Tá certo que os jornais, quando falam de ciência, o que é bastante raro diga-se de passagem, costumam ser bastante econômicos. Oxalá fossem tão científicos ao falar de economia!
A FOLHA CIÊNCIA é aquele miserê danado, algumas notinhas enfiadas à força, às vezes tão-somente para sustentar os três quartos de página que vêm abaixo, e que fazem anúncio do avanço dos preços do nosso passo de cágado científico-tecnológico.
Nesta segunda-feira, 25/06/2001, logo abaixo de uma manchete que propaga a versão ciência [sic] da TV inglesa para No Limite [sic: com a mesma intimidade com que se tratam os artefatos televisivos de grande sucesso], a foto e a notícia de um avião movido a energia solar, criado pela Nasa. Detalhe na legenda da foto: o avião voa (N. do L.: convenientemente) não-tripulado.
E, como ainda sobrava um cantinho, bem no meinho, enfiaram esta notícia-bomba: "Geólogo acha fungo que se alimenta de CDs".
Pois foi o que mais comoveu, além do sempre comovente FOLHATEEN [fico devendo as minhas "boas" explicações num próximo artigo], na Folha desta segunda-feira.
(Abro parênteses para os pensamentos, mais do que legítimos, de alguns leitores deste artigo não-leitores do jornal: "Beeeem feito! Quem manda ler porcaria! Mas não vou fechá-los sem antes recomendar a leitura, neste mesmo site, de "Poetas: moscas varejeiras sobre lixo reciclável", de minha diligente autoria. Fecho.)
Não sei se perceberam o porquê da minha comoção com a notícia desses fungos. E insisto em manter-me comovido pelo maior tempo possível. Não deve tardar a notícia de que esses fungos, na verdade, se dividem em malignos e benignos. Os malignos certamente serão os que mais rapidamente se multiplicam e se propagam, devorando o que há de melhor na produção de CDs, especialmente música erudita, instrumental e popular da melhor qualidade. Já os benignos seriam, com toda certeza também, muito pouco resistentes. Jamais dariam conta do tanto que há por devorar nessa voragem que é a produção da baixaria dita musical das mais variadas procedências.
A notícia diz, inclusive, que os fungos só se desenvolvem em condições de alta temperatura. O que me faz acreditar na hipótese tenebrosa de que em muito pouco tempo venham a demorar o alimento principal das nossas orelhas. Se bem que, além da alta temperatura, a umidade excessiva também contribui para o desenvolvimento deles. Mais uma esperança. Ficaremos livres, pelo menos, de toda a choradeira romântica, esse bolor-bolero que acabou transformando a sigla MPB nisso a que ela ficou relegada.
Mas os fungos noticiados pelo Folha Ciência são apenas o primeiro caso documentado de fungos que atacam CDs. A notícia microbiológica termina com um alerta: "Relatos semelhantes estão chegando de todo o mundo."
Resta saber como reagirão quando expostos aos CDs piratas mais descarados. Esses que se vendem nos postos de abastecimento das nossas rodovias a "3 por 5 real".