comidas estimulantes, passíveis do antidoping, uma vez que ela dá um sooono. Talvez na modalidade de quem dorme mais, ela seja recomendada. Já ganhei ouro nessa disputa, hoje, nem bronze. Estou ouvindo a televisão falando dos jogos e vendo o sol deste domingo, vinte e nove de sete de doze, esperando almoçar o restinho dela, mais uns negócios diferentes, para subir e ver se teremos mais medalhas.