São poucas as coisas que odeio tanto quanto almoçar com alguém falando na minha cabeça. Chego cansada. Quero sossego.
Hoje cheguei do colégio e tomei um banho. Isso me relaxa muito! Fui à cozinha e vi que minha empregada não havia almoçado. Sempre peço para que não me espere. Ela disse que estava sem fome. Calada, como de costume, fiz meu prato. Quando dei a primeira garfada: "Pra você ver como tem gente ruim nesse mundo, né, Ju?". Com cara de quem literalmente comeu e não gostou, perguntei por quê. "Se você visse a tragédia que aconteceu lá no Simioni!". Percebendo que, cada vez mais, eu me interessava menos pela trágica história, pois não suporto saber do sofrimento alheio, NÃO SUPORTO, ela recuou. Depois de alguns segundos, louca para me contar a desgraceira: "Nem vou te falar, porque você está comendo, como foi que o pai matou o filho de três anos. Nem vou te contar".
Nossa! Como isso me faz bem! Obrigada! Saber "apenas" que um pai matou seu filho... tudo bem. Posso almoçar sossegadamente. Valeu, Marlene! Foi o que pensei, mas não falei porque sou boa, até o momento. Não encontrei meio de lhe mandar calar a boca e sumir da minha frente. Continuei em silêncio. Ela, não se cabendo: " Ele chegou em casa drogado, tentou pegar a mulher e os outros filhos, mas eles correram, o pequeno ficou. Sabe o que ele fez? Abriu o menino como se fosse um bicho. E o menino pedia para ele não fazer aquilo, pois o amava".
Se agora choro é porque pude assimilar o horror que ouvi. Na hora fiquei com tanta raiva dela e desse DESGRAÇADO! "PERDI A FOME, MARLENE!". Larguei meu prato e fui abraçar meu filho. Dizer que eu o amo muito. Pedir para que Deus o proteja sempre... Na verdade, fugi. É dor demais para mim! Não quero que entre. Depois da Isabella Nardoni jurei que não mais me deixaria abater por causa de horrores assim. E é o que estou tentando fazer para não ficar doente. Fico doente. Sério! EU FICO DOENTE!
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