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Cronicas-->2011 - Estradas que ilham -- 11/01/2011 - 08:00 (Jairo de A. Costa Jr.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quinta passada, seis de janeiro de dois mil e onze, fui a São Miguel jantar com a Dona Cida e trocar umas idéias. Dei uma volta pela cidade, jantei e o tempo: um Vurcão só, como diria meu pai. Mesmo assim, falei - vou dormir em casa, tchau. Tome cuidado, vá com Deus... Saí pelas nove. Mal passei o trevo ali da saída de Pilar, o tal do Vurcão desabou e eu não enxerguei nadica de nada por uns trinta quilómetros, que chuva, consegui andar a uns trinta, quarenta por hora e me guiando pelos matinhos da lateral da estrada cheguei ao trecho, revitalizado até Salto e aí, tudo melhorou. Pista nova, etc e tal.

Foi o suficiente para me fazer voltar no tempo e lembrar-se das estradas de São Miguel. Neste mesmo pedaço andei muito com meu pai, com batata e adubo, quando vazio eu até dirigia. Mas, de caminhão era diferente e essa chuva aí nem deixava passar. Fião, vamos carregar lá na Justinada no sertão. Se sol, uma beleza. Com chuva, lá ia eu pegar a corrente. É. A corrente era indispensável, eu adorava, dava um rali e tanto. Meu pai era bom de barro, geralmente a gente chegava e carregava. Até se pagava mais nas cargas do Kamitori, Saburo e Ada. Depois, quantas vezes fiquei na Capela do São Roque, tomava uma Malzbier com açúcar e voltava a pé para casa. Dependendo da chuva, eu ia até São Paulo prá ajudar no caminho. Duas opções, por Piedade ou por Salto, que era bem pior. Era assim a ligação de São Miguel com São Paulo. Uma aventura, eu achava, ainda mais quando comia churrasquinho com queijo no Geraldo em Piedade.

Mais criança, ouvia muita falação sobre carregar tora e carvão, lá no Taquarabaixo, que sofrimento devia ser, mas, não sei porque, aquilo me parecia uma coisa maravilhosa, uma luta de pioneiros com uma vitória em cada carga. Subi em primeira reduzida, passei na água, com tantas toras e tantos sacos. Passei sem corrente e sem puxar. E assim por diante... Hoje, eu sei. O problema sempre foi com as estradas ou falta delas. Mais tarde, sessenta e nove e setenta, nós andamos muito pelo lado do Turvinho, nas terras da Pintada, onde o Nório plantava batata. Meu, eu achava lindo aquele barrá todo. Parava o onzetreze, encorrentava, ele entortava prá lá e prá cá. Parava e dá lhe enxada e enxadão com terra mais seca nos pneus, só assim o caminhão andava, dia inteirinho. Depois, quando saía do batatá, ainda tinha a subida do Ayoagui e do Gijo, entre outras. Uma época ficamos uma semana puxando uma terra especial, com mais outros caminhões e as máquinas da prefeitura acertando elas. Ficou bom, nem corrente precisava mais nessas subidas aí.

E assim era, para chegar ou sair de São Miguel, naqueles anos, nessa época de chuva. Por qualquer uma das estradas ou caminhos. Depois, fui morar em São Paulo e enfrentava isso uma vez por mês. Mas, o asfalto foi chegando, primeiro Gramadinho, depois Pilar e as vicinais. O rali, então, passou a ser pelos buracos, pela falta de manutenção. Nunca reclamei. O fato de voltar à cidade, revê-la e o convívio famíliar sempre compensou tudo isso. Além disso, estrada ruim era um problema brasileiro. O quanto eu fica imaginando, quando ouvia a dificuldade de se chegar em Porto Velho, Cuiabá, Belem do Pará. Isso sim era uma aventura e quem se arriscava a ir, só caminhão toco, ganhava dinheiro. Alguns motoristas conhecidos nossos enfrentaram isso aí tudo. Uns heróis. Carcule as histórias do Jairo, quando ele voltava. Gostava muito de ouvir de Jaguarão, lá na fronteira com o Uruguai.

Bão. Tudo quanto é estrada ruim parece estar se resolvendo e, hoje em dia, chegamos nessas cidades todas por asfalto, em carretas bitrem e rodotrem, tirando uns percalços aqui e ali. Mesmo assim, temos que reclamar mais e mais, nosso transporte é rodoviário. Os caminhões rodam e rodam, são cada vez maiores e melhores. Trabalho em Piracicaba, hoje cercada de estradas pista dupla, exceto a Rodovia do Açúcar. Vou e volto de São Paulo, só por pista dupla, embora pedagiadas. Outro dia, estive no norte do Rio, não caí em nenhum buraco, ida e volta. Sem mais loas, só uma evidência que as coisas mudam.

Com já disse, quinta, quando o Vurcão desabava em cima de mim e eu voltava no tempo, achando uma beleza São Miguel ser uma ilha, no meio de estradas de terra e de barro, que eu amava, na minha meninice, por achar tudo uma aventura, eu caí em mim. De fato, nunca foi uma beleza essa questão da ilha. Pelo contrário, isso sempre foi um atrapalho. Agora, caí mais em mim ainda, pensando mais no assunto. Quando cheguei no Gramadinho e saí da pista dupla, vi que a estrada está parecendo a de antes, mais com a voçoroca se formando ali no alto do Nhoca. Até Pilar, então nem se fala, só buraco. Depois, até Salto, ela foi reconstruída ano passado.
Caindo em mim, ainda mais, me parece São Miguel continuar essa ilha, o que não é a sua vocação e eu não posso gostar. Não é uma aventura. É um grande atrapalho. Reconheço nesta segunda, dez de janeiro de dois mil e onze. Não podemos continuar sendo esta ilha...
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