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Artigos-->Da necessidade da paixão -- 07/07/2003 - 10:19 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A paixão pode ofuscar a razão. Esta parece ser a abordagem que mais atiça as conversas em torno da novela Mulheres apaixonadas, por exemplo. Mas paixão também significa o grande entusiasmo por alguma coisa ou atividade, e este seu significado ajuda a entender muito da realidade que nos cerca. No Memorial de Aires, Machado de Assis registrou que, quem inspira uma paixão, “deixa sempre algum gosto”. Francois de la Rochefoucauld, nas suas Reflexões, Sentenças e Máximas Morais, considerava as paixões “os únicos oradores que convencem sempre”. Unamuno, por seu lado, ditava que “somente os apaixonados levam a cabo obras verdadeiramente duradouras e fecundas”.

Nordestino que migrou do interior pernambucano para a zona industrial paulista, antigo militante no movimento sindical e apoiado entusiasticamente pelos ativistas populares na sua caminhada para a Presidência da República, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve um gesto de paixão ao colocar o boné do MST na cabeça, quando recebeu, no Palácio do Planalto, dirigentes dessa organização. Paixão também impulsionou a feitura de editoriais, favoráveis e contrários, abordando o ato presidencial. Não era, propriamente, a expressão de um sem terra desafiando um grande proprietário rural. Era, mais, a simbologia de um despossuído que chegou ao poder central, num episódio inédito de nossa história, incitando a apreensão dos possuidores. Ocupantes anteriores do Palácio nunca vestiram o boné, porque vergavam o topete da posse, da propriedade, num país conhecido internacionalmente pela profunda desigualdade social.

O italiano Antonio Gramsci, quando a Europa estava embrenhada na preparação e desencadeamento da II Guerra Mundial, escreveu, no cárcere fascista, que a concepção de paixão “deveria aplicar-se também à ‘guerra’ e, portanto, explicar a existência dos exércitos permanentes, das academias militares, dos corpos de oficiais. Também o ato da guerra é ‘paixão’, a mais intensa e febril, é um momento da vida política, é a continuação, sob outras formas, de uma determinada política; é necessário, pois, explicar como a ‘paixão’ pode-se tornar ‘dever’ moral, e não dever de moral política, mas de ética”.

A ação reflexiva, racional, envolve maturação, ponderação em atos, gestos, palavras. A paixão é o momento, o impulso imediato – não necessariamente impensado, pois corresponde também a objetivos e vontades preexistentes, a sentimentos que se acumulam, a desejos e aspirações latentes. Contradições existem entre um e outro, mas não antagonismos insolúveis. Num mesmo gesto, numa mesma atitude, numa única decisão podem estar presentes – e, geralmente, estão – instantes de paixão e reflexão.

O momento político atualmente vivido pelo país reflete as mais agudas contradições. Um homem de origem humilde, com escolaridade precária, com um histórico de vida sintonizado com aspirações de setores populares, à frente do Estado de um país que tem uma das mais dinâmicas economias do planeta, representa um deslocamento de forças no poder. Não por acaso, todos os partidos políticos e entidades representativas, situacionistas ou oposicionistas, buscam sintonizar-se com a nova situação. Pensadores e editorialistas contradizem num dia argumentos que brandiram dias antes. Fazem as contas de seus interesses e objetivos, calculam perdas, danos, ganhos e vantagens. Digladiam-se entre o impulso e a razão. Em qualquer caso, movem-se pela paixão.

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