Fui para o hospital com ela na minha cabeça. Pensando: estou internando para fazer uma cirurgia estética e a Roberta está cedendo a essa doença cruel.
Meu aluno do quarto ano perdeu a mãe no dia cinco de março deste ano. Dias antes dela falecer, minha coordenadora me pediu para que eu fosse muito carinhosa com ele porque sua mãe estava morrendo. Foi assim mesmo que ela falou. Não preciso de recomendações para ser carinhosa, mas saber que a Roberta, mãe do Gu, estava muito mal, fez que eu o olhasse ainda mais de perto. Tinha com essa mãe uma relação que me permitiu, um dia, mandar-lhe um beijo pelo Gustavo, e ele, muito animadinho, chegou no outro dia dizendo: tia Ju, minha mãe te mandou outro beijo, e ela saiu do hospital!
Após uma semana, ele chegou a minha mesa contando que sua mãe precisou ser internada novamente, pois não estava se alimentando. Ao ouvir essas palavras daquele garotinho, fui invadida por um desejo de chorar... disfarcei e perguntei: o que você está sentindo, Gu? Claro que a resposta não seria outra, mas o jeito que ele falou ainda me comove. Ele me olhou com uma expressão que expulsou meu aluninho e deu lugar a um pequeno homem sofrido, respondeu: tristeza. Meu coração estava moído e eu não sabia o que dizer. Afaguei seus cabelos, dei-lhe um beijo no rosto e disse que ele podia me procurar quando quisesse, se quisesse falar disso. Antes de voltar ao seu lugar, ele me perguntou: você tem quantas aulas com a gente hoje? Eu respondi que eram duas. Ele sorriu e gritou: oba! Essa interjeição foi carregada de tantas palavras... carregada de um sentimento puro de uma criança que está sofrendo a doença de sua jovem mãe e precisa de carinho!
Todas as vezes que escrevo o que mexe com as minhas emoções, choro. É como viver tudo de novo. Deparo-me com elas de uma maneira que não há como fugir. Dói; mas é bom. A vida é feita de emoções. Não podemos varrê-las para debaixo do tapete e viver como mortos-vivos. Você, como encara suas emoções? O que anda fazendo com elas?