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Cronicas-->Cronicas JA PUBLICADAS -- 10/05/2011 - 09:40 (Marcelino Rodriguez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Marcelino Rodriguez


"Sentimento ilhado, morto, amordaçado, volta a incomodar."
A voz de Fagner joga-me em funda melancolia, revolve coisas.... Bóias solitárias de coisas não vividas e não ditas, enganos irremediáveis... tudo no mar dentro da alma, tudo nas profundezas de mim... Em vão pensar um gesto, não dá mais.
A gente passa a vida toda lutando pra ser claro, pra ser correto, pra buscar ser límpido e temos que de tudo passar e ouvir...
Aquele adeus que não se teve, aquela palavra que não se pode dizer e a própria explicação que não conseguimos mais dar.
Horas ha´que cansamos e melhor fora que se deixassemos a canção falar sozinha e chegar a noite com seu véu.
Mas a melodia desperta o desejo de quem sabe vir um milagre em que a própria dor transforme-se em comunicabilidade. Porque sofremos de não sermos entendidos? Bem, alguém que já quis dizer mil coisas e não pode, alguém que já quis se explicar e não conseguia mais, alguém que em algum momento sentiu na pele a dor da fragilidade humana quando há os choques de pensamentos, de sentimentos e de atitudes, não pode deixar de sangrar o coração ao ouvir sobre esses sentimentos ilhados que levamos dentro de nós e brotam as vezes do nada, numa manhã inadvertida, numa tarde melancólica ou na noite profunda. "Sentimento ilhado, morto , amordaçado". Sim, eu sei o que é isso. Boa Noite.

Direitos reservados

A MULHER IMORTAL

Na bela noite de lua cheia, eu afogando-me na solidão e na virose que abateu-me por dias, reencontro-a na comunidade do Orkut...
Ela nem sabe que meu último livro foi dedicado a ela.
Há cinco anos não nos vemos; desde que, batendo continência a deixei na rodoviária, seu rosto melancólico na janela...
Linda e morena no seu sorriso iluminado, l á está ela no PC de chapéu de bruxa, com aquela atmosfera única que um dia foi minha, sua sensualidade discreta.
Relembro conversas.
- Que parte do corpo mais gosta em VC? - Eu perguntava.
-"Meu cérebro. È muito complexo."
Uma vez me perguntou:
- Vc se sente flutuando quando beija?
- Sim.
- Ah, bom. Pensei que era a única maluca...
Ela indicou-me, fazendo mistério, o filme "Tempestade do Século".
E uma vez, como recordo!, ficamos oito horas abraçados no sofá...
Agora revejo-a.
Não sei se é a mesma garota engraçada, com o mesmo senso de parceria. Se sou uma boa lembrança para ela.
Eu mudei. Sei mais das contas e do peso do mundo; estou tristemente mais sábio. Mas percebo hoje, na torrente exata das lembranças imortais que continuo lá no rodoviária, batendo continência à ela.
Sua volta era o combinado.
Descobri que o tempo passou, mas não ela...
Ficou como uma canção cantada por Sinatra, um filme nostálgico e profundo, uma cena de primavera inesquecível; a namorada perfeita de tão humana que era...
Não fomos nós que nos separamos, mas a fatalidade. Vontade de dizer: retorna.
De todas as mulheres, somente a lembrança dela é nobre e sem mácula.
Por isso essa bela lua cheia sobre minha cabeça, brilhando como uma eternidade na rua que ando solitário.
Vontade de dizer: vamos ao mercado, comprar macarrão com carne de porco , macarrão com óregano e vinho tinto.
O tempo parou no tempo dela.



Há quase vinte anos não via minha tia galega.

Decidi revê-la depois de um evento oficial importante da vida.

Fui acompanhado de uma mulher...

Quase vinte anos...

Ali passei dias da infància, entre pés de jambo, coelhos, pintos, o grande cão negro e
o cheiro próspero e próprio da Espanha, com sua "ignorància e sua intolerància", como diz o Almodóvar em O Matador sobre os espanhóis. Lembro-me que tudo que minha tia dizia ou berrava era quase uma "ordem religiosa".

Minha tia praticamente já me esperava na Varanda, com o eterno ar imponente. Mal viu-me e começou a falar mal de meu pai, que era um camponês mal-educado, enquanto ela foi uma moça educada na cidade. Eu, minha prima e a mulher escutávamos em silêncio.

Discorreu assim por quase meia hora, dizendo também que meu outro tio galego ganha duas aposentadorias na Espanha, se aproveitando do governo.

Eu ouvia atento e sem interromper.

Aquelas palavras eram sinceras, os impropérios das tias espanholas são sagrados!

Terminando de falar dos irmãos, perguntou-me, como quem havia me contado uma história infantil:

- Você gosta de peixe?

- Gosto sim, Tia.

- Então vamos comer peixe.

A empregada providenciou o peixe, que em tudo parecia ter a medida da minha tia. O peixe simples repartido praticamente em fartas partes iguais, a mesa posta para quatro, o singelo refrigerante, a janela aberta para o vasto quintal e eu reencontrando quase vinte anos depois, minha vida galega. Foi o melhor peixe que comi na vida. Os ossos do meu pai estão devidamente guardados no jazigo da família.

Talvez passe outros vinte anos sem ver minha tia ou sequer a veja mais, já que ela já conta seus setenta anos, mas o que importa não é o tempo, mas a qualidade do
encontro. Minha tia é uma autêntica tia espanhola, com tudo que vem implícito nisso.

Estranho amor, o nosso...




AINDA ONTEM ELA SORRIA
Marcelino Rodriguez

Noite fria. Solidão. Meu Mel viajou. O coração no exílio navega com Barbra Streinsend. Mar calmo, fundo e triste. Pensar que ontem ela me acordou com um sorriso. E que tão funda e feliz foi a impressão de vê-la pela manha que virei o rosto com vergonha que ela visse a intensidade do meu amor. Por que o amor nos mete medo? Sim, eu vi o mundo inteiro naquele sorriso. Queria dizer obrigado talvez. Por que ela sorria?Terá achado graça de ver-me dormindo? Agora tão longe e o mundo tão sem cor. Disse-me que precisa pensar. E se pensar errado, ou pouco, ou muito? Vejo-a além do tempo. Sinto a eternidade com ela. Pode o peito nos trair? Pode uma ilusão ser tão exata?O abraço de Mel, seus cabelos longos no travesseiro. Metáfora de Deus pra mim. E agora jogo xadrez com a solidão. Deixou-me um presentinho. Ela volta. Sim. Sei que volta...Senão de nada vale meus sentidos, nem meus sentimentos, nem meus instintos. Senão toda criação estaria errada e as estrelas despencariam do céu. O sol ficaria negro. Na verdade eu gostaria de dizer aqui o que não posso. O que não cabe.Entre a linguagem e o amor existe um abismo.Ou talvez seja tudo uma saudade...Canta Barbra. Me ajuda sobreviver...Ainda ontem ela estava aqui e sorria...Isso que bate ainda aqui será meu coração? Sim, o biológico. Mas o que há dentro dele vive em outro lugar. Só ela tem a chave. Minha liberdade e minha prisão nas mãos de uma mulher. Ninguém se pertence. Somos todos, maravilhosamente, filhos do amor. 14.07.2006
SOL DA MEIA NOITE Marcelino Rodriguez Os meus já se foram. Os que ficaram não são meus porque se traíram. No momento que escrevo isso, faltam exatos sete minutos para a meia-noite. O silêncio tece para mim a sua teia; acolho-o. Hoje pela manhã eu via extasiado num misto de melancolia com uma misteriosa saudade um slide sobre a Noruega. Montanhas e rios formando junto com as construções humanas um poema perfeito. Casas coloridas e opulentas. Fiquei imaginando "que povo organizado esse" e entristeci. E fiquei com a metáfora do sol da meia noite na alma. Aqui a "justiça" está em greve há mais de um mês, ou quem sabe a quinhentos anos. A justiça não tem ao que parece compromisso com o povo. Não imagino aqueles funcionários que abandonaram a população que paga seus impostos reivindincando nada mais que não sejam seus interesses. A miséria de toda ordem cresceu no Brasil. Estamos ilhados, solitários, fragmentados. Dentro de mim o pêndulo oscila entre o desespero e a esperança. Viver também é construir coisas coletivamente, gozar a convivência. Lá no fundo da alma eu tenho saudades da ordem e da felicidade. Acho estranho essa falta de comunicação, de afeto e a agressividade das gentes. O brasileiro na maior parte ainda não aprendeu a apreciar a vida, nem as pessoas. Passei um dia planejando um programa de engenharia humana para esse país. Dará certo? Não sei. Lançarei a semente. Talvez esteja condenado a plantar, também para salvar-me um sentido. São agora meia noite e dezesseis. Sinto-me como um farol perdido no meio do mar. Ou a torre de uma igreja extinta no deserto. Ou talvez quem saiba seja eu o sol da meia noite da cor de um crepúsculo velando sobre o país adormecido. UM ÉPICO DO CAJU AO RECREIO A cena não me sai da memória, como se eu estivesse participando de um filme épico, percorrendo lugares ermos, buscando um sinal que lembrasse-me a civilização. Era como se eu estivesse nos países mais pobres da Africa ou da Asia. Mais estava no Brasil, numa viagem de ónibus que vai do Caju ao Recreio dos bandeirantes, via Avenida Brasil. O trajeto abunda em outtdoors, indústrias, comércios variados, favelas, muita pobreza no ar, o que já deprime. Mais um fato que chamou-me a atenção sobremaneira foi que até chegar-se ao Barra Shopping, em mais de hora de viagem, olhando pela janela do ónibus, tentando entender aquelas paisagens amorfas, não se avista uma livraria sequer. Fiquei pensando na violência, nas relações genéricas de um país continental que não cultua livros como gênero de primeira necessidade. Como se relaciona a população sem leitura? Como pensar um povo sem cultura? Que futuro pode haver? descobri a pólvora nesse dia: falta cultura de livros no Brasil. Ou seja, o livro precisa ser descoberto. A população simplesmente não sabe que através do conhecimento poderia sanar parte de seus problemas. Não se relaciona livro com poder e dinheiro, curioso... Assim que a informação passou a ser meramente decorativa, com "bacharéis" sem literatura, daí a péssimaqualidade do funcionalismo e das trocas sociais em geral, incluindo um comércio cego e imediatista, religiões pitorescas, e a vida vazia do faz de conta do vídeo, com indivíduos abaixo da crítica, doentes. Monteiro Lobato, "descobridor do petróleo no país", provavelmente com senso livresco, dizia que um país se faz com Homens e livros. Eu diria que os homens se fazem com livros ou valores, pois são essas qualidades que alçam a humanidade acima do reino animal. Mais livros e se teria mais disciplina, menos violência, se gastaria menos em drogas e jogos, diminuiria a gravidez prolixa de pobres e adolescentes. Livro ensinaria a lei da consequência e a descoberta do outro. O livro é uma ponte entre o humano e o divino. Ou será que se pode pensar a humanidade sem livros? Eu diria até que certos homens são dispensáveis; livros, não. Aqui está a pólvora do mal brasileiro: pensa-se ser possível chegar a algum lugar sem informação. Onde fica esse lugar mesmo? Aliás, o que é lugar? Quem quiser descobrir um país (ou inventá-lo) tem que começar pelos livros. A falta de cultura é que engendra todos os males no país da minha mãe.

PSICANÃLISE DA MADRUGADA.
PSICANÁLISE NA MADRUGADA Marcelino Rodriguez Engraçado. Ocorreu-me agora que tenho muitos textos com madrugada no título, como se fosse uma sina. O caso é que outro dia topei com uma cena inusitada na cozinha. A culpa dessa cena é da lentidão do judiciário brasileiro, onde parece que os documentos a serem juntados aos processos são levados por burros. Um exemplo. Se um advogado mete um documento em Niterói que fica a trinta minutos do rio de janeiro, o mesmo levará dez dias para chegar ao Rio de Janeiro. Inacreditável? pois é assim mesmo que acontece, e a gente enquanto fica na dúvida se é pra rir ou pra chorar vai tomando esse fumo verde e amarelo de tudo quanto é jeito. O Brasil é um país sobrenatural. Então, como ia dizendo, eu fui na cozinha fazer não sei o quê, quando dei de cara com a cena e me senti abjeto... Um passaporte europeu com documentos em dia, válido para vários países, se tira em 30 dias. Aqui as três ou quatro contas bancárias que minha mãe deixou ainda estão presas um ano e oito meses depois de sua morte; desnecessário dizer que isso me traumatizou a ponto de eu estar pensando em me aposentar da "civilização" assim que receber o dinheiro. Claro que com o dinheiro preso, que o Estado presume que não se necessita dele, cheguei quase na bancarrota. Só não afundei na lama do desespero porque meu pedigree não permite baixar a cabeça nem se estiver sapateando no vómito. Mas perdi a fé, se é que tive alguma vez, em advogados, cartórios e todos os assuntos correlacionados a isso nesse país. Se não fosse levar 987 anos pra ganhar a causa (você quer rir ou chorar?) eu processava o município e os governos estadual e federal por maus tratos. Somatizei e acabei tendo que ir ao hospital público que na televisão funciona perfeitamente. Cheguei às nove da manhã e fui atendido, depois de já estar com uma estranha coloração azul, as duas e quarenta da tarde. Havia pedido um ansioliticozinho pra ver se a insónia melhorava, mas a médica disse que não poderia me dar porque ela não tinha autorização para dar a receita azul. Me senti ultrajado, enganado, pequeno, quase um verme. Receitas médicas com cores. Algum remédio aí doutora? _ "Nada". E nisso, para voltarmos ao evento na cozinha, quando deparei-me com a cena sórdida, invasiva e inusitada, pensei que era o inferno... Claro que com a crise económica que abateu-me , fazendo com que eu tivesse que cortar minha água mineral francesa Perrier e algumas das 9 espécies de carne que ponho no meu feijão, aquilo poderia acontecer com o passar dos meses... estranho que não lembro mais o que fui fazer na cozinha. Mas eu vi a cena e fiquei lívido, pálido, perplexo. Alguém já disse que toda tragédia vem anunciada? O caso é que um mês depois que uma devassa me abandonasse, os pisos da casa quebraram do nada. Todo especialista em miséria sabe que pisos quebrados trazem poeira e poeira traz bichos sórdidos como insetos de todo tipo e répteis asquerosos, como largatixas. Eu escrevo para entender o terror da vida, creio. Sei que sou um otimista bizarro, capaz de escrever frases como "até as caveiras estão rindo no cemitério". Sim, meu humor é bem estranho. Você poderia perfeitamente me ver na janela do Castelo dos Adams. E a cena da cozinha eu tinha que escrever pra entender. O que eu não consegui entender é porque a cena e a devassa vinham juntas à minha mente. Nào consigo entender qual a relação do que vi na cozinha com minha ex-namorada. A cena, digna de um oscar do Trash, eram duas baratinhas transando nos azulejos sujos. Fiquei vermelho ao ver aquilo. Um verdadeiro atentado ao pudor, dentro da minha casa. Pensei em abandonar o imóvel para sempre e fugir para a Patagónia, para o gelo, pra não ser humilhado pelas baratas. Não lembro depois da transa das baratas se surtei ou desmaiei; se as matei ou se fui andar na rua. Foi como um apagão. O que não consigo entender de modo algum é o que tem a ver as baratas transando nos azulejos sujos e minha ex-namorada?




* Marcelino Rodriguez é autor de "Bom Dia, Espanha", "A Ilha", "Café Brasil", "Mar, Romàntico Mar", entre outros. Recebeu o Prêmio Pèrgula Internacional.








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